Eis que, finalmente, as eleições municipais de 2012 já tem todos os seus vencedores conhecidos. Vencedores nas urnas, como candidatos, e vencedores no jogo político do Brasil.
O primeiro deles, indubitavelmente, é o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva. Demonstrando uma vez mais uma análise política aguçadíssima, montou toda a estratégia que permitiu a vitória de Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo, cidade que vinha sendo mantida como bastião do PSDB e de legendas satélites.
Lula anteviu que o PT somente conseguiria disputar de forma competitiva a cidade paulista com um candidato que soubesse dialogar com a classe média menos reacionária, além de representar uma oposição consistente ao projeto do prefeito Gilberto Kassab, muito mal avaliado.
A indicação de Haddad mostra, também, outra faceta da estratégia petista engendrada por Lula: a de apostar em nomes novos, forçando uma renovação no partido e assim “descolando” a imagem do partido ao julgamento do Mensalão. Esta foi uma aposta vista em várias cidades, tendo na capital paulista seu maior sucesso, inequivocamente.
Quanto ao derrotado José Serra, sua derrota talvez seja boa para que em médio prazo a oposição se reestruture e busque um projeto de poder alternativo. Como bem observou um analista ontem, bastava ver a foto de seu discurso (acima) após o resultado ontem para se perceber que o PSDB, hoje, tem um perfil branco, masculino, idoso e de elite, pelo menos em seus dirigentes e lideranças. Só faltaria ter seu “Tea Party” para ficar igual ao Partido Republicano americano.
Serra emperrou a renovação do partido nestes últimos anos e sua derrota, ainda que ele diga que não irá se aposentar, certamente o tira do quadro para candidaturas ao Executivo. O PSDB irá se renovar na marra, mas é algo que visa a 2018. Aécio Neves deverá ser o candidato do partido à Presidência em 2014, mas é uma luta bastante inglória – até porque ele tem alguns “telhados de vidro” bastante evidentes.
Entretanto, se o PSDB quiser ser uma alternativa competitiva sua doutrina precisa voltar ao espectro de centro, ainda que conservador. Sendo contra as cotas, contra políticas sociais, contra a melhoria do poder de compra dos trabalhadores e pró-americano, como o é hoje, suas chances de voltar ao poder caem consideravelmente. Não me parece haver mais espaço para políticas elitistas ou excludentes em termos de propostas públicas – graças a Deus o Brasil mudou.
A propósito, esta política demófoba implantada por Serra e Kassab sucessivamente em São Paulo parece ter influência considerável neste resultado eleitoral. Vale lembrar que em São José dos Campos, onde ocorreu o lamentável episódio da desocupação de “Pinheirinho”, o PT venceu as eleições após um longo domínio tucano.
Também se ressalte que o PT conquistou importantes prefeituras paulistas e parece estar em uma posição mais confortável na busca pelo governo paulista para 2014. Ainda mais se o próprio Lula vier candidato ao governo estadual, conforme se especula.
Outro resultado muito expressivo para a base governista, onde uma vez mais se viu o dedo do ex-presidente, foi em Curitiba. Candidato pelo PDT com o apoio do PT, após ter sido defenestrado do PSDB, Gustavo Fruet se elegeu prefeito em uma cidade que possui um anti petismo e um anti lulismo arraigados.
Lula teve o mérito de comprar a sugestão dada pela senadora Gleice Hoffman de lançar Fruet e, dado o desgaste do governador Beto Richa, não é mais impossível se pensar que a base governista possa ganhar o governo do estado em 2014. O PT perdeu nas outras cidades em que esteve no segundo turno no estado, mas por margens bem menores que as verificadas em outros anos.
Quanto à oposição, obteve vitórias em capitais de peso menor como Manaus e Belém (com o PSDB), perdeu de forma apertada em Rio Branco e arrasadora em João Pessoa (ambas o PSDB para o PT) e conquistou uma vitória importante em Salvador, ainda mais por significar algum oxigênio ao DEM.
Este resultado de Salvador pode ser explicado pela concomitante má avaliação do governador Jacques Wagner e do prefeito atual João Henrique. Lamento, apenas, que a doutrina representada pelo carlismo arenista tenha renascido devido a isso.
Aqui no Rio é digna de nota a demonstração de força dada pelo ex-governador Garotinho na eleição de São Gonçalo, segundo maior colégio eleitoral do estado. Neilton Mullim, correligionário do ex-governador, ganha uma plataforma consistente para manter Garotinho com importância no quadro político do estado.
Dos municípios do estado do Rio merecem destaque também a eleição do presidente da Inocentes de Belford Roxo Reginaldo Gomes como vice prefeito – em uma chapa encabeçada pelo PCdoB – e a derrota do ex-prefeito e deputado estadual Washington Reis em Caxias, este apoiado pelo governador e pelo prefeito da cidade do Rio.
Outra grande derrotada, ainda que não tenha concorrido diretamente, foi a grande mídia. Esta colheu derrotas expressivas apesar de ter jogado às favas o jornalismo para fazer propaganda partidária aberta e escancarada, mesmo na televisão – que é uma concessão pública.
Mesmo martelando o “Mensalão” de forma tonitruante contra o PT e os candidatos da base governista, o efeito nas votações foi pequeno. O recado do eleitorado em geral foi claro: ao contrário da jurisprudência formada pelo Supremo Tribunal Federal, a corrupção no Brasil não foi inventada em 2003 e os partidos são mais ou menos semelhantes nesta questão. Uma vez mais o povão votou com o bolso.
Contudo esta campanha eleitoral deixou claro que algum tipo de regulação da mídia precisa ser estabelecido, a fim de equiparar o poder da imprensa ao dos poderes constituídos. Não digo moderar conteúdo, mas sim democratizar os meios de comunicação coibindo coisas como a propriedade cruzada e o monopólio de um mesmo grupo nos diversos veículos.
Por exemplo, a Globo aqui no Rio tem televisão, TV a cabo, jornal, rádios, a empresa que distribui TV paga e a estrutura física. Em lugar nenhum do mundo isso é permitido, nem nos Estados Unidos.
A mídia brasileira é a mais desregulamentada do mundo, e qualquer tentativa de se atacar estas questões logo é bombardeada sob o manto da “liberdade de imprensa”. A questão é que hoje, no Brasil, não existe liberdade de imprensa: existe “liberdade de empresa”, que é algo muito diferente – e profundamente anti-democrático.
Mas, sobre imprensa, o colunista Walter Monteiro tratará no post de amanhã de sua coluna “Bissexta”.
Finalizando, cabe destacar que o PSB se afirmou como uma espécie de “oposição de centro”, flutuando dentro e fora da base governista em função de suas conveniências. Não me parece ter organicidade para uma candidatura competitiva à Presidência em 2014, mas pode representar a médio prazo o principal espaço de oposição ao Governo Federal – ocupando o espaço de centro e, consequentemente, o lugar do PSDB.
Entretanto é algo que onde somente mais perto das próximas eleições haverá condições para uma análise mais aprofundada.
(Foto: Estadão)

10 Replies to “As eleições e o quadro político brasileiro”

  1. Este blogueiro é um (mau) comediante quando se mete a vomitar asneiras sobre política.

    Manaus e Belém foram grandes vitórias para aquelesque combatem o bom combate. E o prefeiro eleito de Salvador é um quadro aspirante à Presidência em um futuro próximo.

    Lamento que em São Paulo teremos a volta dos pedintes, pobres, favelados, assaltantes e toda espécie de lúmpem a embaçar nossos olhos. Foi nisso que resultou não terem prendido o apedeuta da língua presa.

  2. Depois da vitória do laranja do apedeuta, vou me mudar para Ibiza. São Paulo vai ficar intransitável com a volta dos bárbaros ás ruas.

  3. Apenas alguns comentários a fim de ainda melhorar o que o amigo escreve … Òbvio que o Lula é o grande vencedor devido a SP …Mas teve algumas derrotas duras e que sem ministérios seriam de difícil recuperação para 14… Três capitais do NE que eram aliadíssimas hoje estão contra o PT mas num aspecto local.. e é aí que quero comentar..
    O eleitor nesse pleito vota pelo ônibus , o pronto socorro , a feira livre..
    na boa… alguém vota em eleição municipal pensando na falta de leito hospitalar em outro estado? duvido..
    o Kassab abandonou a cidade nos últimos dois anos pra formam o PSD e esse resultado é o da eleição.. abandono e aonde se sente mais isso é onde o Hadad foi muito votado..
    o PSDB nunca teve SP como bastião , pq só elegeu o Serra , novamente falando , muito mais por causa do péssimo governo da Marta do que por outras facetas presente em eleições nacionais…

    abs

  4. Quanto mais leio estas barbaridades e mentiras deste blogueiro, mais me convenço de que ele é um analfabeto iletrado em sua totalidade desprovido de suas faculdades mentais. Até um destes usuários de crack que nos infestam em São Paulo é mais inteligente que ele.

    E concordo com a comentarista acima, deveria haver um limite de renda para se poder votar. O Brasil para os verdadeiros brasileiros.

  5. Cara, o que me impressiona é que o Serra — o mais evidente nome da oposição no país — perdeu em casa para um poste!! Já tinha perdido para outro (Dilma), mas era uma eleição nacional, com outras peculiaridades.

    Pior é lembrar que ele, Serra, teve mais votos que a Dilma 2 anos atrás. E agora perde para um ninguém! Incrível!

    Abs, Marco.

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