Domingo, uma semana para o segundo turno das eleições presidenciais.
Trago aqui uma seleta dos comentários postados no blog do prestigiado jornalista econômico Luis Nassif, que reproduziu na íntegra o post de quinta feira sobre o preconceito de classe como um dos fatores que definem o voto em José Serra. A repercussão foi muito boa e corroborou, em maioria, a tese defendida pelo post.
É um bom painel do quadro encontrado em várias partes do Brassil, onde eleitores de Dilma Roussef das classes alta e média vem sofrendo com uma elite fascistóide e que não compreende que possa haver outra opção além daquela que preserva seus mesquinhos interesses.
São excelentes artigos. Vamos a eles:

“Caro Pedro e Nassif,
É realmente incrível como isso acontece! Fui vítima de coisas parecidas… uma pessoa que trabalha comigo na universidade me falou que eu não poderia estar naquela laboratório só porque eu entrei na universidade pelo sistema de cotas de escolas públicas!! E que venho de uma classe inferior a dela!! Além disso, essa pessoa também falou que acha um “absurdo pagar R$800,00 (R$800,00!!!!) para uma empregada doméstica que nem sabe escrever o próprio nome só porque o presidente aumentou o valor do salário mínimo!”
E eu, hoje, também moro num bairro de classe média, classe média alta. E todas as vezes que estendemos uma faixa da Dilma no portão de casa, tem sempre alguém que pixa “Sapatão!”, “Vagabunda” e etc. Mas não há em nenhuma casa no bairro em que se vê uma faixa do Serra ou um adesivo dele nos carros.
É incrível o que as pessoas pensam, e falam, sobre a oportunidade que muitas pessoas têm hoje de viver melhor! Parece um absurdo isso para elas! Segundo a pessoa que trabalha comigo: “Pobre devia continuar pobre!”.
Tenho pena dessas pessoas…”
Um abraço,
Júlia (não disse o estado, nem cidade)
“Sabe o que é mais engraçado? Na imprensalona, as notícias são em tom de catástrofe sobre as consequencias das melhorias tanto de renda quanto empregabilidade.
São manchetes do tipo: Caos no trânsito é provocado pelo aumento do número de veículos … e aí a matéria explica que devido ao aumento do poder aquisitivo e a facilidade de crédito, todo mundo está comprando carro… nenhuma palavra sobre as péssimas condições do transporte coletivo…
Ou então: Falta mão de obra na construção civil… e aí a matéria explica que quem quer reformar sua casa não está conseguindo arrumar mão de obra porque os valores estão altos e muitos estão trabalhando em obras do programa minha casa minha vida ou em obras do PAC.
Em suma: todos esses problemas são provocados por o ireesponsável do presidente melhorou a renda da população, facilitou o crédito, estimulou a empregabilidade etc. que inconsequente!”
(Marccio – idem)
“Rapaz… Assino embaixo e com gosto.
Tenho a acrescentar que a nossa “elite”* tenta perpetuar o que acontecia na idade média, onde tinha-se um punhado de “nobres” e o restante eram seus “vassalos”.
No início até tinha alguma explicação plausível, o “senhor” era o responsável por proteger e governar o feudo (as cidades da idade média) e em troca os vassalos faziam as coisas funcionarem (agricultura, criação de animais, artesãos, etc).
Só que não demorou muito para os “nobres” esquecerem da parte que lhes cabia nesta espécie de “contrato”, em especial a parte de defender o feudo e seus habitantes dos perigos externos. Em muitos casos o o próprio nobre passou à ser a ameaça que ele deveria combater.
Dizem que o poder corrompe, e a história está aí para endossar. Os nobres se tornaram egocêntricos, autoritários, caprichosos, todas as maldades causadas por poder fazer o que quiser e não precisar dar satisfações para ninguém.
E a nossa “elite” continua nesta época, julgando que são nobres com “direitos divinos” e que a única razão da existência dos demais é lhes servir. E sem questionar.
Logo, eles não enxergam os outros em nossa sociedade dita “moderna” como outros seres humanos como eles próprios, eles enxergam os outros como escravos. Eles não conseguem entender que coisas como “direitos humanos” valem para todo mundo, diabos, eles muitas vezes não conseguem engolir sequer que os outros “nobres” tenham os mesmos direitos!
Algumas vezes penso que a cabeça de um “nobre” é defeituosa, porquê age mais como um animal mecanizado do que um ser humano. Um ser humano raciocina, pensa antes de agir. Enquanto o “nobre” automaticamente toma como “presa” qualquer um que ele supõe ser “inferior” à ele próprio e somente tolera os outros “nobres”, não evitando porém ocasionais lutas para ver quem é o mais forte, exatamente como a maioria dos animais faz na natureza.
Alguém acha que estou exagerando? Observem como o ódio de muitos contra o PT é completamente irracional, é automático. Se você questionar a razão do ódio – pois para odiar é necessária uma razão – e insistir no questionamento, o “nobre” não consegue responder ou lhe agride fisicamente para não ficar sem resposta. Eu por exemplo odeio o serra, mas tenho razões para tal e posso explicar as mesmas (o episódio da bolinha de papel mortífera é só o caso mais recente).
E também concordo que os jovens estão cada vez piores, e a razão é relativamente simples: O sujeito que saiu da lama e sentiu na carne muitas vezes o que é passar necessidade pensa duas vezes antes de causar algo assim para o próximo. Mas quando este melhora de vida e gera herdeiros, os herdeiros já nascem em uma condição melhor do que a dos pais, e por isso não passam pela mesma educação “na marra” que só a vida é capaz de proporcionar. Assim se os pais não cuidarem de perto da educação dos herdeiros, cria-se uma geração que não se importa com o sofrimento dos outros, pois nunca sofreu. Como vão pagar salário para uma empregada, sem reclamar quando jamais souberam o que é sofrer para chegar ao fim do mês sem ficar no vermelho? Quem nasce em berço de ouro não consegue comprender o que é passar fome.
E a selvageria só tente a piorar mais e mais. Pois há cada vez mais gente no mundo mas o mundo continua do exato mesmo tamanho.
* entre aspas porquê a palavra “nobre” sugere algo de valor, mas a nossa elite é o que existe de pior na nossa sociedade.”
(Daniel Campos – idem)
“Análise perfeita. Sou de Curitiba e aqui esse preconceito aparece de forma escancarada, as classes A, B e, por incrível que pareça, também parte da C tem verdadeiro pavor de tudo que lembre o PT ou qualquer outro partido de esquerda. O que mais me impressiona, mesmo sendo curitibano da gema e ter morado a minha vida inteira aqui, é o ódio mortal que eles tem pelo Lula, que é uma mistura de inveja, desprezo, alienação e desinformação. Na verdade para eles pouca importa se do outro lado é o Serra ou o macaco Simão, o que interessa é votar contra o Lula ou o candidato apoiado por ele, seja lá quem for.”
(Marcos Luiz – Curitiba)
Caro Pedro, parabéns ! ….nem um sociólogo contextualizaria melhor !!!
(Divino Souto)
“Cheguei em Campinas(SP), em 1995, e havia na época 2 grandes shoppings, o Iguatemi e o Galleria, recentemente inaugurado. Mas havia um nítido contraste: enquanto o Iguatemi estava sempre cheio, o Galleria vivia às moscas. No Iguatemi, lojas de todos os níveis. No Galleria, exclusivamente lojas caríssimas, de elite mesmo, preços incomparavelmente mais caros.
Um dia questionei um amigo/cliente, legítimo representante da elite local, o porquê do Galleria, devido a baixíssima frequência, em comparação com o Iguatemi. A resposta foi tão singela quanto chocante: “Ora, porque o Iguatemi foi invadido pelo “povão”, está muito “mal frequentado”tem até neguinho andando lá de “chinelinho de dedo”, então foi feito o Galleria, que é prá selecionar a frequência. O campineiro não estava se sentindo bem lá dentro”, arrematou ele. Isso eu ouvi em 1996.
Domingo 17, estive por uma hora no aeroporto de Guarulhos/Cumbica, acompanhando o embarque de uma amiga. Era um dia absolutamente normal, sem feriado prolongado ou data especial. Cumbica está parecendo o terminal rodoviário do Tietê, tamanho o fluxo de passageiros. Olhando para a fila do check-in, percebe-se com muita clareza que o perfil sócio-econômico dos usuários do transporte aéreo mudou radicalmente no país. O “povão” invadiu a praia das elites, que, horrorizadas, são obrigadas a dividir o mesmo espaço, antes tão “selecionado”.
O que fazer diante disso? Construir um aeroporto exclusivo, “bem frequentado” pela massa cheirosa, selecionado pelo preço, longe dos odores do “povão”?
O preconceito de classe é tão antigo quanto o homem.”
(‘Lobo da Estepe’, SP)
“Perfeita descrição ! Isto não é novidade infelizmente, e no meu modo de ver ainda vai demorar muito a acabar, se é que acabará um dia. O pior é que as pessoas não percebem, ou não querem admitir, o verdadeiro motivo pelo qual mantém sentimentos tão baixos, e enganam a sim próprias com argumentos ilusórios, sempre muito bem alimentados pela mídia. É o caso do Bolsa Família, sempre criticado por ser “sustentar vagabundos”, por “não ensinar a pescar em vez de dar o peixe”, e outras bobagens. No fundo, esta gente é digna de pena, minha principal revolta é contra grande parte da mídia que, ao invés de trabalhar para a elevação moral do povo, alimenta de forma indireta estas coisas por motivos sórdidos.”
(Antonio Passos)
“Certeiro! Poucas são as pessoas que estão preparadas a “dividir” o elevador com “um pobre”. Poucas são as pessoas dispostas a agir seguindo o caminho de que o voto deve refletir o desejo de que suas consequências, me refiro ao ato de votar, se traduzam no bem gerado a uma sociedade, por inteiro, e não somente a si mesmo (agora me rereferindo ao eleitor) ou ao grupo ao qual pertencemos.
Dentre os dois programas de gestão apresentados pelos dois candidatos, me parece que aquele trazido pela candidata Dilma Roussef é o que mais se aproxima daquilo que seria bom para todos. Basta navegar por sites como este do Nassif, ou ainda outros, comparar dados e opiniões, pinçar alguns vídeos publicados no You Tube e pensar. Saliento: não será preciso especialização em ciências sociais, polícias ou econômicas, mas, simplesmente, utilizar o bom senso.
Casas Bahia, GM, Ford, Volkswagen e tantas outras, incluindo aqui os fabricantes de eletrodomésticos, têm razões de sobra para comemorar. Estão ganhando dinheiro, assim como o pessoal do setor imobiliário, da construção civil e por aí vai…E quem está comprando?
Desde que passei a votar, não vi, como acontece neste pleito, uma campanha que traga à tona questões tão relevantes ao entendimento da nossa sociedade — — concordo que num pleito eleitoral questões como religião deveriam ficar de fora, mas devo dizer que as manifestações decorrentes desta apropriação, e de tantas outras, me parecem emblemáticas.
A sensação que tenho é a de que estamos diante de uma sociedade diferente daquela que pensávamos ser. Carnaval, hospitalidade, alegria, alegria, alegria. O país que não foi dividido entre democratas e republicanos, que não se construiu baseado na força e nos jogos de poder da geopolítica, e onde a guerra não serve como argumento, está importando, mais uma vez, práticas abomináveis e pensamentos hediondos. E, se há importação, é porque há demanda.
O Brasil que conhecíamos, cuja história foi manuscrita por tantos interesses que não o do bem comum, não existe mais. Ótimo por um lado, estranho por outro. Afinal, ao nos vermos no espelho, a partir de agora, devamos procurar um nova identidade, pois as fantasias só terão espaço mesmo é no carnaval.
Um abraço. E que vença o melhor para todos.”
(André Argemi)
“O maior problema, para as elites, é o que virá em seguida: a consciência de classe.
Ao ascenderem ao consumo, frequentarem universidades e melhorarem seu nível cultural, as camadas componentes do proletariado visualizarão esse ódio e eventualmente se voltarão contra ele.
Já se vê sinais desse movimento nas novas camadas da classe C e nas que ficaram na D.
A faxineira que trabalha na minha casa torce mais pela Dilma do que eu e vocês juntos e votou no FHC em 94 e 98.”
(‘Bolívar’)
“Interesante são os encontros fortuítos(e inevitáveis) entre a velha classe média e a classe média do Lula nos hipermercado aos Sábados, por exemplo.Os primeiros ficam olhando, observando e “medindo”com o ascendente discretamente e com alguma pontinha de desprêzo, e nâo gostando nadinha da situação, é claro. Outra coisa que para eles é insuportável, são as classes D ou C tendo acesso a internet.Eles agem como se a web fosse privilégio exclusivo dêles. É so entrar no orkut, que a gente enjoa de ver comunidades chamadas:”Maldita inclusão digital” ou “Maldito Lula, Maldita Casas Bahia”, “Odeio a Positivo”, e vai por aí. Será que em outros países, quando nos primordios do Welfare State, houve esses tipos de reações? ou esse tipo de egoísmo é exclusividade nossa?”
(‘PapaMideNite’)

One Reply to “O voto e o preconceito de classe – II”

  1. Desde que o Lula, nosso amado presidente, decidiu candidatar-se à presidência, alguns eleitores visualizaram a agregação de novos ricos na sacramentada sociedade rica, deitada em berço esplêndido já há anos, gerando neles ódio, ódio este que foi aumentando e se tornando público gradativamente a cada vez que Lula se candidatava.
    Finalmente, nesses 8 anos, conforme pesquisa, alguns alcançaram o “status” de rico.
    Finalmente, esse ódio explodiu nessas eleições de 2010, partindo também de eleitores de várias outras classes sociais. Conheço há alguns anos, membros de famílias nordestinas, que odeiam nordestinos, e não consigo entender esse sentimento neles, e consigo concluir que é por vergonha, no entanto, prá que envergonhar-se de nordestinos se a sua própria aparência não nega que é de origem nordestina. É-me incompreensível porque deveriam se orgulhar dessa origem, porque inexistiria toda a pujança aqui no Estado de São Paulo, se não fossem os nordestinos, ou pessoas do norte deste amado Brasil. Sim, devemos tudo a eles, nordestinos/norte, porque paulista não tem a sua coragem, a sua ousadia, e nós paulistas/paulistanos deveríamos dizer muito obrigado, com muita humildade, pela Anchieta, Imigrantes, Brasilia, e muitas outras mais, e por isso merecedores de serem lembrados na inclusão social, muito bem lembrado pelo nosso amado presidente Lula.
    Para o Brasil avançar economicamente é necessário um programa social que abranja os pobres e aqueles que estão na linha da miséria, tornando este país classe média.
    Enfim, esse ódio nas eleições 2010 é um sentimento que me atingiu fortemente, e me chamou mais a minha atenção principalmente no momento que membros da igreja católica se manifestaram desonestamente, manipulando os fiéis.
    Gostariam que lembrassem daquela passeata em nome da família, na ditadura, e suas consequências

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