Os (poucos) leitores que acompanham o Ouro de Tolo desde o seu nascimento sabem que há mais de um ano venho alertando para a possibilidade de uma ruptura na ordem democrática brasileira, desde o golpe em Honduras – que manteve características similares às que observamos hoje. Em abril, quando do aniversário do Golpe de 1964 também alertei para para o momento político brasileiro e voltaria ao tema no final de maio. À época, fui chamado de maluco por muitos.

Escrevi em especial naquele texto de maio que via manifestações, em especial vindas do Judiciário, de que “Dilma Roussef teria problemas” caso vencesse as eleições, entre outras coisas. Também analisava as forças políticas atuantes e esboçava opiniões sobre o empresariado e as Forças Armadas.

A elite histórica que governou o país durante quinhentos anos, e a imprensa representativa de seus interesses não percebeu que a mudança econômica neste país, nos últimos oito anos, foi avassaladora. O país criou empregos, cresceu economicamente e pela primeira vez tivemos um governo direcionado não aos 20 milhões de pessoas que compunham as Classes A e B, mas sim a todas as frações de renda. Políticas como o Bolsa Família (tema do post do próximo sábado), o ProUni, a diminuição gradual dos juros, o fortalecimento da Petrobras e o crescimento do crédito empreenderam uma revolução na estrutura econômica do Brasil, embora reste ainda muito a ser feito.

Como reflexo destas políticas de promoção de emprego e renda e do crescimento econômico, as Classes E e D diminuíram consideravelmente e as Classes C e B aumentaram em proporção semelhante. A estratégia de desenvolvimento de um mercado interno de massas e da diversificação dos parceiros comerciais empreendeu novas oportunidades para os empresários do setor produtivo.

Onde quero chegar? A oposição ficou sem discurso.

Como o próprio Presidente Lula afirmou em entrevista que reproduzi no domingo, a situação da oposição é muito semelhante à vivida por ele, Lula, nas eleições de 1994. Com o Plano Real recém-implantado, era evidente que a popularidade do governo era alta e acabou-se por eleger o candidato da continuidade, Fernando Henrique Cardoso – que empreendeu uma política de desnacionalização, concentração de renda e arrocho salarial jamais vista.

Restou a Serra apelar para o discurso do “denuncismo” vazio, em dobradinha com os donos dos grandes meios de jornalismo de massa – que tiveram privilégios diminuídos a partir do momento em que as verbas publicitárias do governo passaram a ser descentralizadas. Entretanto, como contei aqui este é um tipo de discurso que não resiste a um exame mais apurado – basta se lembrar do tesoureiro do próprio candidato, que sumiu com R$ 4 milhões da campanha direcionados ao Caixa Dois.

Nos últimos dias temos assistido a uma escalada de denúncias midiáticas contra a candidata Dilma Roussef. Verdadeiras ou não, tem o objetivo de assustar a opinião pública e manter a candidata na defensiva a fim de forçar a realização de um segundo turno ou, em último caso, fazer uma “dobradinha” com setores do Judiciário – “aparelhado” pela oposição faz tempo – a fim de empreender um “golpe branco” e impedir a posse da candidata.

Por outro lado, vemos setores da imprensa defendendo abertamente que se impeça a posse de Dilma Roussef, na velha linha golpista de Carlos Lacerda de que “não pode ser candidata, se for não pode ganhar, se ganhar não pode tomar posse, se tomar posse não pode governar.” Concomitantemente o candidato tucano vem conversando abertamente com setores mais reacionários das Forças Armadas, claramente “sentindo o ambiente” para uma eventual ruptura da ordem democrática.

É sintomático o comportamento do candidato da oposição e em especial de representantes da velha imprensa e das elites empresariais no sentido de que “Lula e o PT ameaçam a liberdade de imprensa e darão um golpe de estado autoritário”. Claramente me lembra aquela história do batedor de carteira que grita “pega ladrão” para desviar a atenção – mas o ladrão é ele.

Se realmente o governo atual fosse contra a liberdade de imprensa, a campanha fratricida e abertamente golpista empreendida ultimamente já teria sido coibida. Publicou-se um livro que chamava o presidente de “anta’ na capa, e o cabível processo não foi aberto. Lula poderia ter rasgado a Constituição e concorrido a um novo mandato – como fez Fernando Henrique na década de noventa. Mas respeita o jogo democrático.

A questão é simples. A oposição não tem voto. Então necessita dividir o país e criar um clima falso de intranquilidade de forma a fazer exatamente a mesma coisa feita em 1964: tomar na marra o que não consegue democraticamente. Apelou, também, para o denuncismo vazio e para mentiras. Todo dia vejo nas capas dos jornais e recebo em meu e-mail “spams” com os mais diversos absurdos, como por exmeplo que o Governo Dilma irá proibir a religião.

Obviamente, denúncias que tenham fundamento – e algumas têm, embora não sejam a maioria – precisam ser apuradas. Entretanto fica claro o uso político-eleitoral destas quando se percebe que escândalos como o da governadora do Rio Grande do Sul – que “grampeou” até seus adversários nas eleições – ou o caso dos R$ 4 milhões não aparecem no Jornal Nacional. Ressalto que boa parte desta oposição midiática decorre do fato de se temer a abertura do mercado de comunicações às empresas estrangeiras – um curioso caso de incoerência, haja visto que defendem ardorosamente a abertura total do país aos produtos estrangeiros e a desindustrialização do país.

Não posso também deixar de comentar a raiva, movida por puro preconceito, de setores elitistas mais antigos do país. Muita gente fechada em seu mundinho não concebe que o pobre tenha direito a fazer seu supermercado todo mês, andar de avião, ter um salário melhor… Penso que influencia nesta raiva o fato de estarem mais caros os serviços de empregadas domésticas, diaristas e assemelhados, alta motivada pelo aumento de empregos e da instrução.

Diferentemente de 1964, desta vez temos um empresariado satisfeito com o governo, uma economia em ordem e não existem tensões aparentes nas Forças Armadas. Entretanto, me parece bastante provável que algum tipo de ruptura democrática, seja pela via judicial (mais provável), seja pela quartelada (o que não acredito pessoalmente) possa ser tentado.

O apelo que eu faço é que a normalidade democrática seja respeitada e que, se possível, que a grande imprensa volte a seu papel de simplesmente informar, sem se comportar como um partido político. E que a oposição se reaglutine em um projeto propositivo e não simplesmente denuncista/golpista.

14 Replies to “Golpe Possível”

  1. Eu faço um apelo para que as leis sejam respeitadas. Pois se o presidente desrespeita as leis, se ele acoberta esses desrespeitos ele incentiva a quebra das leis por outras pessoas. O problema é a existência de “castas” na prática do judiciário: os que têm acesso a advogados e os que têm acesso a juízes. O tratamento equânime e justo está longe de existir. A justiça se torna uma pantonima.

    Para mim, a lei vale para qualquer governo. Para você, só vale para o governo dos outros.
    “A meus amigos, tudo. A meus inimigos, a lei.”.

    Só não diga que sou reacionário e contra bolsa família ou que pobre faça compra em supermercado. Sou a favor também que pobre tenha acesso a boa saúde o que meu pai, infelizmente, não pôde ter no fim da vida. Mas como Lula diz que a saúde está quase perfeita, para você está ótima, não é?

    Sou a favor principalmente que pobre tenha acesso à educação, pois foi esta a maneira que NÓS saímos de uma condição pior para melhorarmos. Mas se Lula disser que todos os brasileiros estão na escola, isto basta a você, certo? Não importa que aprendam a ler, a INTERPRETAR um texto, a fazer contas e a ter uma bagagem cultural, né? Você vai me dizer que o que temos é o possível. Eu te digo que o que temos não é o suficiente.

  2. Ah! E quem tem acesso a manipulação de urnas é quem tem mais condição de aparelhar o Estado.
    E não é o PSDB, nem o DEM que tem essa penetração.

    Mas o PT não vai precisar disso. Ele pode contar com a falta de conhecimento do povo das intrincadas estruturas de arrecadação do governo e com o neocoronelismo Lulista. Como as eleições mostrarão, jornal só influencia quem tem condições de lê-lo… Condição financeira (dinheiro pra comprar) e escolar (condição de ler e INTERPRETAR o texto – ler apenas, não basta)…

  3. Quando você escreveu no Twitter “Merval Pereira, o golpista? Disse que todos os blogs que criticam o PSDB e a imprensa levam dinheiro do governo.” tecnicamente, quanto a você, ele tem razão… ;P

    Encare como uma piada, tá, por favor. A vida já é muito sem graça…

  4. Bruno, sobre os outros pontos que você coloca, tratarei em post específico.

    Mas sobre a piada, por incrível que pareça a petrobras não depende um centavo de dinheiro público. Pelo contrário, é a maior pagadora de impostos deste país.

    Ou seja, nem como piada… rs

    p.s. – não vai participar da promoção não ? Adoce a vida com a esperança de ganhar um Manto autografado… rs

    abs

  5. Migão e suas teorias malucas rsss Dilma é o que há de pior na política brasileira. Golpe quem ta querendo dar é o sapo barbudo que faz campanha descaradamente aberta a mais de 2 anos em favor de sua candidata, isso sim é golpe.

  6. Fonte: Blog do Noblat (O Globo)

    “PT contra exigência de dois documentos para votar
    Mônica Bergamo, Folha de S. Paulo

    O diretório nacional do PT entrou com uma ação direta de inconstitucionalidade no STF (Supremo Tribunal Federal) contra a lei que exige dois documentos (título de eleitor e outro documento oficial com foto) para que o eleitor vote no dia 3 de outubro.

    O partido teme que a exigência faça aumentar a abstenção nas eleições deste ano.

    A partir destas eleições, os eleitores são obrigados a apresentar o título de eleitor e um documento oficial com foto. Antes, era preciso levar apenas um dos dois.”

    Antes que me acusassem de ser parte da “mídia dominante golpista”, busquei o outro lado. Fonte: site do PT.

    “O Partido dos Trabalhadores protocolou nesta sexta-feira (24) no Supremo Tribunal Federal uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) sobre o art. 91-A da Lei Federal nº 9.504, de 30 de setembro de 1997, com a redação dada pela Lei nº 12.034, de 29 de setembro de 2009, e art. 47, §1º, da Resolução TSE nº 23.218, que obriga o eleitor no momento da votação a apresentar, além do título eleitoral, um documento de identificação com fotografia.”

    Portanto, o PT confirma em seu site que está entrando com ação contra a resolução do TSE que mitigaria a chance do “voto de cabresto”.

    Se me recordo bem, comentei sobre a resolução do TSE de passagem, lembrando que foi necessária para mitigar o problema de alguém tentar votar por outra pessoa. Acabar com esta obrigatoriedade abre uma porta para fraudes sem nenhuma necessidade de conhecimento ou uso de tecnologia.

    Perigo! Will Robinson! Perigo!

  7. Bruno, o Noblat não pode ser considerado como fonte nestas eleições, né ?

    Sobre o assunto em questão, parece óbvio que a medida teve cunho muito mais de favorecer a determinado candidato que prevenir fraudes. Até porque como você mesmo ecsreveu a urna pode ser perfeitamente utilizada para este fim…

    Minha posição sobre o assunto é um meio termo: acho que deveria ser decidida pelo TRE de cada estado. Há lugares onde tal exig~encia é possível, e outros, complicada.

    abs

  8. Os ministros do STF decidiram abrir as portas para o voto de “cabresto” no país.

    Satisfeito agora? Basta agora ao próximo presidente cortar as verbas para a implantação biométrica e eliminam-se as ameaças ao controle deste tipo de voto. Assim todos ficam satisfeitos.

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