Neste domingo, a coluna “Orun Ayé”, assinada pelo compositor Aloisio Villar, trata de dois assuntos que parecem dissociados mas não o são: a política brasileira e o Clube de Regatas do Flamengo.
O País (e o Clube) do “Jeitinho”

A bomba da vez no país é a “CPI do Cachoeira”. Já existem assinaturas suficientes para abertura de uma Comissão Mista Parlamentar de Inquérito. Existe ainda um prazo para que assinaturas possam ser retiradas, mas nesta hora em que escrevo a tendência é que a CPI saia e o momento é dos partidos escolherem seus representantes na mesma.

Carlinhos Cachoeira é um empresário acusado de ligações com o crime organizado e preso esse ano pela Polícia Federal na Operação Monte Carlo, operação que desarticulou a organização que explorava máquinas de caça níquel no estado de Goiás. Escutas da operação acabaram atingindo principalmente o senador Demóstenes Torres do DEM de Goiás, em conversas sobre dinheiro supostamente relacionado a propinas.

Essas escutas surgiram após a prisão e chegaram ao governador de Goiás Marconi Perillo (PSDB) e a Cláudio Monteiro chefe de gabinete do governador de Brasília Agnello Queiroz (PT). Reportagens também mostram a Construtora Delta, maior empreiteira do PAC do governo federal e que teve José Dirceu como consultor como provável envolvida no esquema. Além de Roberto Civita, editor da revista de ultra direita “Veja” que manteve mais de duzentas ligações com Carlinhos Cachoeira.

Isso tudo faz com que a República entre em polvorosa, governo e oposição se ataquem e se acusem de envolvimento com Cachoeira e de tentar impedir a CPI. Provavelmente muita coisa irá para o ventilador e muitas “casas podem cair”. Escândalo que pode vir a ser parecido com o dos anões do orçamento de 1993, do mensalão de 2005  – que derrubou quase todo o governo do PT menos o presidente – e o de PC Farias de 1992, onde nem o presidente Collor escapou.

Escândalos, escândalos, somos o país dos escândalos. Que o povo assiste a tudo resmungando, mas não faz nada para mudar, assiste a tudo em berço esplêndido.

Mas por que isso?

Alguns dizem que é por nossa formação. O Brasil não precisou de guerras para se tornar independente, para formar seu território: tudo aqui foi por meio de negociatas.

Pero Vaz da Caminha na famosa carta que mandou ao rei de Portugal pediu emprego a um parente. Tiradentes foi na verdade um “bucha” dos inconfidentes mais endinheirados e assumiu tudo sozinho quando não era líder de nada. D. Pedro virou Imperador herdando o trono de seu pai para que a república não fosse instaurada e Portugal de alguma forma continuasse comandando.

Até mesmo na nossa reabertura política em 1979 foi realizada uma anistia muito festejada por quem queria o fim da ditadura que assim pôde ver vários brasileiros voltarem a seu país. Mas essa mesma lei “limpou” militares torturadores e assassinos que não poderiam mais ser julgados por seus atos. E o povo só foi para a rua derrubar o Collor em 1992 depois de uma atitude errada dele que pediu que o povo saísse para defendê-lo e a Globo colocar no ar a minissérie “Anos Rebeldes” que falava do golpe de 1964.

Quero por sinal abrir parênteses polêmicas para as duas últimas situações.

Sou neto de militar que estava na ativa durante o golpe e não morreu rico. Longe de mim querer defender o regime que foi cruel, assassino e que tráz sequelas pro país até hoje. Mas eu não tenho conhecimento de nenhum militar daquele período que tenha morrido rico, nem mesmo os que governaram, enquanto alguns de esquerda daquele tempo depois caíram em casos de corrupção e fortunas mal explicadas.

Outra é que alguns dos líderes da juventude na era Collor viraram políticos iguais aqueles que combatiam. Com o mesmo ranço e desvios.

Somos o país do jeitinho, para tudo se tem um jeitinho. Como dizia aquele famoso comercial estrelado pelo ex jogador Gerson “por que a gente quer levar vantagem em tudo, certo?”. O brasileiro reclama dos políticos, mas se leva multa no trânsito oferece cervejinha ao guarda, entra no twitter para saber onde tem blitz e fugir dela, estaciona em lugar proibido, faz “gato” de água e luz…

E de forma hipócrita reclama dos políticos que são simplesmente cidadãos brasileiros como nós, nenhum deles está lá porque botou arma na cabeça do eleitor, foram eleitos por nós e são o espelho da sociedade. E o brasileiro é tão hipócrita que eu mesmo já fiz algumas dessas coisas e estou aqui escrevendo essa coluna.

Mas graças a Deus tem os de boa índole, que respeitam as leis e principalmente o semelhante não querendo passar por cima de seus direitos. Nós mesmos assim que recebemos o dinheiro do samba cumprimos todas as nossas obrigações, alguns receberam mais do que mereceram mas de acordo com o combinado – e fomos rotulados de “honestos otários”. Aqui no Brasil ser honesto é sinônimo de ser otário e enquanto for assim os “cachoeiras “produzirão águas fortes.

Patrícia devolva o meu Flamengo

Aproveitando que o assunto de hoje é corrupção e local que o “jeitinho” resolve não poderia deixar de falar no Flamengo.

Evidente que vocês já perceberam que torço pelo Flamengo e como todo rubro-negro sou apaixonado pelo clube. Como todo rubro-negro que enxergue um pouco odeio todos os dirigentes do clube. Não entra na minha cabeça o Flamengo, clube com mais de quarenta milhões de pessoas, ter a marca que tem, o potencial que tem e não ser uma das instituições mais fortes, poderosas e ricas do planeta. Tem que ser muito incompetente para gerir um gigante como o Flamengo e fazer dele um clube endividado, falido mesmo.

Não falo apenas da Patrícia Amorim que transformou o Flamengo, um clube de futebol, em um clube de piscina. Que usa para se defender de seus fracassos o argumento que reformou a sede esquecendo que ela preside o Clube de Regatas do Flamengo, não o Tijuca Tênis Clube. Isso vem de muitos anos, desde que eu era criança: incompetência atrás de incompetência, má gestão atrás de má gestão, patifaria, corrupção, brincadeira com a paixão dos outros.

O Flamengo precisava de um Fidel Castro, um Che Guevara, ou que seus torcedores se juntassem e tomassem o clube à força dizendo “quem manda aqui é a gente”. Não sou de culpar jogador e técnico até porque acho isso muito simplista: o problema é muito maior, é mais enraizado e repugnante.

É a luta pelo poder, mesmo que seja poder de um clube falido. É o dinheiro que entra fácil, esses seres maléficos e de péssimo carater que vêem o clube ser eliminado na primeira fase de uma competição e vão jantar num restaurante de luxo, beber e dizer “que chato, perdemos”. Enquanto o “honesto otário” acorda seis da manhã, rala o dia inteiro e junta o parco dinheiro que tem para ir a um estádio ver o time do coração jogar.

É hora de dar um basta , de parar de brincar com o amor das pessoas, de mostrar um mínimo de dignidade e decência e se perceber que não leva jeito pra coisa ir embora e você não tem Patrícia Amorim: sua incompetência está mais que provada. Que você e seu grupo devolvam o meu Flamengo, a torcida tá se lixando se você reformou a piscina, quer ter orgulho de seu clube como sempre teve. Que você e os que lhe antecederam sumam do Flamengo e parem de brincar de má gestão com o clube.

Chega de jeitinho, seja com clube de futebol, seja com o país. Chega de dirigentes se alfinetarem e torcerem contra quando não estão no poder ou de oposição e governo competirem pra ver quem roubou mais o Brasil.

Brasil, Flamengo…
…mostrem a sua cara. Orun Ayé!

One Reply to “Orun Ayé – "O País (e o Clube) do "Jeitinho"”

  1. O Flamengo precisava de um novo presidente e de uma diretoria com nomes que não se alinham às correntes políticas existentes no clube.

    O problema é que, quem está lá, não quer deixar isso acontecer. Lembro do caso de uma chapa de torcedores OFF-RJ que se formava para concorrer à presidência. Nomes novos com ideias inovadores para dirigir o Flamengo. A reação imediata da diretoria foi majorar o valor da mensalidade dos sócios OFF-RJ para um valor absolutamente incompatível com o condição de sócio que não usufrui das dependências do clube.

    Espero, no entanto, que neste ano de eleição surja uma chapa composta por pessoas diferentes e que não estejam alinhadas ao casal Sihman, ao Kléver Leite, ao Delair Dumbrosk e outros que tiveram gestões desastrosas à frente do Flamengo.

Comments are closed.