Os números acima indicam praticamente a totalidade de votos para presidente, em posicionamento da meia noite de hoje. São números que merecem uma análise mais detalhada.
Ao contrário do que muita gente está espalhando, não foi somente o Nordeste que garantiu a eleição à presidência de Dilma Rousseff. Basta ver que no Sudeste ela também foi a vencedora, com vitórias expressivas no Rio de Janeiro e Minas Gerais, praticamente empatado no Espírito Santo – a diferença pró-Serra foi de pouco mais de 1% – e com uma derrota em São Paulo que foi menor que que as pesquisas previam, aproximadamente 10%. Claramente a abstenção trabalhou contra o candidato tucano, pois no Rio, em São Paulo e no Paraná o número foi maior que o normal.
Também fica claro que o ex-governador e senador eleito por Minas Gerais Aécio Neves não moveu uma palha por José Serra em seu estado. Dilma venceu com 16 pontos percentuais de diferença e o ex-governador, paradoxalmente, sai como um dos vencedores deste segundo turno.
Aécio tem todas as condições para se cacifar como o principal líder de uma oposição moderada, trazendo para a centro direita o que o comando paulista do PSDB levou para a posição extrema. Ele se credencia como o principal adversário do PT nas eleições presidenciais de 2014, pelo menos em um primeiro momento.
Serra e Fernando Henrique Cardoso, teoricamente, estariam aposentados, mas o discurso do derrotado José Serra na noite de ontem deixa claro que a ala paulista do tucanato ainda irá disputar o controle do partido. Neste quadro, passa a ser factível a saída do ex-governador mineiro do partido para fundar outra legenda, de forma a separar a oposição moderada da extremista.
É alvissareiro, também, o fato de que vários dos líderes da corrente oposicionista raivosa estarem sem mandato a partir de janeiro, de maneira que diminui bastante a sua influência na política nacional.
No lado governista, a presidente eleita terá de acomodar os interesses do PMDB, que de apoiador do Governo Lula passa a sócio do próximo mandato. Michel Temer, vice-presidente eleito, é uma raposa política e certamente irá se posicionar no governo a fim de influir decisivamente, mesmo sem sair das sombras.
Por outro lado, compôs-se uma maioria tanto no Senado como na Câmara que permitirá uma menor margem de barganha, bem como a aprovação de emendas à Constituição com maior facilidade. Dilma já colocou como prioridade a aprovação do novo marco regulatório do petróleo, pois a lei do fundo social irá dar fôlego  ao governo a fim de incrementar os investimentos na saúde e educação.
Também deve se notar o fato de que Dilma foi derrotada em todos os estados onde a agroindústria é dominante, de maneira que algum tipo de medida deve ser tomado a fim de contentar esta parcela da economia. Então recaímos em uma grave questão.
A equipe econômica que for entronizada terá de atacar como prioridade máxima a questão do câmbio sobrevalorizado, que vem prejudicando a performance não somente da indústria quanto da agricultura. Com um rendimento menor em reais, a competitividade das exportações diminui e isto impacta o balanço em transações correntes. Um bom caminho para se reduzir a apreciação do câmbio seria reduzir a taxa de juros reais a níveis mais próximos aos internacionais, de forma a reduzir a entrada de capitais estrangeiros de curto prazo – que valorizam a moeda.
Complementando, não podemos deixar de registrar que a velha mídia é uma das grandes derrotadas desta eleição presidencial, em especial a Rede Globo de Televisão. Os números finais mostraram que o eleitor não se influencia mais da mesma forma pela televisão e pelos jornais, em que pese a campanha escancarada que tais setores fizeram pelo candidato derrotado. Entretanto, faz-se mister algum tipo de regulamentação a fim de separar claramente o que é notícia do que é opinião.
Por outro lado, o Presidente Lula sai como vencedor, a partir do momento em que a sua candidata impôs-se como vencedora do pleito. E, mesmo em caso de eventual fracasso de sua sucessora, ele pode retornar em 2014 como um candidato praticamente imbatível – uma espécie de Getúlio Vargas do Século XXI.
Durante a semana detalharemos estas análises.

2 Replies to “Uma análise dos resultados”

  1. 2 coisas. Lula conseguiu: o Brasil está em condições de ser fisicamente dividido.

    O Brasil do Norte, pobre, dependente, miserável, votou em massa nas políticas sociais de Lula.

    O Brasil do Sul, produtor, empreendedor e mais rico votou em Serra, mas sem conceder-lhe maioria suficiente.

    Dilma e Lula têm uma decisão importante já neste momento para evitar que o Brasil do Sul tome consciência da necessidade de sua existência e se una contra o Brasil do Norte: a manutenção dos royalties do petróleo para o Rio de Janeiro. Esta decisão pode fazer com que alguns jornais, hoje favoráveis ao governo Lula e simpáticos à Dilma (Grupo O Dia) possam virar de lado e que o mapa do Brasil alinhe o Sudeste com o Sul e o Centro-Oeste do país.

    E com nossa economia se deteriorando sem royalties, o Rio de Janeiro pode se rebelar, independente do voto “ideológico”.

    A outra questão é a dos juros. Como economista, você deve saber que nos juros há embutida 2 questões essenciais além da atração de capitais também envolvidas: a poupança e o financiamento da casa própria, ligadas à TR. A TR hoje, para o cálculo da poupança é praticamente 0. A poupança vem pagando juros de 6,17% ao ano (aproximadamente) e este é a base da economia. Para bancar a poupança, o governo precisa ter juros maiores ao emprestar para que possa arrecadar estes valores, que é um parâmetro para se guiar a SELIC. A única maneira que vejo de baixarmos o juro é baixar o rendimento da poupança e, consequentemente o juro do financiamento habitacional ou permitindo a TR ser negativa, ou alterando as leis que lidam com estes juros.

    Você como economista, como resolveria a questão de baixar os juros da economia, sabendo das necessidades de longo prazo da poupança e do financiamento habitacional envolvidas? Me explique melhor isto, porque da maneira que entendo, o Brasil continuará com os juros reais mais altos do mundo.

  2. Bruno, fisicamente dividido em termos. no somatório do Sudeste Dilma venceu.

    Serra venceu basicamente nos estados do agronegócio – conservadores por natureza e impactados pelo câmbio – e em SP, onde foi governador.

    Sobre os juros, irei escrever proximamente sobre o tema. Tem a ver com câmbio, com alteração na regulamentação e com remuneração dos agentes financeiros.

    Só lembro que boa parte da grana para habitação vem do FGTS, que é remunerado à base de 3% a.a. e é uma poupança compulsória.

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