A Copa do Mundo vem se aproximando e é hora de falar um pouco mais sobre a mais importante competição do futebol mundial.

Nosso personagem é um jogador que foi injustiçado duas vezes nas Copas anteriores e que, salvo alguma contusão de última hora, terá a honra de envergar a Camisa 1 canarinho nesta Copa da África do Sul.

Voltemos a 2002. Em um time fraco, Júlio César era, disparado, o maior destaque de um Flamengo combalido e afogado em dívidas herdadas das desastrosas administrações dos ex-presidentes Kleber Leite e Edmundo Santos Silva. Não é exagero dizer que ele foi peça importantíssima para o clube não ser rebaixado em 2001 e 2002, bem como nos títulos cariocas de 2000 e 2001.

O goleiro era candidato a uma das vagas para a Copa de 2002, sendo sem dúvida alguma o melhor goleiro brasileiro de então. Entretanto acabou de fora da competição devido a dois fatores: ao assumido preconceito do técnico Luiz Felipe Scolari contra jogadores cariocas – quem não se lembra dele na convocação final frisando que Juninho, jogador do Flamengo, “era paulista”? – e à pressão insuportável da mídia paulista pela convocação de seu queridinho, Rogério Ceni. Aliás, este último, goleiro comum embaixo das traves, se jogasse a metade do que seu marketing apregoa era o novo Pelé.

Ele não foi ao Japão e à Coréia do Sul, o Brasil foi campeão – justiça seja feita, com boas atuações de Marcos – e esta entrou para a história como a primeira injustiça sofrida pelo goleiro.

A vida seguiu para o arqueiro rubro-negro. Ele continuou fazendo seus milagres em 2003 e 2004, até se transferir para a Internazionale de Milão no final deste ano. Esteve emprestado, voltou à equipe milanista, desbancou o preferido da torcida Toldo e se firmou como titular do time azul e preto.

Parêntese: outra tremenda injustiça é ver Bruno entrando para a história como um dos goleiros mais vitoriosos da história flamenga e Júlio César não. Mas…

Mudou o técnico da Seleção, Dida assumiu o posto de titular e Júlio César, seu reserva imediato. Brilhou intensamente na Copa América de 2004 e caminhava para ser o reserva imediato na Copa da Alemanha. Contudo…

Mais uma vez embalado por uma campanha midiática sem precedentes, e respaldado em uma boa atuação na final do Mundial Interclubes do ano anterior, Rogério Ceni aterrisou de pára-quedas na convocação final para o certame, ele que praticamente não fora convocado nos quatro anos anteriores. Mais ainda, tomou de Júlio César o lugar de reserva imediato, chegando até mesmo a entrar em uma partida. Ao goleiro carioca restou treinar sozinho, haja visto que sequer dos coletivos ele participava. Tornou-se uma espécie de “fantasma” ou “morto vivo” naquela fracassada seleção.

Não se abateu. Sem se queixar seguiu o seu caminho, conquistando títulos e a admiração de seus fãs brasileiros e europeus até se consagrar campeão europeu na última semana. Não foi o primeiro titular de Dunga, mas aos poucos assumiu a posição, empreendeu algumas atuações memoráveis e atualmente é o dono incontestável da Camisa 1 brasileira. Conseguiu a proeza, até, de diminuir bastante o lobby pelo arqueiro paulista, rei do marketing pessoal.

Boa sorte, Júlio Cesar. Oito anos e duas injustiças depois, finalmente poderá disputar uma Copa do Mundo.