Neste domingo pré carnaval, a coluna “Orun Ayé”, do compositor Aloisio Villar, traz duas colunas em uma: os dez melhores sambas da União da Ilha e os dez piores sambas da história na avaliação dele.

Os Dez Mais da Ilha, e os Dez Mais Trash

Os 10 da Ilha 

Devido à repercussão da coluna do domingo passado, resolvi continuar no assunto essa semana. Já tinha decidido falar sobre os sambas da União da Ilha do Governador. Mas como já falei em uma coluna sobre a escola, resolvi seguir outra direção e continuar o que fiz na anterior. 

Se Império Serrano, Portela e Vila Isabel são as escolas com acervo mais rico de grandes sambas de enredo, a União da Ilha é a escola com os sambas mais populares. Daqueles que tocam até em velório ou aldeia indígena no lugar mais remoto da Amazônia. A Ilha tem pelo menos três sambas arrasa quarteirão – e eles estarão nessa lista. 

Mais uma vez, não são os 10 melhores da União da Ilha necessariamente. São os 10 que mais gosto. 

10° A viagem da pintada encantada (1996)

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O samba de Alberto Varjão e Vicentinho é um dos poucos sambas afros da história da União da Ilha e enredo afro geralmente dá samba bom, como ocorreu com esses compositores. Destaque para o poderosíssimo refrão do meio.  

9° Sonhar com rei dá João (1990)

Curioso que a impressão que tenho é que só eu gosto desse samba feito por Bujão, J.Brito e Franco. Não só gosto: sou apaixonado por esse samba desde o pré-carnaval de 1990.

Sempre achei melódico, poético; mas acho que não faz muito o estilo da escola, porque dá para contar nos dedos da mão com dedo amputado do Lula as vezes que ouvi na quadra de 1997 para cá. Existe um vídeo emocionante da largada desse samba em 90, onde surgem Bujão. J.Brito, Aurinho da Ilha, Franco e Quinho. Alguns dos maiores nomes da história da União. 

8° A União faz a força com muita energia (2001)

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É… Continuo polêmico: 90% dos apaixonados pela União da Ilha querem encontrar com o Chuck (o brinquedo assassino), mas não querem ouvir esse samba.

É uma grande injustiça com o lindo samba de Djalma Falcão, Almir da Ilha, Bicudo e Márcio André, que não teve culpa nenhuma do rebaixamento. Que culpa o samba tem se os tais carros vazados que acendiam no barracão e todos aplaudiam decidiram ficar escuros na avenida? Detalhe… As melhores notas da escola foram em samba-enredo. Samba de uma poesia singular.

[N.do.E.: também gosto muito deste samba]

7° O Amanhã (1978)

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Samba de João Sérgio, a quem tenho orgulho de ser amigo e ser respeitado como compositor. Provavelmente é um dos sambas mais regravados da história, o primeiro dos arrasa quarteirão que citei e samba que deixou o ex-mestre de bateria do Boi da Ilha e compositor da União rico. É um samba pequeno, simples, que tem refrão eternizado não só na história do samba-enredo como da MPB. 

6° 1910 – Deu burro na cabeça (1981)

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O primeiro samba vencido pelo genial Franco na União da Ilha. Ganhou em parceria com Barbicha, Jangada e Dazinho. Um samba com a marca “União da Ilha”. Alegre, sedutor, levemente safado, irreverente. O tipo de samba que falei na coluna anterior que dá vontade de sambar agarrado a uma cabrocha tendo seu auge no refrão. Samba com a cara do Franco. 

5° Fatumbi, a Ilha de todos os Santos (1998)

A disputa desse ano já foi tema de coluna e sei que o Editor Chefe do blog adora este samba. Foi minha estréia como compositor de escolas de samba, em uma disputa que teve 53 concorrentes. O samba de Márcio André, Almir da Ilha e Mauricio 100 não era o favorito até meados da disputa. Mas com Rixxa tendo que largar o favorito para assumir o microfone da escola e a força do talento vocal de Mauricio 100 o samba virou a história. Ele é todo bonito, mas adoro o começo da segunda. Samba poderoso.

4° De bar em bar Didi um poeta (1991)

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Aqui a parada começa a ficar séria.

Samba que causou polêmica na época, com a família do homenageado reclamando que não foi contada a história dele – e sim de um bêbado. Besteira deles: nada mais bonito que homenagear um poeta na seara dele, a boemia. Samba alegre, com o toque União da Ilha e Franco de ser. Aquele que é para mim o segundo maior compositor da história da União homenageava o maior de todos dando um porre na tristeza. 

3° Domingo (1977)

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O samba de Aurinho da Ilha, Ione do Nascimento, Ademar Vinhaes e Waldir da Vala é histórico. O único samba da União da Ilha a receber um Estandarte de Ouro.

Um dos dois sambas do bairro inteiro a ganhar esse prêmio: o outro foi Orun Aye pelo Boi da Ilha em 2001. É um samba que foge um pouco das características mais conhecidas pela escola, que são alegria e irreverência. É um samba em tom menor que dá preferência à poesia. A frase “na sutileza de um amanhecer” para mim é a frase mais bonita já posta em um samba da União da Ilha. 

2° Festa Profana (1989)

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Falar o que do samba de Bujão, J.Brito e Franco?

É uma catarse, uma chamativa para a festa da carne, para a orgia, para a folia de Momo. Considerado uma marchinha por muitos entendidos, o samba é um dos mais populares da história do carnaval. Ganhou as ruas, os estádios de futebol, a boca do povo. O porre de felicidade virou expressão popular e lançar perfume no cangote da menina símbolo do carnaval alegre, irreverente e feliz como amo. 

1° É Hoje (1982)

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Esse samba já foi citado na coluna anterior como um dos meus top 10.

O samba de Didi e Mestrinho deve ser ao lado de Peguei um Ita no Norte do Salgueiro o samba mais popular da história do carnaval. Muitas vezes regravado, colocado em comerciais de televisão, cantado em todas as festas, bailes o refrão “diga espelho meu/se há na avenida alguém mais feliz que eu” é uma marca da União da Ilha do Governador e do carnaval brasileiro. Curioso que eu ainda criança conhecia e gostava desse samba sem saber que era da União da Ilha. É Hoje é um patrimônio de nossa cultura. 

Salve a União da Ilha do Governador. Escola de sambas maravilhosos que me fez ter grande dor de cabeça em escolher 10 e deixar de fora sambas como “Lendas e festas das Yabas”, “Confins de Vila Monte”, “Bom, bonito e barato”, “Assombrações”, “Sou mais minha Ilha”. 

E claro, o melhor de todos, o mais bonito, com melhor refrão do meio da história do carnaval que a modéstia me impediu de colocar que é o samba de 2012: “De Londres ao Rio era uma vez uma Ilha”, com o maravilhoso “Vou botar molho inglês na feijoada/misturar chá com cachaça”. 

Está bom, parei: estava só brincando, não precisa parar de ler a coluna até porque vem coisa interessante aí embaixo. Salve a União da Ilha do Governador, que ela encontre o poetinha no sábado das campeãs. 

Os 10 trash 

Evidente que esse foi um pedido do Pedro Migão, que adora essas coisas. Não sou um grande conhecedor de sambas trash e vocês já perceberam que há quase dois anos escrevendo aqui destilo bom gosto, então listei 10 que me vieram à mente. Não vou colocar os nomes dos compositores por respeito a eles (e porque não estou com paciência para pesquisar samba trash) e nem colocar em ordem de classificação. Apenas listar e destacar o porquê estar nessa lista. 

Não são necessariamente sambas ruins, quem sou eu para chamar algum samba de ruim… Diria que são “curiosos”. 

INDEPENDENTES DE CORDOVIL 1994 (Garotinho vem sacudindo a Sapucaí)

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Comecei bem né? Pode falar… Porra!! Repito com todos os erres possíveis.. Porra!!! Homenagear Anthony Garotinho? E o pior é que o samba é enorme, não vou destacar nada que falar no Garotinho atrai o mal e a “paumolescência”… Não é à toa que a escola acabou. 

PORTELA 2005 (Nós podemos: Oito metas para mudar o mundo) 

O desfile já foi desastroso. Velha guarda não entrou, a águia (com todo respeito) parecia uma pomba e os portelenses tão acostumados a grandes sambas ainda tiveram que cantar “Combater o HIV e toda epidemia que aparecer”. 

UNIÃO DA ILHA 2000 (Pra não dizer que não falei de flores)

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Fizeram um samba animadinho e irreverente pra falar da ditadura militar. Sim, caro leitor: de uma época que as pessoas morriam nas prisões do DOPS fizeram versos como “Marcha soldado bate tambor ôôô”. É a mesma coisa que um dia regravarem a tragédia de Santa Maria e contratarem o Rafinha Bastos para dirigir. Não combina – e o pior é que tinha o grande samba de Djalma Falcão na disputa, derrotado. 

TRADIÇÃO 2001 (Hoje é alegria, é domingo. Vamos sorrir e cantar)

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Um trash que deu certo. Muito achincalhado antes do desfile, foi ovacionado na avenida graças a seu homenageado Silvio Santos e se tornou o samba mais popular da escola – que contou com alguns sambas de João Nogueira e Paulo César Pinheiro em sua história. Muito do sucesso do samba deveu-se à exposição maciça dele no SBT.

Parte trash do samba? Você pode escolher, têm vários. 

TIJUCA 1986 (cama, mesa e banho de gato)

07 unidos da tijuca

“Tem piranha no almoço, tem virado no jantar, pra quem tem fome, qualquer prato é caviar”. Preciso falar mais nada né? Grato.

[N.do.E.: está aí um enredo/samba que gostaria de ver Paulo Barros reeditar.]

BEIJA-FLOR 1975 (O grande decênio)

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Sessão “seu passado condena”.

Na fase pré-títulos a Beija-Flor viveu  uma grande fase de puxa saquismo com os militares que, reza a lenda, lhe prejudicou nos anos 80. Esse é um clássico da MPB (música “puxasaquística” brasileira) com os versos “lembrando PIS e PASEP, também o FUNRURAL/Que ampara o homem do campo/Com segurança total”. 

UNIDOS DE LUCAS 1990 (O magnífico Niemeyer)

09-lucas

Por motivos de “Quero ver Cuba lançar”

[N.do.E.: posteriormente ao “Samba de Terça” que escrevi sobre este desfile os colunistas Fabricio Gomes e Luiz Antonio Simas explicaram que tais versos vem de uma marchinha de carnaval muito popular. Ainda assim, o cacófato é trash.]

ARRASTÃO DE CASCADURA 2012 (Patrícia Amorim, a majestade rubro-negra)

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Nem sei como é o samba (acima, o áudio). Pode ser mais bonito que “heróis da liberdade”, mas só pelo enredo e o título merece estar nessa linda homenagem que faço. Evidente que com essa mulher como tema, a escola caiu de grupo. 

MANGUEIRA 1989 (Trinca de Reis)

09 mangueira

Todo mundo tem o samba trash do seu coração, aquela canção que seu lado mau gosto se encanta e o coração chora de emoção.

O meu é com Trinca de Reis que já disse algumas vezes ser o maior samba da história da Mangueira e que devia ser reeditado todos os anos. Sobrinho cantando “Mas hoje/ tem o Chico Recarey/ Re-ca-Rey” é um dos grandes momentos de nosso carnaval.  

E o próximo, apesar de não ter feito em ordem de classificação boto como primeiro lugar e acho que todo mundo irá concordar. É o mais trash da história… 

EM CIMA DA HORA 1976 (Os Sertões)

Pegadinha do Mallandro… Claro que não é esse histórico samba-enredo, foi só para mexer com alguns amigos. 

Abrirei uma exceção para o campeão trash porque esse samba na verdade não ganhou na escola que concorreu. 

IMPÉRIO SERRANO 2006 (O Império do divino)

samba11[1]

Despeço-me de vocês deixando para posteridade a letra do famoso samba conhecido como “mandamento, palavra, padre”. Abraços a todos 

“Pai sagrado coração de jesus santidade
redenção santuário vivo divino
espírirto no nome menino amor destino
de joelho, pé da cruz
oração rogai por nós santa
virgem beleza, o império do divino
celebrando caminhos
comunhão, confiança
autos, tradições, imaginação
estendemos representadas
manifestação, devoção
bordados, história, filho
sacrifício, pecado, perdão
invencível, poderoso

alegria no sambar carnaval
religiões, esperança, fé, a paz

raiz daterra, terreiro festança das
cidades, bandas, violeiros, trovadores
dança semelhança arte, criação
imagem brasileiro negro, homem índio
guerreiros amuletos, santos senhor bonfins
círio de nazaré, universo reino três reis
vivo força luz, deus, imperadores
pomba divina, grandeza abençoada
iluminado, coroados, fontes águas vivas
verde branco, oxalá! Rainha do mar
lavanda doce, oferenda para iemanjá
procissão

povo fiel, a estrela brilha no céu
mandamento palavra padre
pastor, missionário, tempo
maior”

7 Replies to “Orun Ayé – “Os Dez Mais da Ilha, e os Dez Mais Trash””

  1. Oi Aloisio. Gostei da sua lista dos sambas da União da Ilha. Mas na minha lista, alem da ordem ser diferente ( o primeiro seria Domingo, por exemplo) apareceriam o Bom Bonito e Barato e o Um Heroi, um Enredo e uma Canção ( que acho maravilhoso, apesar do desfile fraco daquele ano). Tiraria da minha lista os sambas de 96 ( que acho muito bom) e o de 90 ( que acho mediano).

  2. Adorei a lista dos sambas Trash. Esse do garotinho me deu ansia de vômito! E o da Patricia Amorim, apesar de ser realmente uma porcaria, fiquei sabendo que ele faz um sucesso danado em alguns prostibulos da cidade! hahahaha

  3. O que é esse samba concorrente no Império…Cruzes ! Foi duro de ouvir até o final, quase não consigo. Torturante…rsrs.

    Rafael, Acho Domingo o samba mais gostoso da União tb. No mais,Pedro, ótima lista e merecida menção ao samba de 2001.

    Um abraço

  4. Uma lista como a da União da Ilha é difícil mesmo de fazer porque vai muito do gosto. A do trash acho que o primeiro lugar é unanimidade rs

  5. Esse último samba é dadaísta. Faria um enorme sucesso no cabareol voltaire no carnaval de 1917.

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