O post que escrevi na última quarta feira sobre o acidente ocorrido em um poço perfurado de petróleo pela empresa Chevron teve uma repercussão bastante ampla. Foi reproduzido em diversos blogs e espaços, e algumas das suspeitas que levantei naquele momento acabaram por se confirmar no decorrer da semana.
Volto ao tema hoje, fazendo um resumo dos fatos e levantando algumas estranhezas.
No momento em que escrevo (início da madrugada de domingo) a empresa alegava que o vazamento havia parado e que o óleo que chegava à superfície era “residual” e que o trabalho de cimentação do poço estava em andamento. Entretanto, como os leitores verão a seguir a conduta da empresa vem sendo a de mitigar os problemas e mesmo apresentar versões depois desmentidas por analistas independentes.
Também temos de voltar a abordar o tratamento dado pela imprensa, que não está ajudando em nada a esclarecer o público.
A alegação oficial da Chevron para o vazamento foi de que “havia uma falha geológica não prevista” no reservatório de óleo, com modelagem imperfeita do reservatório. Veremos que tal versão não parece ser verdadeira com os dados disponíveis, mas assumamos que seja: isso demonstra um desconhecimento geológico absolutamente inacreditável para técnicos tão qualificados.
Explicando ao leitor: o petróleo se encontra dentro de uma rocha, que é considerada “rocha reservatório”. A exploração, falando de forma grosseira, consiste em se “espremer” a rocha sob pressão até se retirar o óleo. Exatamente por causa da pressão é que nem todo o óleo encontrado em um reservatório pode ser retirado: um fator de recuperação de 40%, por exemplo, já é considerado muito bom.
Pois é: para se explorar uma formação de rochas se faz todo um trabalho prévio antes da perfuração, em especial através de sísmica. Não sou geólogo, mas trabalhei pouco mais de dois anos na área de E&P e aprendi que antes de se furar um poço exploratório toda a geologia da região já foi exaustivamente mapeada e estudada. Mesmo o pré sal, que possui algumas peculiaridades que dificultam o trabalho, é estudado antes.
Então, leitor, como uma das maiores empresas de petróleo do mundo teria feito uma perfuração sem ter uma sísmica adequada? Não me parece uma hipótese sequer a ser considerada, não com as informações de que dispomos.
Parece muito mais verossímil uma das hipóteses que relatei aqui no post anterior: ou a empresa estava perfurando o poço por etapas, para economizar, ou estava tentando perfurar na camada pré sal – o que a concessão do campo em questão veda expressamente.
Segundo informações do portal “Energia Hoje”, republicadas no excelente “Tijolaço”, o reservatório estava a 2.279 metros de profundidade. Entretanto, o poço estava revestido apenas até 567 metros, o que pode indicar a presença da “perfuração de batelada” que citei outrora.
Outra hipótese que avento, dentro de meu limitado conhecimento, é de que a empresa americana estaria buscando perfurar na camada pré sal e acabou encontrando este reservatório antes. Dando um palpite bem rasteiro, o trabalho de mapeamento teria sido feito apenas para a camada mais profunda, e não no pós-sal.
Há outras questões sérias envolvidas.
A primeira é o fato da empresa norte americana ter sonegado informações, não somente à imprensa como também a órgãos como a Agência Nacional de Petróleo (ANP), ao Ibama e à Feema. Inclusive divulgando imagens da região que eram absolutamente inverídicas.
Outra é que a empresa não tinha os equipamentos necessários para avaliar a extensão dos danos. Foia Petrobras, que opera campo vizinho, que visualizou a mancha de óleo, avisou à empresa americana e ainda emprestou os robôs para identificar e começar a combater o vazamento.
Sim, leitor. A Petrobras, alvo de campanhas diuturnas em órgãos de imprensa dando conta de que “é incompetente”, “menos eficiente que as empresas estrangeiras” e cujos funcionários, entre os quais me incluo, são “incapazes e vagabundos” foi quem possibilitou a identificação do problema e as primeiras providências para sua realização.
Mais uma questão evidente é a suspeita de que trabalhadores estrangeiros estavam trabalhando de forma clandestina na operação. É sabido que há falta de pessoal especializado, especialmente geólogos e geofísicos, mas há todo um trâmite exigido para se trazer trabalhadores de fora. A Chevron, suspeita-se, simplesmente ignorou os órgãos regulamentadores brasileiros.
E talvez a mais grave: o método que a empresa optou para conter o óleo derramado: jatear areia, de forma a “afundar” o óleo, sem o retirar do oceano. Está totalmente fora do adequado, mas parece que foi adotado como forma de conter custos.
Lembro que foi aberto inquérito pela Polícia Federal a fim de investigar todos os pontos que relato acima.
Para finalizar toda esta comédia de erros, não se pode deixar de mencionar a cobertura da imprensa, totalmente parcial e reproduzindo os releases da empresa de forma acrítica. Em especial os veículos ligados às Organizações Globo – que o leitor já deve ter percebido que é inimiga feroz da Petrobras – e o jornal Folha de São Paulo se limitaram nos últimos dias a corroborar a versão da empresa, sem atentar para tudo isso que relatei acima.
Como também previ no post anterior, setores da imprensa tentaram colocar a culpa do problema na Petrobras, que é sócia minoritária no campo, com 30%. Entretanto, a totalidade da operação é da empresa americana, e a ela cabe a total responsabilidade.
Entretanto fica claro que a cobertura claramente parcial e incompleta da imprensa tem claro viés ideológico. Fosse a Petrobras, estariam queimando o Presidente Gabrielli e o Diretor de E&P Guilherme Estrella em praça pública. Como é uma empresa estrangeira, não tem rosto – em nenhum momento há “fulanização” da Chevron. Absolutamente lamentável, a meu ver.
“Na cabeça servil dos colonizados não entra o entendimento de que, para o Brasil, a Petrobras não é apenas uma empresa para furar poços e tirar petróleo como as demais. Não conseguem entender que é ela, e mais ninguém, quem tem a tecnologia, os equipamentos e o conhecimento para que essa perigossíssima atividade – e mais ainda no mar – possa ser feita em segurança e tenha uma fiscalização correta.

O resto, sobretudo a ANP, não tem tamanho, capacidade e, sobretudo, tamanho e conhecimento para se relacionar, de forma altiva e corajosa, com essas gigantes que estão por aqui. E que não podem ficar, se os seus métodos de trabalho forem os que estão sendo revelados na Chevron.”
É isso.
(Fotos: Terra e O Globo, respectivamente)

2 Replies to “Ainda sobre o vazamento da Chevron”

  1. Pedro Migão,
    sou química fiz doutorado em Ocanografia. Estou publicando direto sobre a Chevron no meu facebook. Mas não tive nenhuma atençao dos mus colegas, a não ser um. Infelimente, os biólogos e oceanográfos estào contaminados pelas idéais d Marina Silva e ambientalistas estrangeiros. Acham que o Greenpeace a WWF lutam realmente pelo meio ambiente. ‘muito grave isso… Eles estão anestesiados pelas ONGs !

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