Excepcionalmente nesta terça-feira, a série “Sambódromo em Trinta Atos”, do jornalista esportivo Fred Sabino, relembra o brilhante bicampeonato da Mocidade Independente de Padre Miguel em 1991.

1991: Mocidade navega rumo ao bicampeonato

Depois da enxurrada de punições relativas a dispersão e cronometragem no Carnaval de 1990, esperava-se que a Liesa afrouxasse um pouco nessa questão para que as escolas tivessem mais tranquilidade para completar os desfiles em 1991. Mas na verdade aconteceu tudo ao contrário.

Os noventa minutos do Carnaval anterior foram diminuídos para oitenta regulamentares. Além disso, o número máximo de alegorias foi reduzido de vinte para quinze.

Isso acabou gerando problemas nos anos seguintes: as escolas passaram a desfilar de forma mais apressada e, para que todos os componentes pudessem passar no tempo, as baterias ficaram mais aceleradas e, progressivamente, os sambas passaram a ficar mais marcheados.

Outra mudança para 1991 foi no horário de início do desfile, que passou para as 18h de domingo e segunda. A Liesa, com isso, queria evitar que as apresentações terminassem com dia claro e as últimas a desfilar fossem prejudicadas.

Na verdade, criou-se esse fantasma do sol num desfile, mas, tirando a questão física de se desfilar sob calor, a história sempre mostrou apresentações extraordinárias ocorridas sob a luz solar. Fato é que os desfiles matutinos tinham seu charme, e o público teria de se acostumar a ver as apresentações terminarem antes do amanhecer.

Outras mudanças importantes, estas bem válidas, ocorreram na contagem das notas. Depois da confusa apuração de 1990, todos os quesitos teriam o mesmo peso e não haveria mais descarte. Como novidade, as notas poderiam ser fracionadas em meio ponto.

Depois da incontestável vitória em 1990, a Mocidade Independente de Padre Miguel correria atrás do bicampeonato com o enredo “Chuê, chuá, as águas vão rolar”, sobre o elemento água. O samba bastante popular foi muito executado nas rádios na fase pré-carnavalesca e a escola era favoritíssima ao título.

A bivice-campeã Beija-Flor de Joãozinho Trinta apostaria num tema crítico: “Alice no Brasil das Maravilhas”, associando a conhecida história infantil ao nosso país. O samba não era dos mais inspirados, mas da Deusa da Passarela sempre se esperava muito.

Quem também prometia desfilar crítica era o Estácio de Sá. O objetivo da escola depois do bom quinto lugar de 1990 era manter-se entre as primeiras com um enredo que detonava a perda dos valores culturais brasileiros e a sociedade de consumo. O samba foi bem recebido pelos especialistas, mesmo com uma crítica pesada a Carmen Miranda.

Samba também não era o problema do Salgueiro, que contaria a história da Rua do Ouvidor. A novidade era a chegada do intérprete Quinho, que deixou a União da Ilha para substituir Rico Medeiros no microfone da escola.

Já a Tricolor Insulana tinha a volta do grande Aroldo Melodia depois de quatro anos. O enredo, irreverente e à feição da escola, era uma homenagem ao compositor Didi. “De bar em bar, Didi um poeta” passaria pelo universo dos botequins frequentado pelo inesquecível autor de sambas.

Uma grande novidade seria o retorno de Viriato Ferreira à função de carnavalesco, pela Imperatriz Leopoldinense, depois de nove anos. O enredo contaria a história da banana e o samba era dos melhores da safra.

Mas o melhor samba daquele Carnaval era o da Portela. A Azul e Branco levaria para a avenida o enredo “Tributo à Vaidade”. Apesar da beleza incontestável do samba, alguns críticos reclamavam que a letra só falava sobre a vaidade da escola, e não sobre a vaidade em geral que seria abordada pelo carnavalesco Silvio Cunha.

Outro samba considerado valente antes mesmo do desfile era o da emergente Unidos do Viradouro, que prestaria uma homenagem a Dercy Gonçalves. Já a Unidos de Vila Isabel também faria tributo a um personagem: Luiz Peixoto, e suas diversas facetas.

Outras agremiações, por outro lado, desfilariam com enredos um tanto confusos, como Estação Primeira de Mangueira, São Clemente e Caprichosos. E os sambas das três não ajudavam…

Samba que também não ajudava era o do Império Serrano. Na verdade, o enredo sobre os caminhoneiros era contestado desde a escolha – nada contra esses profissionais, mas havia dúvida se era um tema apresentável num desfile, ainda mais por uma agremiação tão tradicional.

Completavam o Grupo Especial Unidos da Tijuca, Lins Imperial e a estreante Acadêmicos do Grande Rio, que teria a honra de abrir o desfile com o ilustre reforço do intérprete Dominguinhos do Estácio – com direito a Wantuir e David do Pandeiro no apoio.

OS DESFILES

Não foi uma abertura das mais auspiciosas. Ainda com os setores de arquibancada longe da lotação máxima e com dia claro, a Grande Rio desfilou com um confuso enredo sobre o começo da civilização e os conflitos humanos. O samba era frio e isso se refletiu na apresentação da escola, que, apesar de estar razoavelmente bem nos quesitos plásticos, teve graves problemas de harmonia e evolução.

A Lins Imperial homenageou o ativista Chico Mendes, morto poucos anos antes, e desfilou com alegorias e alas multicoloridas. O samba, apesar de bem conduzido por Celino Dias com uma cadenciada bateria, não rendeu tanto e a Verde e Rosa passou mais fria do que no ano anterior.

Terceira escola a desfilar no domingo, a União da Ilha passou alegre como se esperava e o samba de Franco (marcheado para alguns) estava na boca do povo. O enredo sugerido por Fernando Pamplona em homenagem a Didi foi bem apresentado e literalmente a escola passeou de bar em bar.

Dispensam palavras as exibições de Aroldo Melodia e da bateria, mas houve problemas de evolução do meio para o fim do desfile e os componentes tiveram de apertar o passo para que os benditos oitenta minutos não fossem estourados. De qualquer forma, foi o melhor desfile até então.

imperatriz1991

Até então mesmo, porque a Imperatriz Leopoldinense se apresentou de forma vibrante e ainda por cima forte em todos os quesitos, candidatando-se ao título de cara. Plasticamente e conceitualmente, o trabalho de Viriato Ferreira foi brilhante, com a história da banana sendo contada desde o surgimento, de forma clara e criativa.

Os figurinos e alegorias pendiam para o verde, o dourado e o branco, e nos quesitos de pista a escola não deixou por menos. Como já era tradição, a bateria passou muito bem, com ótimos desenhos de tamborins e convenções.

E o samba, que rendeu excepcionalmente bem, era de uma turma de craques: Preto Jóia, Tuninho Professor, Niltinho Tristeza, Guga, Guará da Empresa e Flavinho. Preto Jóia, diga-se de passagem, assumia definitivamente a condição de primeiro intérprete da escola, onde permaneceria por mais oito anos.

Também chamou muito a atenção do público a então jovem modelo Melissa Benson (foto acima), praticamente como veio ao mundo, tomando banho numa alegoria – aliás, a moça sumiu do mapa depois…

Depois da ótima exibição da Imperatriz, a Beija-Flor acabou não repetindo as excelentes apresentações dos anos anteriores. Numa analogia entre a famosa história infantil “Alice no País das Maravilhas”, Joãozinho Trinta criou “Alice no Brasil das Maravilhas”, uma crítica social ao que vinha acontecendo no país.

Algumas alegorias e fantasias estavam monumentais como era o padrão nos desfiles concebidos por João 30.  Mas outros figurinos não estavam tão criativos e atraentes, o que deixou um gostinho de “quero mais” ao público. O samba, considerado limitado, foi bem cantado pelos componentes mas não houve uma grande comunicação com o público.

Em seguida, a Mangueira deixou um gosto de “quero muito mais” ao público e fez um Carnaval para esquecer. O enredo “As Três Rendeiras do Universo” era baseado numa lenda sobre a criação do mundo em que Renda de Luz, Renda de Água e Renda da Terra teciam os elementos da natureza.

Com o perdão do péssimo trocadilho, a escola não rendeu… O enredo era confuso e o conjunto visual da escola não ajudou. A Verde e Rosa acabou passando de forma bastante fria, até porque o samba não era dos mais populares e a direção de harmonia da escola apressou a evolução com medo de um novo desastre como o ocorrido no desfile de 1990.

Salvaram-se apenas a bateria, com andamento e firmeza impecáveis, e mais uma extraordinária interpretação de Jamelão, que, depois de ter anunciado a aposentadoria em 1990, voltou atrás. Mas a briga pelas primeiras colocações estava fora de cogitação.

Quem certamente se credenciou a uma boa posição na apuração foi a Estácio de Sá. Com um interessante enredo de crítica à incorporação da cultura estrangeira ao dia a dia dos brasileiros e ao excesso de consumismo da sociedade, a escola passou muitíssimo bem do começo ao fim.

O carnavalesco Mário Monteiro foi muito feliz na concepção do enredo, mesmo com uma pesada crítica à Carmen Miranda presente no refrão do meio do ótimo samba conduzido por Rixxa. Com um bom conjunto alegórico e de fantasias, a Vermelho e Branco fez o segundo melhor desfile do domingo, apenas atrás da Imperatriz Leopoldinense.

Encerrou o primeiro dia de desfiles a São Clemente, em um chato e confuso enredo que satirizava o momento vivido pelo Brasil. A escola projetava como seria o país entre os anos de 2991 e 3991. O samba não era dos melhores e o pessimismo da escola em relação ao futuro rendeu um desfile arrastado e sem alegria, características opostas ao que sempre se via na escola da Zona Sul.

Por outro lado, alegria e irreverência não faltaram na estreia da niteroiense Unidos do Viradouro na elite do carnaval carioca. A escola homenageou Dercy Gonçalves, que resolveu fazer topless no abre-alas porque a armação da fantasia estava incomodando o busto.

O samba, que era agradável, foi muito bem cantado pelo intérprete Quinzinho e a bateria passou corretamente. A evolução foi um pouco prejudicada no começo devido a problemas no sistema de som – o samba começou a ser cantado quando os cronômetros apontavam quatro minutos – mas a escola se assentou depois.

Uma chuva fina acabou afetando um pouco o acabamento das fantasias, mas o carnaval concebido pelo carnavalesco Max Lopes, como de costume, foi de ótima qualidade e a história da atriz e humorista foi muito bem contada. A permanência da escola no Grupo Especial era dada como certa.

Por outro lado, a Caprichosos de Pilares não reeditou suas boas apresentações da década de 80. O carnavalesco Alexandre Louzada concebeu um enredo tentando projetar o terceiro milênio e, a despeito de boas alegorias e fantasias, o samba não era popular e a evolução e harmonia apresentaram diversas falhas.

“Tá na mesa Brasil” foi o enredo da Unidos da Tijuca, no qual a culinária brasileira era visitada por intermédio de um banquete oferecido pelo Rei Momo para celebrar o Carnaval. O carnavalesco Oswaldo Jardim apresentou bem as ideias e a escola fez sua melhor passagem desde a volta à elite, em 1988.

O samba rendeu bem, a bateria teve uma apresentação bastante firme e Nêgo ganhou pela primeira vez o Estandarte de Ouro como melhor intérprete.

portela1991Em seguida, a Portela fez seu “Tributo à Vaidade” e realizou uma das melhores apresentações daquele Carnaval – arrisco-me a dizer que a melhor da escola desde 1984, ano da inauguração do sambódromo.

A tradicional comissão de frente com os ícones portelenses voltou a emocionar e águia do abre alas (foto ao lado) estava linda, nas cores da escola. O carnavalesco Silvio Cunha fez seu melhor trabalho pela Azul e Branco e o samba, que já era considerado o melhor do ano, foi bem cantado por público e componentes.

A bateria, com andamento ainda bastante tradicional, também esteve numa grande noite, e a Portela ainda esteve bem nos quesitos de pista como harmonia e evolução.

Sem dúvida, a Portela estava credenciada a brigar pelo título e poderia estar vaidosa, como dizia o enredo, por ter feito uma excelente apresentação.

Mas um obstáculo ao sonho dos portelenses prometia ser a campeã Mocidade Independente de Padre Miguel. Prometia, não. Foi mesmo um obstáculo que se revelaria intransponível.

Tudo relacionado às águas foi abordado pela Verde e Branco, que conseguiu realizar o melhor desfile do ano. Poucas vezes vi um enredo tão bem encadeado e desenvolvido, mérito, claro, dos carnavalescos Renato Lage e Lílian Rabello.

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Mais de vinte anos depois, não me esqueço da comissão de frente com mergulhadores e seus escafandros (foto acima) e uma evolução que fazia todos acreditarem que eles estavam realmente debaixo d’água. Simplesmente brilhante!

mocidade1991aO abre alas também simbolizava o fundo do mar, com a estrela guia da escola virando uma estrela do mar, num acabamento e criatividade simplesmente impecáveis.

Mas o carro que mais me chamou a atenção foi o segundo, chamado “Planeta Água” (foto ao lado), e que simbolizava o líquido uterino e o começo da vida. Outra alegoria remetia a Iemanjá, e bolinhas de sabão cobriam destaques vestidas de sereias.

O samba, que não era tão poético como outros da safra de 1991, mas era inegavelmente popular, caiu no gosto do povo, que justificou o trecho “Uma overdose de alegria/Num dilúvio de felicidade”.

A bateria Nota 10 esteve bastante cadenciada e também agradou do começo ao fim do desfile, que terminou com o público gritando “bicampeã!”.

Depois da Mocidade, o Salgueiro também fez uma excelente apresentação. O enredo sobre a Rua do Ouvidor era de fácil leitura e o samba, a meu ver apenas inferior ao da Portela naquele ano, foi muito bem cantado pelos desfilantes.

Aquele Carnaval salgueirense também marcou a estreia do intérprete Quinho, que, como de costume, divertiu o público com seus cacos engraçados e cantou bem o samba, outra vez bem sustentado pela bateria do Mestre Louro.

salgueiro1991A carnavalesca Rosa Magalhães foi brilhante na concepção do enredo, e o carro da relojoaria (foto ao lado) era simplesmente espetacular, assim como as demais alegorias. As fantasias também estavam em excelente nível, pendendo para as cores da escola.

O único pecado da escola foi a evolução rápida e fria, talvez pelo fato de o público, cansado depois de cantar a plenos pulmões durante as apresentações de Mocidade e Portela, ter sido menos vibrante. Mesmo assim, o Salgueiro saiu da pista certo de um bom resultado.

Penúltima a desfilar, a Vila Isabel sentiu muito a falta de recursos para a concepção de fantasias e alegorias do mesmo nível de outras escolas. “E tome polca” foi uma agradável homenagem ao compositor, artista plástico e cartunista Luiz Peixoto, e o samba era bom. Mas, se sobrou samba no pé, faltou algo mais para a escola brigar lá em cima.

O Império Serrano começou o desfile de encerramento do Carnaval de 1991 logo por volta das três da manhã, e a apresentação foi simplesmente um desastre. O enredo sobre os caminhoneiros não rendeu um bom samba e a estética da escola foi calamitosa. Para piorar, o carnavalesco Ney Ayan colocou caminhões de verdade no desfile, o que renderia a perda de cinco pontos como mandava o regulamento. Uma lástima.

REPERCUSSÃO E APURAÇÃO

Terminados os desfiles, a expectativa era a de uma briga entre a Mocidade e a Portela, com chances remotas para a Imperatriz e o Salgueiro. E, se a vitória da escola de Padre Miguel foi até tranquila e esperada, surpreendeu bastante a agremiação portelense ter ficado apenas na sexta colocação, fora até do Desfile das Campeãs – a meu ver, uma grande injustiça. No fim, a Mocidade terminou com 297 pontos, contra 295,5 do Salgueiro, que foi seguido por Imperatriz, Beija-Flor (uma surpresa) e o Estácio.

O regulamento previa a queda de quatro escolas, para que o Grupo Especial ficasse reduzido a 14 agremiações. A Viradouro manteve-se na elite num ótimo sétimo lugar, enquanto São Clemente, Lins Imperial e Grande Rio caíram, assim como o Império Serrano, que sofria o primeiro rebaixamento desde 1978.

No Grupo de Acesso, a apuração credenciou a Tradição e a Leão de Nova Iguaçu a subirem, enquanto a Acadêmicos de Santa Cruz também conseguiu ascender – veja mais no Cantinho do Editor.

RESULTADO OFICIAL

POS. ESCOLA PONTOS
Mocidade Independente de Padre Miguel 297
Acadêmicos do Salgueiro 295,5
Imperatriz Leopoldinense 293,5
Beija-Flor de Nilópolis 290,5
Estácio de Sá 290,5
Portela 290,5
Unidos do Viradouro 290,5
Unidos da Tijuca 289,5
União da Ilha do Governador 281
10º Caprichosos de Pilares 275
11º Unidos de Vila Isabel 274
12º Estação Primeira de Mangueira 269
13º São Clemente 265 (rebaixada)
14º Lins Imperial 264 (rebaixada)
15º Império Serrano 258 (rebaixada)
16º Acadêmicos do Grande Rio 240 (rebaixada)

CURIOSIDADES

– Estação Primeira de Mangueira (12º lugar) e Império Serrano (15º) terminaram nas suas piores colocações até então na história.

– O péssimo desfile do Império Serrano lamentavelmente seria o último concebido pelo carnavalesco Ney Ayan, que morreria naquele mesmo ano, com apenas 44 anos. Ayan deu sua contribuição em bons desfiles nos anos 80, pelo próprio Império e no famoso “Festa Profana”, da União da Ilha.

– Com o ótimo sétimo lugar em 1991, a Unidos do Viradouro deu início a uma marcante passagem pelo Grupo Especial, de onde seria rebaixada apenas em 2010.

– Por outro lado, a Lins Especial fez seu último desfile na elite em 1991. Depois de sucessivas crises e rebaixamentos, a simpática escola infelizmente está no Grupo de Acesso D, o último.

– As cinco primeiras colocadas de 1990 também ficaram no Top 5 em 1991, com a Beija-Flor caindo do segundo para o quarto lugar e Salgueiro e Imperatriz subindo respectivamente para segundo e terceiro. Mocidade (campeã) e Estácio (quinto lugar) mantiveram suas posições.

CANTINHO DO EDITOR – Por Pedro Migão

Nos dias de hoje este samba da Portela jamais ganharia a disputa, pois alegariam que “não segue a sinopse”. À época o argumento dos compositores foi de que não há nada mais importante para um vaidoso que se tornar o centro de uma conversa. O samba foi “reabilitado” após o incêndio no barracão de 2011, tendo se tornado uma espécie de “samba exaltação” desde então.

O sexto lugar obtido ficou bastante aquém das expectativas pré-apuração, quando se imaginava que a Portela poderia ameaçar o título Independente – como mostra a capa do Jornal do Brasil da quarta feira de Cinzas daquele ano que reproduzo abaixo. Mas os jurados viram um desfile próprio, ao que parece.

Melissa Benson se tornou evangélica. E este carnaval da Imperatriz seria o último do grande Viriato Ferreira, que substituiu Max Lopes – este ascendeu com a Unidos do Viradouro em 1990 e optou por ficar nesta no Grupo Especial, abrindo mão da agremiação de Ramos.

O Grupo de Acesso foi marcado por uma grande confusão. A Acadêmicos de Santa Cruz, uma das favoritas ao título, desfilou sem luz devido a uma queda de energia e não foi julgada. A agremiação brigou na Justiça até as vésperas do carnaval de 1992 pelo direito de ascender ao Grupo Especial.

A Portela voltou a desfilar à noite pela primeira vez desde 1980. Aliás, o desfile de segunda feira se encerrou às três da manhã, em recorde que não seria batido nos anos posteriores.

Joãozinho Trinta daria uma resposta antológica ao final do desfile da Beija Flor, sobre o hermetismo de seu enredo: “quem entendeu, muito bem. Quem não entendeu, melhor ainda”. Ele seria campeão do Grupo B (Terceira Divisão) naquele ano, pela Acadêmicos da Rocinha.

A Mangueira foi muito prejudicada pelo confisco do Plano Collor, que deixou a escola virtualmente quebrada. A falta de recursos se refletiria no carnaval da escola.

JB 1991

Links

O desfile campeão da Mocidade Independente de Padre Miguel

O ótimo desfile do Salgueiro em 1991

A apresentação da Imperatriz Leopoldinense

A injustiçada apresentação da Portela

26 Replies to “Sambódromo em 30 Atos – “1991: Mocidade navega rumo ao bicampeonato””

  1. Engraçado como tem mulher que chega na mídia com fogo no rabo e depois some e vira evangélica. O que aconteceu com Melissa Benson é lugar comum e foi inaugurado por Rose di Primo: trocar o profano pelo “sagrado”. Consta que a Melissa era daquelas que se encontrava nos classificados de jornais, naquela parte onde… hum… deixa pra lá.

    1. Eu confesso que iria perguntar no texto o seguinte “que fim deu?” mas decidi não escrever pra não parecer trocadilho…

        1. Mas é sério, cara. Sem piada, mesmo. Independentemente do que a moça fez na vida, aqui não é o lugar pra sacanear, claro.

          1. Segundo apurei há alguns anos, a última notícia q se teve da Melissa Benson é q ela estaria internada em uma clínica psiquiátrica.

        2. A Melissa perdeu um irmão pouco antes do desfile de 1994 num acidente automobilístico. Devido a isso deve ter “encontrado Jesus”

  2. Belo desfile de 1991. Lembro da alegria da Ilha, da Dercy na Viradouro, do sambão da Portela e da apresentação irretocável da Mocidade. Torço pelo Salgueiro mas como era pequeno na época não aguentei assistir o desfile ao vivo, só no compacto no dia seguinte, mas lembro perfeitamente de familiares dizendo que o Salgueiro tinha tirado nota baixa na pesquisa do Ibope…

  3. A Dercy na Viradouro é inesquecível, assim como a ala da “Perereca da Vizinha”, um grande barato. A minha Imperatriz se apresentou com correção e o Viriato fez um carnaval pós-tropicalista bem interessante. Eu gosto do samba, mas havia melhores naquele ano, claro.

        1. Eu pessoalmente discordo, acho que o momento atual – indo pro quinto ano seguido no Acesso e sem a menor perspectiva de retornar ao Especial – é muito pior.

          1. Pior momento que eu digo é de desfile, exibição. Uma apresentação completamente despropositada. Em termos de fase, concordo, lamentavelmente.

          2. Analisando os desfiles, 1991 foi sem dúvida o pior. Mas a escola ainda conseguia ter forças para voltar ao Especial.

            Mas hoje em dia está triste. O Império Serrano cada vez está mais próximo da Intendente.

  4. A Melissa Benson ainda desfilou na Imperatriz nos dois anos seguintes…

    Não quero criar polêmica, mas vê-se desde sempre um protecionismo à Beija-Flor… esse ano era para ter ficado de fora das Campeãs… do empate quádruplo (BF, Estácio, Portela e Viradouro), ela foi a pior, merecia o 7º lugar. Ou que pelo menos trocasse de posição com a Portela.

    Eu acho esses três últimos carnavais do J30 na Beija-Flor bem sofríveis… não gosto de nenhum dos três, sinceramente…

    1. E acho um dos carnavais da Era Sambódromo onde as escolas vieram com sambas muito bons: Imperatriz, Estácio, Viradouro, Tijuca, Portela, Mocidade, Salgueiro e até o samba da Vila eu acho muito bons…

    2. De certa forma 89 seria o ápice da carreira do Joãozinho, depois vindo um período de decadência – com um espasmo em 97/98

  5. Este desfile da Mocidade, junto com Beija-Flor em 2004, Unidos da Tijuca em 2010 e Vila Isabel em 2013, é daqueles que a gente sabe que renderá título logo assim que a escola passa.

    Não tinha a menor possibilidade da Portela nem o Salgueiro impedirem o bicampeonato da verde e branco de Padre Miguel.

    E o rebaixamento da Lins Imperial foi uma palhaçada gigante, assim como a queda da Leão de Nova Iguaçu, em 1992.

  6. O desfile da Unidos da Tijuca em 1991 foi o primeiro de Fábia Borges como rainha de bateria da escola, ela desfilou na função também em 1992, e de 1997 a 2006.

  7. Só hj estou comentando pq tive a oportunidade de ver todos os desfiles só agora… Não quero estender, pq concordo com a maioria, mas tem duas coisas que discordo: Essa tal injustiça com a Portela é coisa de torcedor, na boa msm… Como assim foi bem em Harmonia? O grande Dedé da Portela afundou o samba, cantou tão mal, que em determinados momentos ele nem cantava mais o verso “Eu sou luxo e esplendor”, perdeu a voz rapidinho e atravessava toda hora,… A Viradouro foi melhor!E a São Clemente tb, isso msm, adoro esse desfile, que é mal compreendido! E o Samba é muito bom!

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