Sabinadas – “Transparência Urgente”

Nesta quinta feira, a coluna “Sabinadas”, do jornalista Fred Sabino, questiona os critérios do julgamento das escolas de samba do Grupo Especial do Rio, bem como o incrível caso do jurado que teria copiado suas justificativas de um site especializado.

Eu, pessoalmente, fiquei desanimado com o que li nas justificativas das notas deste 2013.

Transparência Urgente

Foram finalmente divulgadas as justificativas dos jurados para as notas aplicadas às escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro. Como sempre com muito atraso, já que, como as notas são anunciadas logo na quarta-feira de Cinzas, não haveria motivo para esconder, digo, postergar tanto a divulgação do que os julgadores viram no sambódromo.

Pois bem, causou grande estranheza o fato de que o jurado Bruno Rodrigues, do quesito samba-enredo, colocou justificativas extremamente parecidas, para não dizer idênticas, ao que o presidente da LIESV (Liga Independente das Escolas de Samba Virtuais), João Marcos, publicara no site Sambario sobre os sambas do Carnaval-2013, muito antes do desfile.

Em entrevista publicada no site do jornal O Dia, Rodrigues negou o plágio com veemência e garantiu que era apenas uma coincidência. Logo ele, Bruno Rodrigues, o único jurado a não dar nota dez ao excepcional samba da Unidos de Vila Isabel – por ter sido menor, essa nota acabou descartada e não interferiu na apuração vencida pela agremiação. Como não conheço o julgador e não tenho provas, não posso acusá-lo de nada.

Então me atenho ao site Sambario. Já escrevi nesse site, editado por Marco Maciel, e sempre troquei ótimas ideias com seus integrantes. Como já converso com eles há anos, posso afirmar que são pessoas sérias e que, tal como no nosso Ouro de Tolo, defendem a pluralidade de opiniões.

Dito isso, vou levantar aqui outra questão que me incomoda muito no julgamento das escolas de samba: a escolha dos julgadores. É evidente que sempre há polêmica nas apurações, mas não é de hoje que escolhas equivocadas atrapalharam o julgamento.

Em 1983, o jurado Messias Neiva, do quesito alegorias e adereços, foi decisivo na conquista do campeonato pela Beija-Flor – o Pedro Migão lembrou o caso aqui no Ouro de Tolo. Neiva ‘canetou’ (penalizou) de forma estranhíssima escolas que apresentaram um melhor conjunto como Portela, Império Serrano e Mocidade Independente, e deu dez apenas para a escola de Nilópolis.

Pior, justificou as notas de apenas quatro agremiações. Oficialmente a profissão de Neiva era a de artista plástico, mas ele disse depois que era apenas pintor de letreiros eleitorais. Então, ora bolas, o que este cidadão tinha como credenciais para ser jurado?

Três anos depois, outro escândalo. O então jogador Sócrates foi convidado para julgar o quesito bateria e deu nota 9 para a Portela, liderada pelo saudoso Mestre Marçal e considerada uma das melhores daquele desfile a ponto de levar o Estandarte de Ouro do jornal O Globo.

Com todo respeito ao também saudoso Magrão, mas que capacidade técnica ele tinha para ser jurado de bateria? Para piorar, na época o Miro, patrono do Salgueiro, disse que Sócrates estava “calibrado” na hora do desfile…

Embora a campeã deste ano tenha sido justa, o caso Bruno Rodrigues serve de advertência. O julgamento do Carnaval tem de ser revisto. Os critérios de escolha dos jurados precisam ser mais acurados. Não quero duvidar da honestidade dos julgadores, mas uma transparência (explicação) maior na divulgação dos nomes e uma escolha mais técnica são imperativas. Por que Bruno Rodrigues foi escolhido para ser jurado? Qual o seu currículo?

Bem, até existe o Manual do Julgador, fornecido pela Liesa aos jurados. Mas até que ponto este manual é eficaz e, principalmente, seguido pelos julgadores na hora do desfile? Existe alguma espécie de simulação prévia ou apresentação mais detalhada aos jurados do que deve ser julgado ou o que deve ser descontado de cada escola? Por que tanta demora na divulgação das justificativas?

A Vila ganhou merecidamente mas poderia ter perdido graças a uma nota cuja justificativa foi, para dizer o mínimo, estranha.

Que fique de lição.

[N.do.E.: escrevi no início de 2012 série com quatro posts sobre o julgamento. O primeiro está aqui.]