Mais um Dia dos Pais chegou, antes do mais nada quero desejar um excelente dia a todos, que curtam muito com seus pais e filhos. Feliz aquele que tem os dois presentes na vida.

Sempre foi uma época muito importante para mim, não por meu pai, mas por mim mesmo já que é o período de meu aniversário. Fiz aniversário dia 9, ontem. Nesse ano um dia antes do Dia dos Pais.

Dia dos Pais mais do que especial para mim. Por todas as conquistas que tive nesses últimos 12 meses, conquistas que vieram depois de momentos dramáticos. Pelos dois filhos maravilhosos que tenho hoje. Um casalzinho que faz toda a diferença na minha vida e que amo cada vez mais. E pelo pequeno Gabriel, meu pequeno guerreiro que fez um ano ontem. Um ano de lutas, sobrevivência e vitórias.

Vejo as relações entre pais e filhos, todo o carinho e amor entre amigos, conhecidos ou mesmo pessoas que observo e acho bacana. Mais do que achar bacana finalmente consigo entender. Consigo entender porque costumo dizer que sou órfão de pai e mãe: a diferença é que só minha mãe morreu.

Meu pai é um cara vitorioso, assim como Gabriel. Sofria grave problema de alcoolismo que fatalmente um dia lhe levaria à cova. Um dia, do nada, decidiu que iria parar de beber e parou. Isso já faz 19 anos. Parou de beber por conta própria, sem procurar por AA nem nada parecido e nunca mais voltou. Sem dúvidas, uma grande vitória.

Meu pai é uma pessoa popular. Querida pelas pessoas da área, com uma série de amigos, ninguém tem um A para dizer dele. Pessoa carismática, ex passista do Boi da Ilha, meu pai é um cara tão gente boa, tão boa praça que até mesmo eu procurava atenuantes para ele.

Não lembro do meu pai em uma festinha minha de colégio, acho que aqui em casa veio em uma. Não me lembro de ganhar presentes dele nem de receber um feliz aniversário ou feliz Natal. É, para as pessoas comuns parece estranho saber que um pai nunca desejou ao filho um feliz aniversário ou feliz Natal. Mas foi assim com a gente e sempre respondi “É meu pai, gente boa, ta tranquilo. Não era preparado pra ser pai”.

Mas aí eu virei pai e percebi que a situação não era bem assim.

Se ele não era preparado para ser pai, eu menos ainda. Eu não tinha obrigação nenhuma, poderia estar na minha sem preocupações em criar ninguém, com meu dinheiro todo pra mim e procurei essa responsabilidade. Me estresso no dia a dia para criar os dois. Conto moedinhas, deixo de fazer coisas que gosto, tudo para que eles sejam crianças felizes, se eduquem e não falte nada. Deixo de comprar uma coisa gostosa para comprar pra Bia, deixo de sair de noite para tomar conta de Gabriel e faço isso tudo com satisfação.

Sinto saudades deles, me emociono ouvindo gravação da Bia cantando em meu celular, passei madrugadas em hospitais com Gabriel e cada vez menos entendo meu pai. Entendo menos ainda o fato dele ter dois netos maravilhosos e nunca ter vindo aqui em casa conhecer o dois. Falo nem do Gabriel que fez um ano, mas a Bia que fez cinco em maio.

Mas compreendo. Só moro nessa casa há trinta e oito anos, muito pouco tempo.

Aí eu amplio o horizonte e lembro que desde que minha mãe morreu o único familiar paterno que me procurou foi um tio para vender vassouras. Pior que teve uma época que pessoas me cobravam dizendo que tinha que procurar meus avós. Mas não adianta. Não adiantam nomenclaturas quando não se cria o afeto.

Esse texto de hoje não era para ser tão pessoal, mas acabou sendo apenas para dizer que assim como eu praticamente não tenho relação com meu pai e tenho uma intensa com meus filhos acredito que nós, eu e vocês leitores, temos que aproveitar muito essas relações pai e filho.

Ninguém sabe o dia de amanhã. Ninguém sabe o dia que perderemos nosso pai ou que não teremos mais saúde para brincar com nossos filhos. Comecei a fazer caminhada, dieta, me cuidar não por visual – claro que isso também faz bem, mas por eles. Para ter uma vida saudável ao lado deles onde eu não falte tão cedo e possa brincar com eles.

Uma simples brincadeira como jogar bola ou polícia e ladrão vale mais que um sermão. Nesses pequenos momentos como acompanhar juntos o futebol, jogar botão, conversar tratando o filho como igual, não um retardado e conquistando a sua confiança a ponto de ser seu porto seguro nas dores de coração que levamos para nossa eternidade.

Nada adianta termos muitas conquistas pela vida, seja profissional ou financeira, se somos derrotados dentro de casa.

Somos extensões de nossos pais que passam por nós e vão até nossos filhos. Reflexos ligados por espelhos que se eternizam através de um olhar que mostra a alma. Não uma alma, mas a alma porque descobrimos que todos temos a mesma alma.

Não tenho mágoa de meu pai. Meu coração tem tanto amor por meus filhos que não cabe esse sentimento nele. Tenho pena. Pena por não ter vivido comigo o que vivo com eles. Pena que não quero sentir de vocês então encerro aqui a coluna e faço um pedido. Desliguem o computador e vão brincar com seus filhos que o dia hoje é de vocês.

Que todos os dias sejam nossos.