Longe dos holofotes, distante da grande mídia e alheio aos burburinhos das redes sociais, meu amigo Fernando Szegeri é um inventor de generosos brasis. E é um inventor porque foi, nas dobras do tempo e no limo escorregadio das pedrinhas miúdas, inventado pelas coisas brasileiras.
Szegeri cantou em Oswaldo Cruz, batucou em Pirapora, bebeu em todas as biroscas paulistas, se lavou no Rio Negro, bateu cabeça no roncó e pisou as terras áridas e fraternas das gentes que, nos fuzuês das tabocas severinas, alumiam o breu de formosuras e desfazem o nó do mundo.
O Brasil do meu amigo é intangível; triste e bonito em suas festas. É o país de malandros encantados e farristas desenxabidos; é o porto seguro das morenas de Cabedelo, senhoras de artesanatos paridos em palhas de coqueiros e folhas de palmeiras. O vento, no país do meu malungo, canta em suas asas uma marcha-rancho antiga, triste de marré-de-si.
Afora isso, é um país de trajes nobres: Saias rendadas das moças do Cordão Encarnado, manto do Divino, filá de Obaluaiê, , machado de Xangô, cocar de caboclo, jóia de Tóia Jarina, quepe de marujada, terno branco dos pilintras, macacões de operários da paulicéia, gibões de couro e saiotes femininos, feitos com as folhas da jussara e enfeitados com miçangas coloridas. 
Pois o Szegeri resolveu transformar em livro suas reflexões – escritas com a leveza do miudinho de Tia Eulália e o peso rigoroso de uma caneta que tem a autoridade do opaxorô de Oxalufã, o dono do pano branco. O lançamento do livro, Outono do meu tempo, vai ocorrer na livraria Folha Seca, no final da tarde desta segunda-feira, dia 3 de dezembro.
Eu, que gosto de escrever brasileirices, acho que o Szegeri é, para a malungada, uma espécie de Velho Januário, o pai de Luiz. Quando o cabra cisma de arrepiar no fole, o negócio é parar e aprender. O mundo grande das modernidades é, afinal, bem menor do que a caneta virtuosa e desvirtual do meu amigo. Uma caneta de oito baixos.
No futuro, quando o Chico, filho dele, for bisavô, o Szegeri, morando na Noite Grande, continuará presente nas rodas de samba, coco, calango e curimã desta nossa terra generosa; o Brasil  que há de prevalecer nas arrelias do Tempo, pai dos nossos filhos e  nosso pai.
Abraços

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