Como os leitores perceberão, é uma posição bastante diferente da minha. Mas é leitura indispensável para se entender melhor o que ocorre.
A propósito, deixo claro que minha preocupação é menos se a televisão A ou B vai ter os direitos, mas sim o monopólio total e absoluto que a Rede Globo terá sobre o futebol brasileiro. Excetuando-se o que em Economia chamamos de “monopólios naturais”, este é um fenômeno que nunca é bom, por concentrar excessivo poder nas mãos de um indivíduo ou grupo empresarial. Voltarei ao tema.
Passemos ao texto:
Cinco razões para preferir a Globo
Segue o debate a respeito da cessão dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro.
O Editor-Chefe já manifestou aqui no Ouro de Tolo sua impressão de que teria sido melhor a aceitação da licitação do Clube dos 13 nos moldes iniciais, quando tudo levava a crer que a Record seria a vencedora da transmissão por TV aberta – pagando aos clubes muito mais do que eles recebem hoje e algo mais do que virão a receber em suas negociações em separado com a TV Globo.
Discordo e esclareço minhas razões, não sem antes sublinhar que acho a concorrência salutar. Vamos a elas:
1. A Record se viabiliza economicamente graças a um expediente anticoncorrencial, pois a sua controladora, a Igreja Universal, aluga os horários da madrugada pagando o preço do horário nobre. Ninguém precisa ser gênio para perceber de que se trata de uma simulação para transferir dinheiro da controladora para a controlada, algo claramente ilegal e que acarreta uma concorrência desleal. Não se pode garantir que essa prática não venha a ser proibida, o que traria sérios embaraços financeiros. [N.doE.: segundo apurei, tal “dependência” hoje é significativamente menor]
Logo, não há garantias sólidas de que a Record possa honrar os valores prometidos ao clube por todo o prazo contratual, o que deixaria todos de pires na mão caso isso acontecesse. [N.doE.: tem um detalhe: como a Globo faz hoje em dia e continuará a fazer, a Record pagaria aos clubes com a receita da venda das próprias cotas de transmissão]
2. Ao contrário do que vem sendo divulgado, a modalidade de concorrência escolhida torna o processo pouco transparente e desigual. A opção de envelope fechado+melhor preço, onde nenhum dos candidatos sabe o que o outro vai oferecer, só é aconselhável quando todos possuem níveis de qualificação técnica semelhantes.
3. Uma das vantagens alardeadas pela Record (a antecipação do horário dos jogos noturnos) pode ser um tiro no pé, porque nunca foi testada. É certo que essa antecipação é ótima para quem, como eu, frequenta os estádios. Só que a meu ver esse torcedor é minoria.
5. Por fim, os critérios de divisão do Clube dos 13 prejudicavam alguns clubes, como Flamengo e Corinthians, que recebiam proporcionalmente menos do que o seu potencial de audiência. Não por acaso, o principal beneficiário dessa distorção – o São Paulo – dá as cartas na instituição. Como o Clube dos 13 aparentemente se negava a mudar os critérios, o racha era inevitável.
O tema é polêmico, reconheço, mas essa é só minha opinião. Sou de uma geração que aprendeu a odiar a Globo (o povo não é bobo, desliga a Rede Globo), mas essa antipatia latente não deve atrapalhar uma análise puramente racional.”
1. O dinheiro da Igreja hoje é insignificante para o negócio, assim como também o do grupo Time Life para a concorrência. As quatro cotas de patrocínio cobrem os custos;
2. A qualificação técnica é igual em alguns casos e melhor em outros, posso assegurar. Espere só para ver a transmissão do Pan de Guadalajara;
3. O horário das oito e meia da noite em dia de semana não é um tiro no pé, é maravilhoso. À exceção de Rio e São Paulo, o brasileiro já está em casa faz tempo e segundo a última projeção do Senso, há mais moradias com dois do que com um televisor, portanto, a patroa segue na novela e o patrão no futebol;
4. A TV por assinatura e o PPV são aperitivo e ninguém nem se preocupa com eles, a não ser a Globo e os clubes, que estão criando seus próprios canais fechados. O filão são os direitos de internet e telefonia móvel, que a Globo não quer separar do resto de jeito nenhum;
5. Na Alemanha seja time grande, seja pequeno, todos têm a mesma cota de patrocínio. Isso faz bem para o esporte como um todo, não para um ou outro clube individualmente. Os grandes reclamam, mas vão reclamar sempre. Você já viu rico gostar de pagar imposto?
É só minha opinião, Walter, respeito a sua.
Um abraço, Marco.