O leitor deste Ouro de Tolo deve ter visto no post de ontem que viria à Cidade do Samba nesta terça feira. A idéia era visitar a Cidade do Samba, ver especificamente o barracão da Portela e, se possível, conversar com o Presidente Nilo Figueiredo.
Já adianto que, por questões de horário, não consegui o último objetivo. A entrevista sairá, mas possivelmente apenas após o carnaval. Por outro lado, fiz uma visita absolutamente completa ao barracão da escola.
Os seguidores mais antigos deste espaço sabem que sempre vou à Cidade do Samba na segunda quinzena de janeiro. Desta vez não consegui tirar fotos, primeiro porque a vigilância aumentou e, segundo, porque as varandas das quais se pode ter uma visão privilegiada dos barracões estão fechadas. Como as obras de reconstrução dos barracões incendiados ainda seguem, a visitação estruturada está suspensa – o que não impede as pessoas de acessarem a Cidade do Samba.
Irei dividir o post em duas partes: a Portela, onde fiz uma visita completa, e as outras escolas, onde vi apenas o que era possível dos portões.
Portela
Animado e otimista. Assim saí da visita ao barracão da minha escola, após visita guiada por amigo que está auxiliando na preparação do carnaval da escola. Ou seja, desta vez não precisei dar aquela “carteirada” básica que fazia todo ano valendo-me da condição de sócio contribuinte.
Chamam a atenção duas coisas: primeiro pelo fato de ser o barracão mais adiantado da atual gestão e segundo pelo tamanho das alegorias. Ao contrário dos anos anteriores, não há quase espaço para se circular pelo barracão, dada a expansão dos carros.
Quanto ao estágio, há quatro carros em processo inicial de decoração, três com o madeiramento concluído e um encerrando o trabalho de ferragem. Além disso há dois tripés e um “pede passagem”, todos na fase da madeira – além de um tripé na ferragem.
Não é nem de longe o barracão mais adiantado, mas está na média – há mais atrasados. Chama a atenção a clareza do enredo: mesmo com os carros na madeira percebe-se claramente qual é e sua posição do enredo. Em especial os dedicados à Igreja do Bomfim, ao Pelourinho, ao de Iemanjá, o dos orixás, o dedicado às festas portelenses e o da festa de coroação religiosa, ainda que com decoração iniciando ou na madeira, estão muito claros.
Percebe-se um capricho visível nas alegorias que estão em processo de decoração, com muitos detalhes e bastante rebuscado, típicos do talentoso carnavalesco Paulo Menezes. Mesmo nas alegorias apenas na madeira o traço do artista é visível. O carro que representa o Pelourinho – e o Olodum – tem o local facilmente reconhecível para quem conhece a capital baiana. Além disso, são alegorias bem maiores que as apresentadas nos últimos anos.
A águia que virá no último carro, o das festas portelenses, retratada em matéria recente na imprensa já iniciou o processo de pintura, estando muito bonita. Sobre a águia inicial, a mais esperada? Não vi.
Visitei também o atelier, entregue recentemente mas que já tem o processo de produção de fantasias a todo vapor. Na foto o leitor pode ter uma idéia do trabalho de artesão, com as pedrinhas sendo coladas uma a uma. Percebi que há bastante material e que, embora não esteja adiantado, não haverá a correria dos últimos anos – vai terminar a tempo. Também vi alguns protótipos de fantasias e fiquei bem impressionado.
A pedido da escola, muito do que ouvi e vi manterei segredo, para causar impacto. Mas uma coisa é certa: a Portela vem para brigar pelo título.
Demais Escolas
Em poucas linhas, um quadro escola a escola, dentro das limitações de visão.
Renascer: o que tem pronto está muito colorido, dentro das obras do homenageado do enredo. Adiantado tendo em vista os problemas que a escola teve.
Imperatriz: as baianas de um dos carros são esculturas recicladas do desfile de 2009. A coroa está em tons de marrom e dourado e há um carro ainda iniciando madeiramento que tem uns “queijos” bastante toscos. A escola me pareceu atrasada.
Mocidade: pelo que se pôde ver tem um carro muito legal retratando uma favela, em início de decoração. Como os portões estão tapados com plástico é um dos que se pode ver menos coisas.
Porto da Pedra: tem carro ainda no chassis, e o que está decorado está estranho, para se dizer o menos. Não gostei.
Beija Flor: surpresa – a escola ainda tem carro no ferro. Os bons e velhos monstros, depois de uma folga, estão de volta. Nada muito diferente dos enredos sobre o Maranhão.
Vila Isabel – a escola mais atrasada. Carros no chassis, na ferragem, e o que já foi decorado dava impressão de que era “o que deu para fazer”, não o que se queria. Depois, conversando com pessoa da diretoria da escola, ela me disse que “era o programado”, o que torna a situação mais complicada ainda.
São Clemente – muito amarelo, esculturas de pierrôs recicladas e nada que chame muito a atenção.
União da Ilha – é o barracão do fundo da foto acima. Adiantada, mas menos que os relatos que havia recebido. A escultura de Darwin do ano passado volta em um dos carros.
Salgueiro – não está feia, longe disso, mas abaixo do padrão habitual de Renato Lage. Muito laranja no que está pronto. Ainda assim, foi um dos que mais gostei, embora não chegue a ser brilhante.
Mangueira – outra que tampou com plásticos, mas está bem atrasada. O pouco que está adiantado está muito pequeno e de gosto bastante duvidoso. Preocupante, ainda mais se sabendo dos sérios problemas financeiros da escola.
Tijuca – barracão de Paulo Barros só se vê mesmo na avenida, mas tem um carro com umas esculturas vermelhas vivas parecendo Diabos bem interessante. Três carros – ou tripés – parecendo bolos de noiva pretos.
Grande Rio – ainda tem bastante coisa iniciando ferragem, e tem um carro com cadeiras de rodas penduradas de gosto bastante duvidoso, para se dizer o menos – eu achei feio. Olhando-se o samba e o que vi no barracão não diria que vem para a briga, mas sabe-se de sua força política – não pode ser descartada.
Conversando com pessoas ligadas às escolas na Praça de Alimentação, parece formado o conceito de que, fora percalços extraordinários, cinco escolas estão bem à frente por um lugar no Desfile das Campeãs: Grande Rio, Beija Flor, Salgueiro, Portela e Tijuca. União da Ilha, Mangueira e Mocidade brigariam pela sexta vaga.
Também está claro que será um carnaval fraco em termos plásticos, embora a meu ver a alegação de que “está faltando dinheiro” não me pareça razoável. A impressão é que em geral as escolas estão segurando seus investimentos.
Devo voltar na primeira semana de fevereiro, vamos ver como estará.

15 Replies to “Visita à Cidade do Samba”

  1. Concordo com seus comentários…Só uma ressalva: o que você chama de esculturas vermelha(Diabos) são carrancas do Rio São Francisco e os tripés(bolos pretos) fazem parte da 1 alegoria da escola…ou seja, não são tripés,são acoplados ao abre-alas.O que tem de mais interessante você não viu..rs

  2. A Portela com certeza tem tudo p/ fazer um desfile belíssimo em termos estéticos. O Paulo Menezes é ótimo!
    Sobre as outras escolas, acho que a Grande Rio tem um belo projeto. Se eles conseguiram reconstruir um carnaval em 26 dias em 2011, esse tempo que falta para o carnaval 2012 chegar, será suficiente p/ a escola de Caxias terminar os trabalhos. e ela vem com tudo, pode ter certeza!

  3. Você só esqueceu de associar o atraso em certas escolas a questões “extra-campo”. Mas tem razão, isso aqui não é uma página policial…rsrs

    Abraços, irmão, vamos rumar em busca da 22ª estrela!

  4. E na Mangueira… pelo o que eu vi tá um barracão atrasado, mas muito bonito…
    O que mais você diria sobre o barracão da escola?

    1. Respondendo aos amigos: os dois barracões estão tampados com plásticos. Mangueira achei bem pequeno o que deu para ver, o que tem pronto é bastante colorido. Mocidade dá para se ver menos ainda, mas o estilo “clean” do Louzada está bem evidente. O carro da favela é muito interessante.

  5. Entra ano, sai ano e as pessoas caem na mesma armadilha das “campeãs de barracões”. Não tem como prever colocação de desfile pelo que se vê em trabalhos que ainda estão em produção. Na avenida é que a coisa acontece. Teve um ano que a Mangueira trouxe carros pintados na madeira e voltou no Desfile das Campeãs. No mais, serve como perfumaria, passatempo de pré-carnaval.

  6. As escolas estão “segurando” os recursos pelo fato das cartas já estarem marcadas ou está ruim pra todo mundo mesmo? Os acontecimentos recentes vão influir no investimento das poderosas? A carta marcada será jogada fora? Pelos relatos fica a impressão de que a parte plástica será muito aquém ao esperado dado os bons enredos e belos sambas da safra. Mas o fato é que não dá pra ver tudo e nem ter noção do todo antes dos carros estarem prontos para entrarem na avenida. Por isso é sempre bom guardar um pouco da expectativa pra avenida.

  7. Qual o problema que as pessoas têm com a Imperatriz Leopoldinense, afinal? Gostaria muito de saber. É uma escola que já é boicotada pela mídia e por muita gente que acha que entende de carnaval. Já não bastaria isso e aí colocam a agremiação de Ramos como carta fora do baralho? Me desculpem, mas a minha compreensão não me permite acreditar num resultado em que a Grande Rio, com uma proposta tosca de enredo e um dos piores sambas do ano, reapareça no Sábado das Campeãs.

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