A primeira Copa de que me lembro, sem sombra de dúvidas, é a de 1994. Foi a primeira que colecionei (e completei) o álbum, foi a primeira que me lembro de ter jogado no vídeo game e foi a primeira em que me lembro de muitos detalhes dos próprios jogos que aconteceram. Foi a minha primeira.

Portanto, não posso enganar o meu coração a ponto de dizer que meu jogo inesquecível de Copa do Mundo não tenha vindo daquela em especial. É claro que foi. Aliás, vários dos meus jogos mais inesquecíveis aconteceram na Copa dos Estados Unidos. Eu podia citar o pênalti isolado do Baggio e que logo depois disso comecei a chutar uma bola “dente-de-leite” na porta da casa da minha avó. Eu podia mencionar que após o gol do Romário, nas semis, eu fiquei pulando na cama, para tentar imitar o Baixinho naquela impulsão incrível que nos colocou na decisão. Uma Copa verdadeiramente inesquecível. Não à toa, estou aqui me lembrando dos jogos nesse momento.

Mas a minha escolhida, aquela que mais me marcou, de longe, foi a partida que de quartas de final: Brasil 3 x 2 Holanda. O golaço de Romário (considerado o mais difícil de seus 1002 na carreira, segundo ele próprio), o “nana, neném” de Bebeto e a bomba de Branco. A bomba de Branco. O tiro de Branco.

Branco 94Para quem não sabe, esse colunista aqui torce para o Fluminense. E tem memórias afetivas do tricolor desde 1993. Portanto, me lembro bem de Branco atuando pelo meu clube. Aquele gol, tão importante para o Brasil, foi especial para mim e para a torcida tricolor até hoje. Quando Branco pegou a bola e se preparou para bater, meu pai me cutucou e falou “tá lá”. Se fosse nos dias de hoje, eu daria um safanão nele, porque esse tipo de frase nunca dá certo. A bola sempre vai para a lua. Mas eu era garoto e confiei nas palavras dele. Quando a bola entrou, saímos berrando, meu pai me pegou no colo (naquele tempo, eu e ele podíamos fazer isso) e começou a me tacar para cima (calma, Xuxa, foi com cuidado, carinho e amor). Gol do Brasil. Gol do Fluminense.

Mas aquele jogo, além da emoção toda descrita, ainda teve um fator frustrante para mim. Descobri que eu era um tonto. Explico.

Lembro-me de, antes da Copa, por ser moleque ainda, ter feito uma associação esdrúxula quando o assunto era Seleção Brasileira. Na época, o Fluminense tinha um zagueiro, o Márcio Costa, que fora convocado por Parreira para uma série de amistosos daqueles que só jogadores daqui são chamados.

Não sei por qual motivo, associei então que “zagueiros” eram aqueles que jogavam pela Seleção Brasileira. Levando-se em consideração, ainda, que meu pai falava tanto em Ricardo Gomes, a afirmativa me parecia muito razoável. Voltando ao pós-jogo de Brasil x Holanda, orgulhoso pelo gol de um jogador do Fluzão, comecei a falar com meu pai: “que bom que a gente tem esse zagueiro, né, o Branco! Ele não pode sair nunca do Flu!”.

Foi depois daquela frase (e de sinceras e sonoras gargalhadas de meu pai) que descobri o que era de fato um zagueiro. E o que era lateral, meia, atacante e por aí vai. Só não sei o que é zagueiro-zagueiro. Acho que nem o Odvan deve saber. Talvez o Thiago Silva levante essa taça no mês que vem e explique ao mundo de vez o que é.

[N.do.E.: abaixo, uma explicação do que é “zagueiro-zagueiro”. Com vocês, Alê. PM]