A coluna de entrevistas com mulheres do samba do compositor e advogado Alexandre Valle nos traz uma lição de vida hoje, exemplo para muitas outras mulheres.

Negralu

Nome: Negralu. Função: Provar que, apesar de todas as intempéries da vida, sempre é possível mudar pra melhor.

Nossa entrevistada de hoje, NEGRALU, costuma repetir uma frase (“Já fui Luciana. Hoje, me chamo NEGRALU”) que, a princípio, pode parecer despretensiosa e sem maior profundidade, mas ao ser pronunciada pela própria, olhando nos olhos de seu interlocutor, passa a sensação de que algo realmente aconteceu para torná-la uma mulher diferente, como se carregasse consigo a determinação e a coragem dos felinos quando miram seu alvo.

A história de vida dessa carioca de 33 anos, nascida em Jardim América, é uma demonstração de superação constante e incansável.

Vencedora do concurso “Passistas World” no quesito “Glamour”, ela que hoje é Madrinha de Bateria DO G.R.E.S. Pingo D`Água, agremiação de São Gonçalo, percorreu uma verdadeira via crucis até conquistar seu espaço na mídia e reconquistar sua auto-estima e a felicidade de viver; mas para essa guerreira, filha de Ogum com Iansã (duplamente guerreira, portanto), não existe a palavra “impossível”.

Após perder o pai, aos oito anos de idade, por suicídio, a então jovem Luciana, com apenas 15 anos,  se apaixona por um traficante que veio a  morrer em um tiroteio com a polícia. Aos 18 anos, conhece um novo companheiro, com ele se casa e engravida de seu primeiro filho, Luiz Carlos. “- Enfim, a tempestade passou…”, pensou a passista da Caprichosos de Pilares. Ledo engano. Logo após o nascimento do bebê, sua mãe veio a falecer.

Some-se a isso o fato de que, nessa época, a modelo estava com exatos 118 quilos, infeliz no casamento, acometida de depressão e ouve, por telefone, ao vivo, um ato de traição de seu marido – o que foi, inclusive, recentemente, objeto de entrevista no programa “Amor e Sexo”, da Rede Globo de Televisão.

Como superou tudo isso, como se transformou nessa bela mulher de hoje é o que saberemos agora, em nossa entrevista.

481309_373589369367196_2146238630_n[1]Ouro de Tolo: Negralu, conte pra gente como foi essa reviravolta em sua vida. Como foi essa separação e como você emagreceu dessa forma e construiu um novo corpo.

Negralu: Meu ex era daqueles homens que gastava todo dinheiro que ganhava com jogos, bebidas, orgias e tinha um celular que atendia automaticamente depois de tocar três vezes.

Foi então que eu ouvi durante 30 minutos a traição da parte dele, mas, claro, negou até o fim. Como sofria de depressão, resolvi mudar minha postura, voltei a estudar e comecei a frequentar cursos na área da enfermagem – hoje sou técnica de enfermagem e presto serviços à Petrobras.

Quando passei a me amar mais, a me valorizar, surgiram, ao mesmo tempo, as brigas. Parecia que ele queria ter sob o seu domínio uma mulher frustrada, fragilizada. Por outro lado, minha família era contra a separação (“nossa família não tem mulheres separadas”, diziam), mas tive que tomar essa decisão porque o casamento nunca foi um sonho, mas um refúgio pela perda da minha mãe.

Ouro de Tolo: Mas você teve ajuda de algum profissional de saúde?

Negralu: Claro. Procurei um endocrinologista que me acompanha até hoje, e perdi 40 quilos, com a ajuda, também, da academia, que faço até hoje. Quando completei 25 anos, engravidei novamente e gerei o Cauã, meu caçula, mas mantive o cuidado com a saúde e com o corpo.

Ouro de Tolo: E quando você adotou o nome Negralu?

Negralu: Na verdade, criei esse nome artístico porque ele me soava como “libertação”, não me pergunte porquê, mas fiz essa associação.

Ouro de Tolo: E como o Carnaval entrou na sua vida?

Negralu: Em 2010, fiz meu primeiro desfile pela Caprichosos, onde tudo começou e, nossa… como brinquei e me soltei…

Descobri que, definitivamente, era outra pessoa. Dois anos depois, convidada a integrar a Ala de Passistas da escola de Pilares, me destaquei e acabei sendo convidada também para ser a Musa do Site Carnavalesco. Meu Deus, já não queria mais parar!

Ouro de Tolo: Claro que a partir daí sua rotina mudou radicalmente, não é?

Negralu: Sim. Comecei a receber vários convites para ensaios fotográficos, como um da National Geographic (fizemos no Arpoador, ficou lindo…), fotografei com muita gente famosa, beijei muito (risos), minha vida mudou de verdade, mas não deixei de estudar, nem de cuidar dos meus filhos e de freqüentar minha academia e o “samba-nosso-de-cada-dia” (mais risos). Na verdade, meu dia teria que ter 72 horas. Mas sempre dou o meu jeitinho.1452308_553429798068496_2025401354_n[1]

Ouro de Tolo: Como foi sua eleição pro concurso mundial de “Passista World” na categoria “Glamour”?

Negralu: Bem, era um concurso com 300 meninas. Não sei o que mais me surpreendeu. Se a repercussão, o número de votos, o fato de minha imagem ter sido conhecida mundialmente ou o título propriamente dito. Só sei que foi muito, mas muito emocionante mesmo e é daquelas coisas que ficam pra vida toda, né?

Ouro de Tolo: Como foi o convite para ser Madrinha de Bateria de uma Escola de Samba e como está se sentindo nessa nova função?

Negralu: Confesso que fiquei surpresa quando recebi o convite do Presidente Hugo Camburão, mas aceitei sem pestanejar. Embora minha coroação só aconteça no dia 22 de dezembro (eu, como madrinha e Caroline Ferreira, como Rainha), já venho sentindo o reconhecimento das pessoas nas ruas de Niterói e São Gonçalo e dos segmentos da agremiação, talvez, também, pelo fato de ter me tornado uma pessoa pública depois de vencer o concurso “Passista World”. Tento retribuir com o máximo de simpatia ao carinho de todos.

Para você ter uma ideia, a Escola produziu um CD de marchinhas e colocou minha imagem na capa. Como se não fosse o bastante, o Presidente disse que fará uma noite de autógrafos comigo para o lançamento do CD. Tô podendo, né? (risos). Posso falar algo mais sobre a minha Escola?

Ouro de Tolo: Fique à vontade, Negralu…

Negralu: Muita gente me pergunta a origem do nome da Escola e acho uma história bem interessante. Ela começou como Bloco e a Quadra funcionava numa área da CEDAE, mais especificamente na garagem dessa companhia estadual, em 1995. Como a concessionária não permitiu que seu nome fosse utilizado pela agremiação, mas os componentes não queriam perder seu referencial de origem, chegou-se à criativa solução de adotar-se o nome de “Pingo D`água”. A Escola já foi campeã do desfile de São Gonçalo em duas oportunidades: em 2003 e em 2010, oportunidade em que chegou ao Grupo Especial. Ah! Para o desfile de 2014, o nosso enredo homenageará os 180 anos de Itaboraí, município vizinho à cidade de São Gonçalo. Viu como sou boa de divulgação (sonora gargalhada)?

Ouro de Tolo: Estou vendo, Negralu… Pra finalizar, conte para a gente quais são os seus projetos futuros e diga-nos o que mais te orgulha em sua vida.

Negralu: Tenho sonhos sim. Aliás, um conselho que dou é nunca parar de sonhar e um sonho que acalento é o de fazer um livro para ajudar as pessoas a não abandonarem os seus sonhos e também desejo ainda crescer como modelo e sambista.

Ainda estou dando os meus primeiros passos e sei o quanto é difícil, mas sei que só os bons não desistem e, por isso, luto para não fraquejar nunca. O que me deixa mais orgulhosa, respondendo  à outra pergunta, Allexandre, é saber que influencio positivamente várias mulheres que achavam que era impossível vencer, impossível mudar. Muitas me ligam dizendo quantos quilos perderam. Outras me avisam que entraram pra academia e que mudaram seus hábitos alimentares. Não é pra se sentir orgulhosa?

Repito: Sei que estou apenas no começo, mas não vou parar tão cedo. Hoje com 33 anos, tenho a alegria de uma adolescente de 15 anos.

Ouro de Tolo: Entenderam agora, leitores, o verdadeiro sentido daquela frase (“Já fui Luciana. Hoje me chamo Negralu!”)?

A história e as respostas dessa gata dispensam maiores comentários. Parabéns, Negralú! Tolo é quem duvida de você. Seu coração não bate. Ele samba. E sem nunca sair do salto, afinal, você “dá nó em pingo d`água”  e faz seus fãs se orgulharem. “O Ministério da Superação adverte: Negralu faz bem à Saúde”.

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5 Replies to “Sambando com Elas: “Negralu””

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