Em termos midiáticos, a grande notícia da última semana no mundo do esporte “off-futebol” foi o anúncio da contratação do jogador da liga de basquete americana, Leandrinho, para jogar pelo Flamengo.

Contudo, é um anúncio que parece ter mais efeito de marketing que resultados práticos. Explico.

A NBA está na época da renovação do acordo trabalhista entre clubes e jogadores. As franquias exigem a diminuição de 57% para 50% do percentual da renda relacionada ao basquete destinado ao pagamento de salários, alegando que há um prejuízo anual de US$ 300 milhões. Outra alegação dos mandatários é que vinte e duas das trinta equipes estão endividadas e precisam diminuir suas despesas.

Os representantes dos jogadores não aceitam esta proposta e alegam que com o período proposto de dez anos para vigência do novo acordo terão uma perda de US$ 7 bilhões.

Com isso não houve acordo e uma nova temporada não pode começar até que uma nova relação trabalhista seja assinada entre clubes e jogadores. Com isto, o início da temporada regular previsto para novembro pode sofrer atrasos devido ao fato de não poder haver jogos sem este acordo sacramentado.

Dadas as regras que regem a NBA, os jogadores ficam liberados para defender outras equipes até que efetivamente haja a celebração e assinatura de um novo acordo. A condição é que estes retornem às suas equipes da NBA assim que a situação for regularizada, o que não tem prazo determinado.

Aproveitando-se desta brecha o Flamengo anunciou a contratação de Leandrinho, armador do Toronto Raptors, a princípio até dezembro. O jogador atuaria no Sul Americano de clubes e na primeira parte da NBB, o campeonato brasileiro, que se inicia no final de outubro.

Lembro que o rubro negro vem de um ano sem grandes resultados, em que pesem os grandes investimentos feitos na equipe – é o maior orçamento brasileiro na modalidade, disparado. A contratação dissiparia uma eventual crise que poderia surgir dentro do clube, onde cresce o questionamento devido aos altos valores envolvidos e o seu baixo retorno.

O salário do atleta, de divulgados R$ 550 mil mensais, será pago pelo quase onipresente banco BMG – que patrocina boa parte dos clubes brasileiros no futebol, a ponto de gerar uma piada onde se diz que, se o banco jogasse “War”, sua missão seria “conquistar todos os territórios”.

O jogador também tem questões pessoais que o ligam ao Rio de Janeiro – sua filha com a atriz Samara Felippo mora na cidade. Com isso não optou por não ir para a Europa, como alguns jogadores fizeram.

O anúncio do patrocínio visou calar algumas vozes dentro e fora do clube que questionam a drenagem de recursos obtidos pelo futebol para as modalidades olímpicas. De acordo com o balanço patrimonial de 2010 o clube gastou R$ 45 milhões com as modalidades olímpicas, cerca de R$ 20 milhões a mais que em 2009. Obviamente é dinheiro arrecadado pelo futebol e que subsidia as demais modalidades.

Lembro, também, que Patrícia Amorim foi eleita com apoio maciço dos sócios representantes destas modalidades e daqueles que frequentam a chamada “parte social” do clube – que gostariam que o Departamento de Futebol fosse fechado.

Seu desinteresse pelo carro chefe do clube é notório, tanto que na prática o comando de futebol está delegado a terceiros – representados na figura do Vice de Finanças Michel Levy. Com isso temos casos como o do nadador Cesar Cielo – que já questionei aqui em outras ocasiões – e o do próprio Leandrinho agora.

Só que tem um porém. Leandrinho está em fase final de recuperação de uma lesão no punho, tanto que sequer participará do Pré-Olímpico de basquete pela Seleção Brasileira. Somente estará disponível no início de outubro, ainda sem a parte física totalmente apurada. O próprio campeonato brasileiro só começa no final de outubro, e a Liga Sul Americana em meados de novembro.

Como o contrato prevê que ele deve retornar à NBA assim que o novo acordo trabalhista for assinado, existe uma chance considerável de o jogador voltar aos Estados Unidos sem ter feito sequer uma partida oficial pelo Mais Querido. Ou seja, uma tremenda jogada de marketing onde o jogador recebe os salários, o patrocinador ganha exposição e o clube acaba emprestando sua marca em uma espécie de “barriga de aluguel”.

Por falar em marketing, circulou na imprensa a informação que o jogador americano Kobe Bryant estaria disposto a jogar no mesmo Flamengo por US$ 1 milhão mensal mais algumas regalias. Trata-se provavelmente do maior jogador de basquete em atividade no momento e sua contratação, ainda que apenas para amistosos, poderia trazer um imenso ganho de imagem a eventuais patrocinadores. Bem como aoclube.

Vamos aguardar os acontecimentos.

(Fotos: GloboEsporte.com)