A coluna do especialista Nicholas Bittencourt desmistifica a aura que muitas vezes vemos sobre as cervejas fabricadas em mosteiros. Pessoalmente gosto da maioria dos exemplares, mas por serem boas cervejas.

A Orkutização das Cervejas Trapistas

O nome “cerveja trapista” chama a atenção de muita gente que começa a se aventurar no mundo das cervejas especiais. Afinal de contas, quem não gostaria de experimentar um estilo de cerveja feito pelos santos homens das abadias europeias? Pois aí começa o primeiro engano, porque as cervejas trapistas não são um estilo, mas uma espécie de clubinho fechado de algumas cervejarias.

Para receber o selo de cerveja trapista, que identifica as cervejas que fazem parte da ‘patota’, as cervejarias deveriam cumprir alguns critérios definidos pela associação. Primeiro, a cerveja deveria ser produzida no interior de um monastério da ordem Trapista (o que exclui os amigos do Papa Chico, que é Jesuíta). A produção de cerveja não deve interferir na vida monástica, que tem prioridade, além de todo lucro aferido na produção ser destinado a caridade. A qualidade da cerveja, claro, deveria ser garantida.

Essas cervejas são meio míticas, nem tanto pela qualidade, mas pela dificuldade de se adquirir algumas delas. A Westvleteren, por exemplo, é praticamente impossível de ser comprada por uma série de restrições aplicadas pelo mosteiro, que vende apenas por telefone, com hora marcada e a necessidade de ter um carro com placa de Europa para retirada do produto.

bebendo-cerveja-la-trappe

Já em relação a qualidade, eu diria que é uma qualidade técnica. Não espere comprar uma cerveja trapista esperando ser a melhor cerveja do mundo segundo as avaliações de rankings pelo mundo. Algumas cervejas, como a Orval, possuem aromas e sabores bem característicos, que fazem muitos consumidores torcerem o nariz sem ao menos beber. Não não cervejas ruins, mas que podem possuir aromas bem diferentes do que estamos acostumados no Brasil. Essa, em questão, cheira a estábulo!

E assim seguiu o mundo por muito anos, desde 1997, com sete cervejarias fazendo parte da ‘panelinha’. Eram seis cervejarias da Bélgica e uma da Holanda: Chimay, Orval, Rochefort, Achel, Westmalle, Westvleteren e La Trappe (na política de cotas). Em 2012, como visto no filme de Roland Emmerich, o mundo começou a acabar e mais uma trapista foi aceita na panelinha.

Na linguagem da Internet, começou a orkutização!

Nesse ano, a cervejaria Stift Engelszell, austríaca, foi aceita entre as trapistas. Localizada na municipalidade de Engelhartszell an der Donau, a cervejaria produz a Gregorius, uma Dark Strong Ale importada no Brasil pela Bier & Wein.

Não satisfeitos, uma nona cervejaria está em processo de avaliação para ingresso no clube. A Mont des Cats, francesa (abaixo), já figura na lista oficial de cervejarias trapistas da associação, mas nenhuma cerveja é apresentada relacionada a essa cervejaria, devido a produção ser realizada pela Chimay. Um lote foi importado em junho deste ano pela Buena Bier, mas em edição limitada.

Ainda existem outros mosteiros trapistas pelo mundo, mas apenas o Maria Toevlucht, em Zundert na Holanda, possui capacidade de produção de cerveja. Não é esperado que outros mosteiros comecem a produzir cerveja para receber o selo, pois normalmente os produtos do mosteiro são relacionados a vida passada dos monges e por isso apenas mosteiros em países com tradição cervejeira figuram essa lista.

Photo2Se você ficou curioso a respeito dessas cervejas, segue uma lista de algumas recomendações bem interessantes para conhecer as produções belgas:

2 Replies to “Cerveja, Prazer! – “A Orkutização das Cervejas Trapistas””

  1. Olá, gostei da matéria, mas hoje já são 11 as cervejas trapistas, e 10 com autorização de usar o selo trapista, inclusive uma q fica nos EUA a Spencer.

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