Carlos Eduardo Zugliani de Sá. Cadu para aqueles que o conhecem do mundo do samba, “Sardinha” para seus amigos jornalistas. Editor Executivo do canal a cabo SporTv, ex-presidente do Boi da Ilha do Governador, compositor com várias vitórias em disputas de escolas de samba, das quais a mais importante foi na Estação Primeira de Mangueira no ano de 2004. Também Diretor de Harmonia com passagens em outras escolas e encontra tempo para ser pai da Maria Clara e da Manoela e, ainda, apreciador de golfe.

Conheci Cadu através do mundo do samba e a amizade foi se estreitando, a ponto de ter sido Diretor de Orçamento e Planejamento durante sua gestão no Boi da Ilha do Governador. Cadu, ou Sardinha, é o entrevistado de hoje da coluna “Jogo Misto” do Ouro de Tolo.

1 – Como o Carlos Eduardo virou “Sardinha” e foi parar no SporTv?
CES – Pedro Migão, um dos bons amigos feitos neste louco mundo do samba.
O Carlos Eduardo virou Sardinha por conta da brincadeira de um chefe quando cheguei para trabalhar no Fantástico em 94. Daí em diante foram duas Copas do Mundo, duas Olimpíadas, vários GPs de Fórmula 1 e Copa América. O convite para o Sportv veio no final de 2007 para assumir a chefia de eventos.
2 – Qual o trabalho de um editor executivo?
CES – Um Editor Executivo é, geralmente, o fechador de um jornal. No meu caso, hoje, sou o editor-chefe do Tá na Área.
3 – Como funciona o “background” de uma cobertura como a da Copa América, na qual esteve presente?
CES – A cobertura da Copa América na Argentina foi sensacional em vários aspectos. Mesmo com o fracasso do Brasil, o Sportv atingiu audiências comparáveis a de uma Copa do Mundo. Montamos um estúdio panorâmico no centro de Buenos Aires que foi um sucesso até para outras televisões da América do Sul, que pediram para usá-lo.
4 – Muitos telespectadores (eu inclusive, confesso) reclamam das escalas das equipes que fazem as partidas, em especial de futebol. Qual o critério adotado para a confecção das mesmas?
CES – Existe um chefe de eventos com uma equipe que cuida diretamente destas escalas. É óbvio que os jogos com transmissão do Sportv levam o ‘filé’ da equipe. A demanda é muito grande e é muito difìcil conciliar tantos eventos, pois temos além dos nossos eventos os jogos do Premiere FC (pay per view).
5 – Como conciliar a demanda por informação em tempo real com a apuração adequada e cuidadosa?
CES – Se você quer ser jornalista, a premissa básica é aprender a conciliar a rapidez com a precisão da informação. A confiabilidade que nós passamos ao telespectador é total.
Por isso, o Sportv é líder com tanta folga entre os canais de esportes.
6 – Por que o SporTv não cita os nomes dos patrocinadores das equipes ou ainda os times que tem nomes de empresas?
CES – Em qualquer empresa de comunicação, o que paga a conta é o Departamento Comercial. Nós temos que ter meios de proteger e beneficiar os nossos patrocinadores.
7 – Está nos planos um “SporTV HD” dedicado e exclusivo? Para quando? E o SporTV 3?
CES – O HD acompanha o canal principal mas tem eventos já independentes. O Sportv3 já está saindo do forno.
8 – Quais as perspectivas que você vê para o golfe aqui no Brasil? Há algum nome além da Ângela Park que possa despontar para os Jogos Olímpicos de 2016?
CES – O Golfe no Brasil está aprendendo a engatinhar. Pela primeira vez, depois de anos, montamos um circuito profissional mais honesto que voltou a atrair bons jogadores. O processo é para longo prazo. Temos bons jogadores que tinham muito pouco apoio, mas agora está melhorando.
A Angela Park ‘pirou’ da cabeça. Ela largou o golfe e virou recepcionista de hotel nos EUA.
9 – Qual a sua avaliação da gestão de Peter Siemsen no seu Fluminense?
CES – Ainda não tenho uma opinião formada sobre o Peter.
Sei que ele pegou um clube em frangalhos, acertou em algumas coisas e errou em outras. Alguns erros por inexperiência, mas é um cara brilhante.
10 – Quais suas expectativas para a organização da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016? Que legado poderemos esperar da realização dos dois eventos?
CES – É engraçado: eu não consigo ficar preocupado com Copa e Olimpíada aqui no Brasil, por mais que as notícias sejam dramáticas. Acho que tudo vai acontecer como deve – o brasileiro tem esta capacidade.
11 – Qual sua avaliação sobre as recentes denúncias envolvendo o Presidente da CBF Ricardo Teixeira?
CES – Eu, pessoalmente, não gosto da figura do Ricardo Teixeira mas não tenho provas de nada contra ele. Sei que o torcedor brasileiro adora criar teorias conspiratórias para tudo. É besteira!!
12 – Como o Carlos Eduardo virou “Cadu” e sambista?
CES – O Carlos Eduardo virou Cadu quando fiz um documentário sobre o carnaval para a Globonews. Já era um apaixonado e fiquei louco de vez.
De cara, resolvi escrever um samba para a minha escola, a Mangueira. Logo no primeiro ano eu e meus parceiros fomos finalistas do concurso derrotando nomes de peso como Jurandir, Tantinho e outros. Depois de três derrotas em finais, ganhamos em 2004. Perdemos o samba mais maravilhoso que eu já fiz em 2005 por questões políticas dentro da escola e isto me tirou o ânimo de compor.
13 – Qual a função que lhe agrada mais: compositor, dirigente ou diretor de Harmonia? Por quê?
CES – Eu adoro a harmonia e a funçäo de diretor de harmonia é vital para o desfile. Foi através dela que cheguei na minha outra paixão, o Boi da Ilha, escola que fui diretor de harmonia, diretor de carnaval, vice-presidente e presidente (2009-2010).
14 – Qual sua avaliação sobre as disputas de samba atuais?
CES – Disputas de samba… Difícil dizer.
Já vi disputas muito honestas, já vi disputas vergonhosas mas posso te dizer que quando você passa pelos dois lados, como eu passei, você muda alguns conceitos. Posso te dizer que as disputas que comandei no Boi da Ilha foram muito limpas e refletiram a opinião da diretoria sobre o preferido. Foi sempre ganho pela maioria.
Nas outras escolas, não posso colocar a mão no fogo por ninguém. Até hoje, sinto muito pelo meu samba que não ganhou na Mangueira para o carnaval de 2005.
15 – E sobre os sambas em si? Por que a qualidade caiu tanto?
CES – Qualidade de sambas não caiu, isso é um erro. O que caiu foi a liberdade do compositor.
Era muito mais fácil fazer uma obra prima com tema livre. Hohe, quando você recebe uma sinopse que exige que 15 palavras estejam no texto ou que o seu enredo seja camisinha [N.do.E.: a camisinha foi o enredo da Grande Rio em 2004], como fazer um belo samba???
Acho os compositores de hoje fantásticos, porque ainda temos grandes sambas sendo feitos mesmo com todas as exigências de enredos, andamento e patrocínio.
16 – Como foi a experiência de ter sido Presidente do Boi da Ilha do Governador? Quais as principais dificuldades enfrentadas?
CES – Administrar uma escola é o pior pesadelo que existe para uma pessoa de bem.
Você nunca consegue agradar a todos e, numa escola pequena como o Boi problemas brotam de todos os cantos. Tinha um sonho de colocar a escola no grupo A e acordei traído no Grupo C. Quase perdi família e emprego mas era uma paixão. Fazer o quê?
17 – O que acha que seria necessário para as escolas dos Grupos de Acesso?
CES – A primeira necessidade para as escolas de Acesso é uma cidade do samba.
O trabalho nos barracões que enchem com chuva, gambiarras, telhas soltas e sem a menor infraestrutura é coisa para mágico e é isso que temos: grandes mágicos fazendo o carnaval.
18 – Qual sua opinião a respeito da recente medida que irá extinguir cerca de vinte escolas de samba nos próximos três anos?
CES – Eu realmente não sabia desta medida, ouvi falar mas não achei que iria acontecer. Espero que tenham critérios justos na hora de acabar com a alegria destas comunidades.
19 – Qual sua avaliação sobre a gestão das escolas de samba como um todo?
CES – Prefiro não opinar.
20 – E sobre a Mangueira?
CES – A Mangueira com o Ivo é uma incógnita: ele é esperto mas toma certas medidas complicadas…
Mas sigo torcendo: paixão né…
21 – Por que ultimamente a Harmonia das escolas tem “amarrado” tanto os desfilantes?
CES – Existem dois tipos de desfiles: os que vem para ganhar e os que vem para brincar.
Hoje, nos moldes de julgamento, quem vem para ganhar é quase obrigado a tirar a liberdade dos foliões para não correr riscos de perder pontos que, muitas vezes, só são vistos na cabeça dos jurados. Ainda prefiro ver o desfile para brincar…
22 – Uma cobertura inesquecível. Por quê?
CES – A minha cobertura inesquecível foi a da Copa de 94: garoto ainda, trabalhando na equipe da Globo em Dallas, ví o Brasil sair da fila 24 anos depois…
23 – Um samba inesquecível. Por quê?
CES – O meu samba inesquecível?
“Raízes”, da Vila Isabel (1987) pela beleza e o meu de 2005 que não ganhou, pela tristeza.


24 – Um desfile inesquecível. Por quê?
CES – Meu desfile inesquecível?
Mangueira 2003 (acima). Trabalhamos muito na montagem da escola antes do desfile, estava gigantesca, mas foi um dos resultados plásticos mais bonitos que se viu na passarela. Também participei de um desfile incrível da Tijuca, nos anos 90 com os Nove Bravos do Guarani [N.do.E.: 1995], samba incrível com animação mágica.
25 – Livro ou filme? Por quê?
CES – Sou mais de cinema do que de livro, talvez pela minha formação em Tv e ediçäo.
26 – O que pensa da literatura disponível sobre esportes? E sobre carnaval?
CES – Estamos mais bem servidos na literatura esportiva do que na de carnaval.
27 – Finalizando, com os agradecimentos do Ouro de Tolo, algumas palavras sobre o blog ou seu autor/editor.
CES – Migão, muito boa a iniciativa do blog, espero não ter sido muito conservador nas respostas já que o dono do blog não tem nada de conservador… (risos)

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