Neste domingo o compositor Aloisio Villar fala sobre a contratação de Paulo Barros pela Mocidade Independente de Padre Miguel.

A identidade Barros

E Paulo Barros foi para a Mocidade.

Já era uma notícia que circulava pelo mundo do samba e mais ou menos esperada, mas mesmo assim causa impacto. Afinal, o carnavalesco mais aclamado da folia carioca nesse século trocava uma agremiação na qual tinha um casamento perfeito e sequência de grandes resultados por uma que  há alguns anos enfrenta crise e briga contra rebaixamento.

Mesmo essa sendo a gigantesca Mocidade Independente de Padre Miguel.

Algumas perguntas ficam no ar: qual será o futuro da Unidos da Tijuca? Como ficará o arranjo de forças do carnaval carioca?

Qual será a identidade de Paulo Barros na Mocidade? Justo na escola que mostrando sua identidade mostrou a verdade a essa gente. Escola grande que tem sua identidade própria, independente de carnavalesco.

Não sou adepto da catástrofe como muitos que apregoam o fim da Tijuca. Incrível como muitos falam isso até felizes, vibrando. É aquilo, uma escola de samba só é querida, amada, enquanto não ameaça. Quando ela começa a vencer logo ganha antipatia e certa inveja.

A Unidos da Tijuca, como disse numa coluna recente, é a grande força hoje do carnaval, detém o poder e mesmo que se enfraqueça sem o Paulo não pode ser descartada de cara. Me parece hoje uma escola profissional, bem administrada e organizada.

Muito desse crescimento, claro, se deve ao período Paulo Barros, mas acho que a Tijuca soube se organizar pra crescer junto com  explosão de seu carnavalesco. Tanto que vejo mais o dedo dele no boom da parceria em 2004, 2005, até mesmo o título de 2010 que em 2012 e 2014 que mesmo com o enorme mérito de Paulo Barros me pareceram títulos da escola como um todo.

Ao contrário da Vila, campeã incontestável de 2013, não ocorreu debandada na Tijuca. Saiu sim seu grande craque, mas por enquanto só ele. Os coreógrafos da comissão de frente – sempre tão elogiadas, por exemplo, continuam [1].

A Tijuca pode em vez de seguir o exemplo da Vila seguir o da Beija-Flor que era nada até a chegada de Joãosinho Trinta e seguiu poderosa com sua saída. Soube crescer junto com seu carnavalesco.

20140304_051740Dizem que a Tijuca foi bem avaliada esse ano em alguns quesitos em que poderia perder pontos devido ao nome Paulo Barros. Não sei. Quem realmente tem moral na Liesa? Paulo Barros ou Fernando Horta? Ninguém sabe ao certo os meandros da Liesa, mas uma coisa é certa. O português tem moral.

Se não tivesse e o queridinho e fosse apenas Paulo Barros teriam dado um jeito antes de colocar o carnavalesco em outra escola. Aliás, nunca é demais lembrar que ele já saiu da Tijuca antes. Foi para a Viradouro que na época tinha dinheiro, força política, era uma das escolas de ponta no carnaval e fracassou de forma retumbante a ponto de “lhe enfiarem” na Vila para não ficar sem emprego e no  ano seguinte ter que voltar pra Tijuca.

Vai fracassar de novo?

Não sei. Ele amadureceu e a Mocidade não é a Viradouro. Cada uma tem sua característica. Só posso dizer que para Mocidade foi bom demais.

A escola vinha se apequenando nas mãos de Paulo Vianna, a cada ano menos cogitada entre as favoritas, mais próxima do Acesso e parecia inerte, sem forças. Mudaram o presidente, entrou o controvertido contraventor Rogério Andrade, cercado de polêmicas e com situações em relação a ele e principalmente a quem exalta a ele, mas que não cabe discutir aqui.

Só dizer que parece que carnaval é salvo conduto. Parece que nele é permitido exaltar aquilo que nos indigna no restante do ano.

20140303_220618Mas enfim. Ele é o presidente e parece querer tirar a Mocidade dessa inércia. Sacudiu o mundo do samba como faziam seu tio Castor e primo Paulinho, mostrou que  a Mocidade está viva e já fez da agremiação a mais esperada de 2015.

Movimentação brilhante.

Mas o que esperar de Paulo Barros?

Que ele seja Paulo Barros. Mantenha sua identidade. A Mocidade lhe contratou para ser esse carnavalesco atrevido e genial que foi na Tijuca. Com todos seus fatores hollywoodianos e “MichaelJackização” dos desfiles. Que ele não tente imitar Fernando Pinto, Arlindo Rodrigues e Renato Lage.

A Mocidade tem sua identidade que é ser atrevida, inovadora, mesma identidade do Paulo Barros. Que conciliem suas identidades e levem a Mocidade de volta à briga pelo topo.

Torço principalmente que sua ala de compositores, muito boa, seja preservada. As escolas que passaram pelas mãos de super carnavalescos como Joãosinho Trinta e Paulo Barros costumam apresentar sambas sofríveis. Talvez pela vaidade exacerbada desses gênios.

Começou o carnaval 2015.

[N.do.E.: após o fechamento da coluna tornaram-se indefinidas as situações dos coreógrafos de comissão de frente e do mestre de bateria Casagrande. Possível que ambos saiam da Tijuca.]

3 Replies to “Orun Ayé – “A identidade Barros””

  1. Perfeito, Aloisio. Só quero expor meu ponto de vista em duas frases suas:

    “É aquilo, uma escola de samba só é querida, amada, enquanto não ameaça. Quando ela começa a vencer logo ganha antipatia e certa inveja”.

    Pessoalmente, dou o exemplo da Beija-Flor. Eu adoro a escola, adoro a força da comunidade, mas o que me causa paúra são seus torcedores. É o mesmo exemplo da Unidos da Tijuca, foi com a Imperatriz e será assim até com a União da Ilha.

    “Só dizer que parece que carnaval é salvo conduto. Parece que nele é permitido exaltar aquilo que nos indigna no restante do ano”.

    Infelizmente, a Mocidade já está sendo tachada de “escola de contraventor”, como se mais nenhuma fosse. De uma hora pra outra, se esqueceram de Anísio, Luizinho e companhia limitada.

    Fazer o quê…

    Mais uma vez: brilhante texto!!

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