O editor e a colunista

Como eu havia anunciado na última terça feira, temos uma estreia nesta sexta. Trata-se da coluna “Desenferrujando & Consertando”, assinada pela fisioterapeuta Daniela Souto – na foto a meu lado, além da ex-colunista Nívea Richa e do titular da “Sabinadas” Fred Sabino.

A coluna será quinzenal, sempre às segundas feiras. Na estreia a colunista fala de um mal que afeta muitos brasileiros, inclusive este Editor Chefe: os problemas da coluna vertebral.

Coluna Vertebral – Parte I

É com satisfação que respondi ao convite do Pedro Migão para escrever no Ouro de Tolo, na coluna Desenferrujando e Consertando. Meu nome é Daniela Souto, sou fisioterapeuta, professora de Educação Física, especializada em RPG, treinamento desportivo e blogueira.

[N.do.E.: corneteira também, em especial falando do Flamengo (risos)]

O tema da primeira coluna será Coluna Vertebral até porque, quando se lê o nome da coluna, é a primeira coisa que vem à cabeça. Ou não?

Difícil encontrar um adulto que, em algum momento da vida, não tinha sofrido com dor na coluna, seja em que região for. Antes de se entender da onde vem a maioria das dores da coluna que se sofrem, vamos a um resumo para entendermos como a manutenção de bons hábitos é importante no seu dia a dia. 

Nossa coluna vertebral é formada por 33 vértebras. Entende-se como vértebra cada osso que é disposto um em cima do outro. Tem a sua origem no crânio e inserção (o final) no íliaco (osso do quadril). É dividida em quatro regiões: Cervical, Torácica, Lombar e Sacro-Coccígea.

São 7 vértebras cervicais, 12 torácicas, 5 lombares, 5 sacrais e cerca de 4 coccígeas. Entre um corpo vertebral e outro está o disco intervertebral. As vértebras sobrepostas formam um canal – chamado canal medular – que contém no seu interior a medula espinhal ou nervosa. Essa medula é a continuação do cérebro, que se prolonga até o início da região lombar (na altura da primeira vértebra lombar – L1) e depois continua na forma de centenas de filetes nervosos muito próximos uns dos outros, que no seu conjunto se chama cauda equina (por sua semelhança à cauda de cavalo). Guarde esse momento que mais adiante você vai entender porque, muitas vezes, formigamentos e falta de força em braços e pernas podem vir da coluna. 

Para fazer a articulação desses ossos, para que eles tenham movimentação que permitam a sustentação do nosso peso ou a sustentação de outros pesos (como carregar volumes diversos) dentre outras coisas, nossa coluna tem duas características básicas, origem e o que causam muitos dos problemas que ela dá aos seres humanos. Ela tem um complexo nervoso, ligamentar, vascular muscular e articular “poderoso” e complicado e curvas fisiológicas estruturais (entre cifoses e lordoses) que auxiliam na descarga do peso corporal. 

Mas o que isso tem a ver com o meu dia a dia? Perguntaria o leitor.

Embora a estrutura óssea da coluna vertebral tenha o “poder” de sustentar uma quantidade grande de peso, bem maior que o seu peso corporal, o complexo que está ao redor dela não está: principalmente o muscular. A musculatura que rodeia a coluna, em qualquer área, pode sofrer com as más posturas do dia a dia, sobrecarga de tensões, pesos sendo levantados e carregados de forma equivocada, movimentos repetidos causando um desequilíbrio que traz dor, incomodo e modificação da estrutura da coluna vertebral.

É como se tivesse um ‘cabo de guerra’ com cada cabo saindo de uma vértebra. Por mais protegidas que essas vértebras sejam por outras estruturas, se um lado puxar mais que o outro (e isso acaba acontecendo por causa da má postura, dominância lateral, carregar peso de um lado só), haverá a modificação estrutural da coluna vertebral.

Essa modificação não traz apenas dor local: ela pode trazer alterações de sensibilidade, que resultam em formigamento e falta de força em braços e pernas, além de causar um desgaste das suas cartilagens – produzindo alterações degenerativas que são a artrose e os bicos de papagaio. 

Conseguiu entender porque a boa postura, aonde não há dominância de lado para afazeres do dia a dia é tão importante para manutenção da boa saúde a sua coluna?

Muitos dirão que carregar aquele peso errado uma vez ou falar no telefone com o pescoço ajudando não modificará toda essa “história”. Mas e se for um hábito? Comece a observar, desde já, para aonde o cabo de guerra do seu corpo está puxando mais. É para frente, para esquerda, para direita, para trás? Vou te dar uma dica: se você já escutou que tem uma escoliose, ou o seu lado direito ou o esquerdo está ganhando. Se você de uma hiperlordose ou hipercifose, o lado anterior (frente) ou posterior (trás) está ganhando. 

Vamos algumas dicas básicas para melhorar

1. Durma de lado com os braços estendidos ao lado do corpo e com os joelhos e coxas moderadamente dobrados. Dormir numa posição confortável evita o cansaço da musculatura corporal. 

2. Quando deitado de costas, use algo sob as pernas. Coloque um travesseiro entre as pernas quando dormir de lado, para que uma perna não caia sobre a outra. Assim não há desequilíbrio na estrutura da coluna quanto você descansa. 

3. O colchão mais indicado é o semi-rígido (colchão de espuma) com densidade entre 28 ou 33. Mas não se prenda muito a isso. O importante é você conseguir dormir bem, para que não haja acúmulo de tensões na musculatura. 

4. Procure sentar-se sempre alinhado com o eixo da cadeira. Use cadeira firme, descanse os braços, mantenha os joelhos elevados. No automóvel não afaste o assento em demasia. Evite, mesmo, sentar sobrecarregando a parte de baixo da coluna, como se estivesse quase deitando na cadeira. Essa parte debaixo suporta uma força maior do que a coluna inteira, mas não abuse. Ainda mais porque tem o peso da barriga para contrabalancear e ajudar a piorar essa estrutura (lembra do desequilíbrio corporal falado lá em cima?) 

5. Nunca dobre seu corpo à frente sem dobrar os joelhos. Lembre-se disto quando estiver vestindo roupas ou sapatos, escovando os dentes ou lavando o rosto. Estiramentos e lesões podem ocorrer. É a famosa dor que “resolvo com relaxante muscular” mas, com acúmulo, traz um mal terrível. 

6. Ao levantar pesos ou abaixar para apanhar objetos no chão, dobre os joelhos e mantenha o tronco ereto. 

7. Quando permanecer em pé por muito tempo, use um apoio para dobrar o joelho. Assim você relaxa a musculatura para-vertebral. 

A coluna vertebral tem muitas nuances, muitas patologias com vários graus de comprometimentos que influem e muito na vida de muitas pessoas. Em muitos casos, medidas preventivas, como essas dicas, são paliativas e um tratamento como a fisioterapia ou o RPG (reeducação postural global) se faz necessário. E quanto mais comprometida a sua postura e a estrutura da coluna estiver, provavelmente mais longo será o tratamento para reequilibrá-la e fazê-la funcionar perfeitamente. 

Até a próxima, com a segunda parte deste texto!