Hoje a coluna “Made in USA”, do advogado Rafael Rafic, nos traz algumas decisões importantes que o COI (Comitê Olímpico Internacional) irá tomar ainda neste ano de 2013.

Notas Olímpicas

Hoje é dia dessa coluna voltar a um assunto que ficou esquecido aqui por quase 1 ano: o movimento olímpico.

Apesar de ser o ano seguinte a uma edição dos Jogos Olímpicos e, por isso, um ano mais tranqüilo quanto a competições esportivas importantes, serão tomadas decisões importantíssimas nos bastidores do Comitê Olímpico Internacional (COI) que definirão o futuro a médio prazo dos Jogos Olímpicos. Comentarei brevemente sobre elas.

Inicialmente apenas noto que, pela primeira vez em muito tempo, desde o dia 1° de janeiro o Brasil não tem um membro ativo no COI. Com a renúncia de Havelange em 2011 e a saída de Nuzman no último 31 de dezembro (por limite de idade), o Brasil ficou sem qualquer representante com direito a voto no COI. Apenas Nuzman, como membro honorário, tem direito a participar das reuniões e comissões do COI, mas sem direito a voto.

A notícia ruim é que não vejo sequer um candidato brasileiro perto de conseguir a nomeação para o COI, talvez até pela mão de ferro de Nuzman que dificultou a vinda de sucessores. No máximo, Marcos Vinícius Freire tem alguma chance a médio prazo e Ary Graça, agora presidente da Federação Internacional de Voleibol deve ser considerado a próxima vaga de representante de federação.

Normalmente as decisões importantes do COI são tomadas em sua sessão anual. Esse ano a sessão do COI será realizada em Buenos Aires (foto, eleita no início de 2010, ainda na onda sul-americana proporcionada pela vitória carioca em 2009) de 7 a 10 de setembro.

Como já é tradição, a sessão começará escolhendo a sede dos Jogos Olímpicos de 2020, já no dia 7. Para o Rio de Janeiro essa escolha é particularmente interessante, já que definirá a sua sucessora, com direito a apresentação na Cerimônia de Encerramento do Maracanã.

Apresentaram candidaturas as seguintes cidades: Tóquio (Japão), Istambul (Turquia), Madri (Espanha), Roma (Itália), Baku (Azerbaijão) e Doha (Qatar).

Roma tinha uma fortíssima candidatura, mas sucumbiu à crise econômica e com a falta de apoio do governo de Monti foi obrigada a desistir da candidatura. Já Baku e Doha foram eliminadas pelo COI na fase preliminar (alias, assim como em 2016, Doha foi cortada controvertidamente). Com isso a disputa ficou restrita a três cidades.

Istambul, a eterna candidata (se candidatou repetidamente em 2000, 2004, 2008, 2012 e 2020) logo despontou como favorita. Não exatamente por ter o melhor projeto, mas por representar a penúltima fronteira que não desbravada pelos Jogos Olímpicos, o mundo islâmico (a outra é a África), e por ser uma cidade que une a Europa e a África.

Porém nas últimas semanas a candidatura japonesa, de longe a melhor tecnicamente, começou a se articular bem politicamente (exatamente o que faltou em 2016) e começou a ameaçar o favoritismo turco.

Para piorar, ainda surgiram as notícias dos protestos generalizados na Turquia e o tratamento dado pela polícia aos manifestantes (não muito diferente do que ocorreu aqui nos últimos dias) mudou de vez o favoritismo de mãos, por mais que altos membros do COI ainda tentem negar isso em entrevistas.

Madrid tem muitos problemas, principalmente econômicos, e é considerada carta fora do baralho. Porém, rememore-se que em 2016 ela também era o patinho feio e disputou a votação final contra o Rio, mesmo tomando uma pancada de 66 votos a 32.

Atualmente o Bidindex, melhor indicador das forças de uma candidatura olímpica, aponta 62,31 pontos para Tóquio, 61,96 para Istambul e apenas 56,49 para Madrid. A diferença entre Tóquio e Istambul pode ser considerado empate técnico, porém o Bidindex ainda não foi atualizado com as últimas notícias vindas de Istambul.

Minha aposta é na vitória apertada de Tóquio.

Já no dia seguinte, outra decisão importante: qual esporte completará a programação para 2020 (para 2016 a programação já está fechada)? Essa seria uma votação bastante interessante se não fosse um erro clamoroso do comitê executivo do COI no processo.

O planejado foi o seguinte: o comitê executivo do COI escolheria um esporte que hoje está nos Jogos Olímpicos e este esporte perderia o status olímpico. Esse esporte se juntaria a outros esportes que pleiteiam uma vaga na luta pelo re-preenchimento da posição que vagou na decisão do comitê executivo.

Ocorre que o comitê executivo, em votação secreta que durou vários turnos, ao invés de eliminar o Pentatlo Moderno, que já está na berlinda há tempos, ou o hóquei na grama, talvez o único esporte coletivo olímpico com baixa penetração mundial… Decidiu rebaixar a antiga, tradicional e histórica Luta Olímpica.

O resultado, completamente inesperado, causou uma comoção mundial contra a retirada e forçou a renúncia o presidente da federação de lutas associadas (FILA).

Rapidamente foi criada uma grande propaganda de manutenção da Luta Olímpica nos Jogos Olímpicos e até o UFC (que tem a Luta olímpica como uma de suas bases) entrou com força máxima na campanha. A FILA também ajudou e implementou algumas mudanças necessárias nas regras que estavam dormentes em alguma gaveta.

O resultado é que vários membros do COI já admitiram publicamente o erro na escolha da Luta Olímpica e a mesma deve ganhar do baseball/softball e do squash de lavada ainda em 1° turno.

Nada a favor do baseball. Por mais que eu seja fanático pelo esporte, sou contra a sua inclusão nos Jogos Olímpicos porque suas principais forças, as ligas americana e japonesa, nada fazem em favor dos Jogos Olímpicos. O resultado é que o esporte era o único a enviar amadores, ou pelo menos profissionais de nível bastante inferior, para os Jogos até ser excluído em 2012.

Porém sinto bastante pelo squash. O esporte já faz parte de todos os eventos multi-esportivos importantes e já merece o status olímpico há algum tempo. Fica para 2017 quando, quem sabe, o COI escolha o esporte certo para cair (provavelmente o hóquei na grama) e o squash entre para não sair da programação olímpica.

Já se cogitou a hipótese que o comitê executivo votou na Luta Olímpica já com o intuito de nada mudar na programação olímpica. Particularmente, não duvido.

Por fim, no último dia de sessão, a decisão mais importante: a eleição do novo presidente do COI para um mandato de oito anos, renováveis por mais quatro. O atual presidente, o belga Jaques Rogue, alcança neste ano seu 12° ano à frente da entidade e pelas novas regras de rodízio da Carta Olímpica não poderá se reeleger.

Então o COI precisará escolher a nova pessoa que guiará o movimento olímpico na próxima década.

Se apresentaram 6 candidatos: Thomas Bach (Alemanha), Ng Ser Miang (Cingapura), Denis Oswald (Suíça), o multirecordista do salto com vara Sergey Bubka (Ucrânia), Richard Carrion (Porto Rico) e CK Wu (Taiwan).

Essa eleição deverá ser uma guerra de foice no escuro. Diferentemente do que ocorreu na eleição de Rogge, candidato “situacionista” preparado pelo antigo presidente Samaranch, não há ninguém com a benção de Rogge.

Isso porque a pessoa de confiança de Rogge, a marroquina Nawal El- Moutawakel, deu uma “Marquinhos-de-Oswaldo-cruzeada” (os fortes entenderão) e decidiu não concorrer. Com isso a eleição “abriu” e tudo pode acontecer, tanto é que nem os auto-intilulados experts do site Around the Rings se arriscam a fazer uma previsão.

Diria que Bach tem um ligeiro favoritismo. Ex-medalhista de ouro nos Jogos de 1976 na esgrima, ele está há quase duas décadas no comitê executivo (comissão mais importante do COI), é um dos vice-presidentes da entidade desde 2000 (com um breve interregno entre 04-06), é um advogado renomado na Europa e é o responsável jurídico pelo COI. Isso tudo lhe dá uma bagagem e conhecimento da entidade e de seus eleitores inigualável.

Também vejo com boas chances nessa eleição Denis Oswald. Oswald é presidente da federação internacional de remo desde 1989 e comanda a poderosa associação das federações de esportes olímpicos de verão desde 2000. Também tem seu trabalho bastante elogiado, foi membro do comitê executivo de 2000 a 2012 além de ter comandado outras importantes comissões, como as de coordenação para os jogos de 2004 e de 2012.

Quem pode correr por fora é Richard Carrion. Também membro do comitê executivo de 2004 a 2012, ele pouco aparece, mas tem um pedor gigante nas mãos. Como presidente da comissão de finanças, ele é o tesoureiro do COI e quem comanda as principais negociais comerciais, notadamente a venda dos polpudos direitos televisivos dosa Jogos Olímpicos e, como membro do comitê de marketing, o The Olympic Partner (TOP), o fabuloso programa olímpico de patrocínio. Isso lhe dá um poder de manobra política e de convencimento de eleitores únicos.

Os outros 3 candidatos tem problemas que devem impedir uma eleição. Bubka é membro recente do COI (2008) e já está envolvido em denúncias de corrupção na Ucrânia. Muitos membros vêem com maus olhos sua tentativa de subida meteórica.

CK Wu é o atual presidente da Associação de Boxe Amador (AIBA) e também tem uma carreira administrativa controvertida. Destaca-se o constante acobertamento do vice-presidente da AIBA, o azeri Rachimov, sobre o qual pairam fortes denúncias de ser um grande traficante internacional de drogas.

Por fim Ng Ser Miang não tem nada que o desabone. Ele foi um grande incentivador do projeto das Olimpíadas da Juventude e foi graças a sua articulação que conseguiu trazer a primeira dela, em 2010, para sua Cingapura, sendo inclusive o presidente do comitê organizador da mesma. Porém ele também não tem nada que o abone. Enfrentando nomes de peso como Bach, Carrion e Oswald, Miang tende a ser esquecido.

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Enquanto isso, em Madureira City, a Portela divulgou no último dia 13 a belíssima sinopse de seu enredo para 2014, “Rio de Mar a Mar: do Valongo a Glória de São Sebastião”. Tecerei mais comentários sobre ela quando fizer a avaliação das sinopse para o blog, mas já adianto que virá outro 10 na minha avaliação para a Águia.

Os sambas terão que ser entregues no dia 8 de agosto e a primeira apresentação na quadra, já com cortes, será no dia 10 de agosto. Pretendo cobrir toda a disputa até sua final (prevista provisoriamente para o dia 18 de outubro) nesta coluna.

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2 Replies to “Made in USA – “Notas Olímpicas””

  1. Rafic, me explica uma parada aqui….como é que o Havelange podia votar e o Nuzman atingiu o limite de idade? O Havelange é mais novo que o Nuzman? Eu pensava que só o Oscar Niemeyer fosse mais velho que o Havelange, que agora deve ser o homem público mais idoso do Brasil. Será que o Nuzman vai surpreender na reta final da corrida da 4a idade?

    1. Walter,

      A regra do limite de idade só vale para quem foi eleito para o COI após a sua instituição (em 1966). Então quem virou membro do COI antes da limitação, ainda tinha direito a ser membro vitalício. Havelange é a única pessoa com direito a vitaliciedade que ainda está viva. Com sua renúncia não existem mais membros vitalícios no COI.

      Em 1999, o limite foi baixado mais uma vez para 70 anos. Aplica-se a mesma regra de transição. Quem foi eleito para o COI entre 1966 e 1999, continua tendo como limitação a idade de 80.

      Porém, Nuzman foi eleito para o COI em 2000, portanto o limite de idade dele é de 70 anos, os quais ele completou em 2012. Então em 31 de dezembro de 2012 ele teve que se despedir do corpo ativo do COI.

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