muda Portela Manchete

Nesta sexta feira, a coluna “Sabinadas”, do jornalista Fred Sabino, fala sobre o processo eleitoral que se realiza atualmente na Mangueira (no próximo domingo) e na Portela, com previsão de realização para o (longínquo) 30 de maio.

Portela e Mangueira, Velhas Companheiras – eleições: as gigantes precisam acordar

As próximas semanas serão muito importantes, ou melhor, fundamentais para as duas maiores escolas de samba deste país: Portela e Estação Primeira de Mangueira vão escolher seus novos presidentes para tentar, finalmente, voltar aos dias em que as glórias eram uma doce rotina para seus torcedores. Isso porque ambas as agremiações vivem seus maiores jejuns de títulos.

Maior detentora de títulos, com 21, a Portela não ganha desde o desfile de domingo de 1984 – naquele ano houve uma divisão em dois dias, mais o supercampeonato, vencido pela Mangueira. Sozinha, a Majestade do Samba não conquista um título desde 1970 – em 1980, ainda houve um tríplice empate entre Portela, Imperatriz Leopoldinense e Beija-Flor de Nilópolis.

Já a Mangueira, com 18 campeonatos, não vence desde 2002 e, nem mesmo quando a Portela vivia aquela sequência incrível de títulos nos anos 40, 50 e 60, ficou em uma ‘seca’ tão grande de conquistas.

Como tudo nesta vida, há explicações. No caso, ambas vêm padecendo de uma falta de organização incrível nos últimos anos. Todo ano há atraso no barracão, todo ano há equívocos incríveis durante o desfile, todo ano fica aquela sensação de que ambas pararam no tempo.

E logo Portela e Mangueira, que, apesar dos pesares, ainda produzem belos sambas. Nos últimos dois anos a Águia se apresentou com obras simplesmente excelentes, à altura das suas melhores tradições, enquanto a Manga, exceção feita a 2013, desfilou com sambas de bons para ótimos.

Isso sem falar nas baterias. Bem, aí é chover no molhado. A Tabajara do Samba e a Bateria Surdo Um a cada ano vêm se destacando como principal sustentação de ambas as escolas, com apresentações de ótima qualidade – sobre a paradona e as duas baterias da Verde e Rosa, escreverei mais tarde no texto.

Só que foi-se o tempo em que apenas samba e bateria tinham um peso decisivo num desfile de escola de samba.

Na Portela, a gestão de Nilo Figueiredo, que dura quase dez anos, é acusada de falta de transparência e há denúncias de irregularidades, inclusive com inquéritos em andamento. Para concorrer contra o atual presidente, a chapa Portela Verdade conta com Serginho Procópio à frente e apoio de nomes de peso como Paulinho da Viola, Monarco e Tia Surica.

Quando Nilo assumiu a Azul e Branco, em 2004, ao derrotar Carlinhos Maracanã, o discurso era o de resgate dos grandes dias da Portela. Embora com alguns espasmos, como em 2008, 2009 e 2012, quando a escola até voltou ao desfile das Campeãs, a maior lembrança da Era Nilo é o patético desfile de 2005, quando a Águia entrou sem asas e a Velha Guarda foi impedida de desfilar.

Sinceramente, diante do atual quadro, não sei o que seria da Portela hoje sem o portelense. É incrível como a comunidade e seus componentes abraçam a escola durante os desfiles. Sem esse patrimônio, a coisa seria bem pior, certamente.

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Já na Estação Primeira, o atual presidente Ivo Meirelles não vai se candidatar a um terceiro mandato. Embora a aposta em enredos culturais como Música, Nelson Cavaquinho e Cacique de Ramos e as inovações sejam elogiáveis, os desfiles deixaram muito a desejar em execução, além dos sérios problemas de acabamento em fantasias e alegorias terem sido claros. Nos últimos dois anos a escola nem voltou no sábado das Campeãs.

Sobre a questão das inovações da bateria. No caso da paradona, mesmo eu que sou purista, acho um espetáculo válido para o público, que certamente gostou de ver. O problema nem foi de execução da própria bateria, mas o atravessamento do canto da escola – sem contar as falhas com o som na avenida. Os jurados foram até benevolentes.

No caso das duas baterias, o problema gerado em evolução foi incrível. Não bastasse o inchaço com os componentes extras, a escola parou em vários momentos do desfile para executar as mudanças de bateria. A escola teve de correr, claro, e um outro problema num carro fez com que o tempo fosse muito estourado.

Ficou evidente que a Mangueira até ousou, sim, mas, como se diz no futebol, não organizou a sua “cozinha” para tal.

Ivo Meirelles também esteve envolvido em polêmicas extra-carnavalescas, como no caso da invasão da quadra por traficantes e em denúncias de irregularidades no processo eleitoral. Ivo rebateu as críticas e desistiu de se candidatar. Concorrem ao cargo Chiquinho da Mangueira, Percival Pires e Raymundo de Castro.

Isto posto, independentemente de quem vencerá as eleições, o que importa é o bem de Portela e Mangueira. O resultado dos desfiles é um detalhe, mas as duas maiores escolas de samba do Brasil precisam voltar a se apresentar como a grandeza delas exige.

Pelo bem do Carnaval.

(Fotos: Manchete na Folia e R7, respectivamente)