Domingo, dia de bons textos.

Repercuto história contada pelo sempre bem informado Marco Aurélio Mello em seu indispensável DoLadoDeLá. Obviamente parece ser uma peça de ficção, mas depois do que estamos vendo nesta campanha eleitoral nada, mas nada mesmo, pode ser considerado absurdo.

Por via das dúvidas, faço o registro aqui também. Depois não digam que nós não avisamos.

Abaixo, o texto.

“Às vésperas do último debate na televisão o candidato da oposição desaparece. Homens de preto armados invadem a casa dele, jogam-no no porta-malas de um carro de luxo e partem em alta velocidade. Começam as especulações. O repórter da TV Globo entrevista uma testemunha que diz ter visto um dos homens de terno com uma estrelinha do PT na lapela. O repórter de polícia do Estadão ouve outra testemunha que afirma: a trama foi feita no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. A Folha de S. Paulo ouve a filha do candidato, mãe de três filhos, que conta estar sofrendo ameaças desde que seu pai desapareceu, e que não dorme mais à noite. A revista Veja lança uma capa toda preta com a estrela do PT no meio. Abaixo a manchete pergunta: É isso que você quer para o Brasil? 

Nesta altura, a Polícia Federal já está no caso. A Polícia Civil de São Paulo também abre uma investigação paralela. Os sequestradores fazem contato – com a polícia paulista, claro – e dizem pertencer a um grupo que defende a luta armada para transformar o país na República Socialista do Pau Brasil. São taxados de terroristas e passam a ser perseguidos. O Disque-denúncia abre uma linha especialmente para receber informações sobre o caso. Uma marcha à luz de velas é organizada pela classe média na Avenida Paulista. Cariocas consternados, liderados pelo candidato ao governo no estado, Fernando Gabeira, decidem abraçar a Lagoa Rodrigo de Freitas para pedir paz no processo eleitoral. Um pouco antes da eleição, o candidato é encontrado num cativeiro em… Minas Gerais.

Ele está magro, fraco, com barba por fazer e ao reencontrar a família chora copiosamente. A libertação é transmitida ao vivo pela televisão (só não me perguntem como foi que o veículo transmissor – o link – chegou a tempo?) Começam especulações sobre a participação do ex-governador mineiro no episódio, mas não ganham corpo, porque a imprensa não leva adiante as denúncias. No dia da eleição o candidato acena para o povo. As pesquisas de boca de urna informam que já há empate técnico. Ufa, haverá segundo turno.

A velha mídia decide então premiar seus profissionais pelo sucesso da cobertura. Agora sim teremos um presidente comprometido com os destinos da nação. Para quem precisa de 8 milhões de votos para chegar ao segundo turno eu não duvidaria de enredo tão engenhoso.”

2 Replies to “O sumiço de Serra”

Comments are closed.