Nesta sexta feira o jornalista esportivo Fred Sabino discorre sobre a recente demissão de Felipe Massa da Ferrari e o que o futuro pode lhe reservar.

A saída de Felipe Massa da Ferrari

Com o domínio avassalador de Sebastian Vettel no Grande Prêmio da Itália, as notícias mais importantes do mundo da Fórmula 1 vieram à tona apenas durante a semana. Afinal, na terça-feira Felipe Massa confirmou em redes sociais que deixaria a Ferrari depois de oito temporadas. No dia seguinte, o time confirmou o retorno de Kimi Raikkonen para ser companheiro (pelo menos o nome é esse) de Fernando Alonso.

Antes de entrarmos na análise desse troca-troca, vale a pena elogiar a Ferrari por ter permitido ao próprio Massa anunciar sua saída do time. Nos últimos anos, a equipe foi alvo de justas críticas por posturas altamente discutíveis, várias com o próprio Massa. Mas desta vez até que proporcionou a Felipe um momento digno.

Agora, vamos à análise dessas transações.

Depois do bom fim de campeonato em 2012 e um início de ano promissor em 2013, Felipe Massa não conseguiu manter o desempenho na sequência do campeonato. E, por mais que a equipe sempre tenha deixado claro que Fernando Alonso é o número 1, e que os resultados deste comprovem isso, a distância de pontuação entre o espanhol e o brasileiro foi muito acima do que a equipe queria.

Pior: Massa tirou poucos pontos das rivais da Ferrari e não contribuiu significativamente para a pontuação do time no Mundial de Construtores. Daí a iniciativa da Ferrari em recontratar Kimi Raikkonen, na esperança de que o Homem de Gelo , sempre constante, faça esse papel. E é bom lembrar que o Kimi apático de 2009, quando deixou o time, deu lugar a um piloto rejuvenescido e capaz até de bater Alonso numa temporada.

Por tudo o que já fez na F-1, Massa merece respeito da torcida brasileira.

Na Ferrari, Felipe fez um bom campeonato em 2006, foi mais rápido do que Michael Schumacher em vários momentos e saiu da temporada com duas vitórias, uma delas em casa, em um grande momento para a torcida brasileira.

Em 2007, Massa teve um início irregular, conseguiu duas vitórias seguidas e categóricas, e se manteve na briga pelo campeonato por quase todo o tempo. Mas no GP da Itália, quando Massa estava à frente de Kimi Raikkonen na tabela e na própria corrida, uma falha de suspensão (causada por um erro de montagem) lhe custou pontos preciosos, e ele teve de trabalhar pelo finlandês, que acabou campeão.

No ano seguinte, outro início claudicante, mas seguido de reação rápida, com atuações e vitórias convincentes. Massa foi sistematicamente mais rápido do que Raikkonen, o alijando da briga pelo campeonato. E, no fim, Felipe teve atuação memorável em Interlagos, perdendo o título para Lewis Hamilton por pouco.

Massa só não ganhou um campeonato em um ano em que a Ferrari falhou mais do que ele e, mesmo assim, assimilou a derrota com uma dignidade poucas vezes vista não só na Fórmula 1, como no esporte em geral. Lembro que naquele dia saí de Interlagos satisfeito pessoalmente ao ver uma postura tão magnânima.

Mas chegou 2009, o carro da Ferrari não era bom e Felipe estava fora da briga pelo título, embora tendo atuações melhores do que as de Raikkonen. E aconteceu o acidente de Hungaroring. Não acho que o problema de Massa pós-acidente tenha sido físico. Mas sim a chegada de Fernando Alonso, um osso duríssimo de roer.

Sem um carro bom como os de 2007 e 2008, mas melhor do que o de 2009, Felipe teve um desempenho aceitável na primeira metade de 2010. Chegou até a liderar o campeonato, mas aí veio Hockenheim e a pá de cal. Conversando com amigos que cobrem regularmente a Fórmula 1, todos são unânimes ao afirmar que Massa nunca se recuperou do episódio “Fernando is faster than you”.

Ali, Fernando Alonso virou definitivamente o dono da Ferrari, que não hesitou em deixar isso claro, e Massa não conseguiu mais reagir. Tudo bem, aquele fim de campeonato de 2012 foi realmente bom, mas Felipe não conseguiu ter sequência.

Agora, ele terá de buscar vaga em outro time. Se conseguir na McLaren (principalmente) ou Lotus, poderá ainda brigar por bons resultados. Senão, Felipe precisa ter consciência de que há vida fora da F-1. De qualquer forma, ele merece seguir a carreira de forma digna.