Um dos assuntos mais palpitantes dos últimos dias foi o assassinato com requintes de crueldade do executivo da empresa alimentícia Yoki Marcos Matsunaga. Como os leitores já sabem, ele levou um tiro na cabeça e depois foi esquartejado: seus pedaços divididos em malas e desovados em Cotia, na região metropolitana de São Paulo.
De acordo com a versão da assassina a atitude foi tomada em reação ao fato do marido ter uma amante e de ter agredido-a física e mentalmente durante uma discussão. Particularmente, acho esta versão um tanto quanto estranha, haja visto que na semana anterior ela havia comprado as malas onde transportou os pedaços e dispensado a babá, bem como havia feito curso de tiro antes – a meu juízo, foi algo premeditado.
Mas não é sobre o crime em si e suas motivações que quero discorrer. E sim sobre os “dois pesos e duas medidas” que muitas vezes há em situações deste tipo.
Imagine o leitor o contrário: que ele tivesse matado a esposa e depois a esquartejado. Com certeza a imprensa e a sociedade em geral estariam bradando a pena de morte para ele, chamando-o de “monstro”, “assassino” e coisas correlatas. Ele já estaria condenado antes mesmo de ser julgado, como alguns outros casos famosos recentes.
Entretanto, o sentimento que domina parte da imprensa e parcela expressiva da sociedade é de que “ele mereceu”. Como escrevi no Twitter no dia em que foi revelado o bárbaro crime, tenho quase certeza de que a assassina não ficará mais do que dois anos na cadeia, isso se chegar a ser condenada.
Não sou louco de ignorar que a violência do homem sobre a mulher é muito maior que o inverso, tanto que a própria lei brasileira já prevê um tratamento diferenciado – corrijam-me os leitores advogados, mas a “Lei Maria da Penha” até onde sei somente vale para crimes contra a mulher. Contudo me parece haver uma clara tendência de se culpar o homem até quando ele é vítima, como é o caso.
Ah, o sujeito tinha uma amante, etc e tal? Ok, estava errado, mas isso não é motivo para levar um tiro na cara e virar picadinho humano. Até porque ao que parece a tese de “legítima defesa” me parece bastante insólita pelos motivos que expus no início deste artigo.
Alias, se formos olhar de forma racional o divórcio sairia bem mais lucrativo para a esposa traída. Ainda que o casamento fosse no regime de separação de bens – não tenho este dado aqui – certamente ela teria um bom pé de meia para reiniciar a vida.
Contudo, apostou justamente nisso: matar o sujeito, contar com a boa vontade da sociedade e da Justiça e depois usufruir da herança. Daqui a dois, três anos todo mundo se esqueceu deste caso – como se esqueceu do ocorrido aqui no Rio onde a esposa matou o marido com uma facada pelas costas, alegou legítima defesa e pelo que pesquisei continua solta até hoje, três anos depois.
O ponto a que quero chegar é exatamente este: não há isonomia para delitos parecidos, ou mesmo condutas parecidas. Estou aqui me referindo a crimes cometidos por maridos ou esposas, mas poderia estar falando de outras situações da vida humana: a avaliação é feita de acordo com a cara do freguês.
A Justiça brasileira é bastante parecida: não julga a meu ver pela letra fria da lei, mas sim de acordo com a cara – ou a carteira – dos reclamantes, ou das pressões da sociedade e midiáticas.
Outro bom exemplo desta questão é o julgamento do Mensalão, que claramente está sendo pautado pela mídia e por partidos de oposição. Note-se que não estou aqui colocando minha opinião sobre o assunto, mas para mim está claro que o Supremo Tribunal Federal foi atropelado em sua definição de pauta por questões político-partidárias.
Voltando ao assunto do post, chega a ser insólito ver paladinos da justiça buscando atenuantes para a atitude da esposa. É o velho maniqueísmo de que a violência doméstica tem apenas uma direção – que achava até válido no momento da afirmação da luta feminina, mas hoje é absolutamente anacrônico.
Os crimes e castigos, a meu ver, devem ser avaliados, valorados e julgados independente de sexo, raça ou condição social. Um crime bárbaro como esse é bárbaro por si só, sem atenuantes.
Até porque quem premedita dar um tiro na cara do conjugue e depois fazer um picadinho dele não me parece ser uma pessoa normal: está muito mais para psicopata, mais uma vez deixando claro que não sou profissional no assunto. Chega a ser preocupante pensar que em breve uma pessoa capaz de fazer o que fez com o marido – e pai de sua filha – estará de volta ao convívio da sociedade.
Mas o que se vê é uma condescendência muito grande, com especialmente o público feminino adotando a linha do “ele mereceu”. Estressando-se este argumento chegamos a uma situação perigosa, que é a do primado da “justiça pelas próprias mãos” sobre o Estado de Direito – diga-se de passagem, este fenômeno ocorre muito em outras áreas da vida em sociedade, como o da própria relação da população com as forças policiais.
Por outro lado, discordo de opiniões que vi e li, de que ela teria feito isso por ter sido anteriormente garota de programa. A decência ou o caráter de uma pessoa não devem ser medidos a priori pela sua profissão, desde que obviamente não seja algo que infrinja o Código Penal.
A igualdade entre o homem e a mulher, como a de raças ou credos deve ser estimulada e as ações dissonantes, reprimidas e, sendo o caso, punidas. Mas o contrário a meu ver também não pode ocorrer, ainda mais quando se está diante de algo tão repugnante como um assassinato ocorrido desta forma.
O leitor fique livre para discordar na área de comentários…

18 Replies to “Dois pesos e duas medidas: O Caso Matsunaga”

  1. O Supremo Tribunal Federal não foi atropelado em sua definição de pauta por questões político-partidárias. Apenas administrou seu cronograma de modo a evitar a prescrição de crimes que constam na denúncia do Procurador-Geral da República. A postura dos ministros da Suprema Corte em relação a este caso, até o momento, tem sido digna de aplausos. Vejamos como será no julgamento.

    1. Amigo, a impressão que eu tenho é de que houve pressão sim. Aliás, acho que o Gilmar Mendes deveria se declarar impedido de votar – voltarei ao assunto.

      abs

    2. Declarar impedido por quê? Por não ter cedido à ridícula tentativa de pressão do prepotente ex-presidente? Menos, Migão. No mais, assino embaixo o comentário do Rafic abaixo.

    3. Vamos lá: a tal pressão está na mesma categoria do “grampo sem áudio”: lenda urbana. Por outro lado o próprio Gilmar Mendes já deu declarações dando conta “que todos tem de ser condenados”.

    4. Bom, foi provado que ele foi decapitado ainda vivo, segundo o laudo, e comprar essas malas uma semana antes é bem estranho mesmo. Deveriam descobrir aí se ela não tinha aí um Ricardão coordenando tudo por trás.

  2. 1°: Claramente não é caso de legítima defesa, mas apenas de atenuante por estado emocional. Também duvido que ela fique mais do que 1 ano encarceirada. O problema aqui é que em crimes dolosos contra a vida humana quem decide não é o juiz, mas um juri popular. E Juri é pior que decisão por pênalties. Nunca se sabe o que dará.

    2°: Alias, o certo é ela responder em liberdade ao processo. Não há o menor motivo para responder presa.

    3°: O caso não me pareceu premeditado. Ela deixou certos furos que em uma pre-meditação seriam melhor cobertos.

    4° Já fugindo um pouco do assunto do post, a impressão que me dá é que o assassinado era odiado por todos. E muito me estranhou o fato de que, no dia da divulgação do caso, a receita do dia no site da Yoki ser um “picadinho de carne”…

    5° e principal: tentar colocar no mesmo balaio o caso Yoki e o Mensalão é pura forçação de barra petista. O judiciário e a polícia brasileiros estão se rendendo demais as pressões midiáticas, principalmente na área penal, principalmente nas questões cotidianas.

    Mas o caso do mensalão não foi apressado pela mídia. É uma briga de cachorros grandes, políticos manipulando para os crimes prescreverem de um lado e a mídia pressionando de outro querendo julgamento.

    Pela 1ª vez na nossa história um crime de colarinho branco envolvendo políticos graúdos foi bem investigado e há uma peça jurídica forte o suficiente para embasar uma condenação. Esse é o “problema” do mensalão.

    Por fim, apenas para colmatar o assunto reitero que se o mensalão será julgado junto com o período eleitoral será por culpa única e exclusiva dos réus com suas medidas protelatórias (judiciais e políticas). Em condições “normais” o processo já poderia ter sido julgado facilmente em fevereiro/março (ou até antes).

    Os principais motivos para a marcação em agosto são: a prescrição de 2 crimes em outubro/novembro e a aposentadoria de 2 ministros no mesmo período. Caso o STF permitisse a aposentadoria de ambos, daria margem a 2 nomeações altamente políticas e nada jurídicas, podendo macular a instituição.

    1. Rafic, não é isso que vejo, mas repeito teu posicionamento. Entretanto, já vi vários juristas – inclusive conservadores – dizendo que não há provas nos autos para condenar todo mundo – inclusive o próprio José Dirceu. Vamos aguardar – voltarei ao tema mais tarde.

      O que me irrita neste caso do picadinho – e é o mote central do texto – é a diferença de tratamento entre homens e mulheres neste tipo de caso. Se a Eliza fosse homem ela estaria presa – se bem que, com a vocação psicopata que ela demonstrou, acho complicado deixá-la solta.

  3. Caro Pedro,

    Somente discordo do termo “requintes de crueldade”. Não há crueldade em se picar um corpo humano depois de morto. Há, isso sim, uma frieza exacerbada. Se isso fosse crueldade, os médicos legistas poderiam ser considerados monstros, concorda?

  4. MUITAS MULHERES COMO EU E A ELIZE SOMOS VITIMAS DE HOMENS SACANAS E SEM CORACAO COMO ESSE INDIVIDUO QUE FOI PICADINHO,POREM COMO JA DISSE SOU UMA DESSAS VITIMAS DE MAUS TRATOS PSICOLOGICOS POR SER DE ORIGEM POBRE,E ATE JA FUI AGREDIDA,TRAIDA,O QUE ACONTECE EH QUE ESSE TIPO DE HOMEM EH O PIOR PSICOPATA QUE EXISTE,ELES FAZEM DA TUA VIDA UM INFERNO TAO GRANDE QUE SAO CAPAZES DE IMPEDIR QUE A MULHER SE SEPARE DELES E TENHA MEDO DE PERDER OS FILHOS,TAMBEM FAZEM COM QUE SE SINTAM A PIOR PESSOA DO MUNDO MESMO SE ANULANDO E VIVENDO SOMENTE PARA ELES…RESUMINDO,ACHO QUE A POBRE ELIZA JAMAIS DEVERIA CUMPRIR PENA ALGUMA POR SE LIVRAR DE UM LIXO COMO ESSE ESPOSO DELA QUE TINHA COMO ROBY TROCAR DE GAROTAS DE PROGRAMA A CADA DOIS OU TRES ANOS E PIOR AINDA DEIXANDO FERIDAS PROFUNDAS E INCURAVEIS EM SEUS PROPRIOS FILHOS,CRIANCAS INOCENTES VITIMAS TAMBEM DESSES MONSTROS DOENTES E INSATISFEITOS COM A VIDA!

    1. Ah, querida, colocar tudo em caps lock não vai fazer você ter razão. O cara podia ser um filho da puta sim, mas não merecia ser morto e esquartejado.

    2. Se for assim então o marido tam bém tem direito de matar e esquartejar a esposa por te – lo traido.

  5. GENTE O JAPA PERDEU A CABEÇA PELAS PROST, LITERALMENTE KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

  6. A maior vitima é ela .pelo visto ele era bom colecionador.de armas e de garotas de programa.
    mas o que mais me chama atenção que são as mulheres que mais criticam ela.
    Nem todas se contentam em ser bonequinhas de luxo. Se ela casou e respeitou ele.
    Deveria ser respeitada também.Quantas mulheres traídas sentiram na pele o que ela sentiu.
    Para cada ação á uma reação.

  7. Me desculpem, mas o Cara mereceu, ele sim era um doente incontrolável, só se envovia com garotas de programa, não seria isso um desvio de comportamento sério a ser tratado??? Certo então seria ele continuar mantendo casos com prostitutas e colocando em risco a saúde da própria esposa e filha, ainda um bebê, não me parece que este “calhorda” se preocupava com a família, a espunha de maneira fútil e sem pudores, pois saia com a amante e frequentava restaurantes de uso comum de amigos e familiares, ridicularizando a própria mulher. Fácil falar, melhor pedir a separação, mas pelo que consta a tal Eliza gostava do imbecil e no calor da emoção e da traição, dificil é controlar as atitudes, ainda mais sendo insultada e diminuida moralmente…Mereceu Japa promíscuo!!!

  8. Sinceramente, estou simplesmente estarrecido com alguns comentários que estou lendo aqui. O sujeito podia ter seus defeitos e desvios de caráter, mas ele levou um tiro, foi morto por decapitação, esquartejado e depois espalhado na mata.

    Leitores: isto é crime. Nada justifica uma atitude destas. Mais que crime: é barbárie.

  9. Cara, vc atirar no seu marido ou namorado por legítima defesa pq não aguenta mais apanhar dentro de casa e já sofre isso a ANOS, é uma coisa. Agora atirar a sangue frio na cabeça do marido pq estava sendo traída, isso é desequilíbrio! E ter a coragem de esquartejar alguém que a uma semana atrás vc dizia que AMAVA, esquartejar o pai do seu filho, alguém que dormia com vc, comia na mesma mesa que vc… AH não amigo, aí já é doença!!! Quando vc atira em alguém, é algo muito rápido, as vezes vc cai em si e se arrepende no mesmo momento, mas esquartejar leva tempo, é muito sangue, tem que ter muito sangue frio e tem que ser muito doente pra fazer isso! Ela merecia a pena de morte ou cadeia pra sempre! Pena que nessa Brasil de meu Deus, se vc for condenado a 500 anos de cadeia, vc só paga 30! E se tiver bom comportamento, pega condicional com 5 ou 6 anos! Que merda!

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