O fato político mais palpitante dos últimos dias foi o propalado acordo feito com o Irã para o enriquecimento de combustível (urânio) para suas centrais nucleares. Intermediado pelo Brasil e pela Turquia, o acordo prevê o enriquecimento de urânio no exterior, sob controle de agentes externos.

A princípio, o acordo diminui a possibilidade de sanções econômicas exigidas por Israel e encampadas, como sempre, pelos Estados Unidos. Também diminui a médio prazo a chance de uma invasão do país pelos EUA ou mesmo por Israel – o que seria catastrófico tanto em termos geopolíticos quanto econômicos.

A diplomacia no Oriente Médio possui um grave problema, até hoje não enfrentado: a política externa americana para a região é extensão da posição israelense, devido ao poderosíssimo lobby judeu em Washington. Com isso há um desequilíbrio grave no sentido de que Israel sempre tem suas posições atendidas ou impostas dado o apoio incondicional do irmão mais forte. Apesar do notório desequilíbrio de forças o país atende a seus interesses prejudicando visivelmente as questões árabes na região.

Vejamos a questão nuclear. Israel possui a bomba atômica e, pela força, vem dissuadindo seus inimigos na região a obter poder semelhante – o que lhe tiraria o poder de ditar as regras do jogo e se beneficiar em prejuízo dos países vizinhos. Mais, vem efetuando pressões no sentido de que seus inimigos sequer tenham possibilidade de deterem tecnologia nuclear para fins pacíficos.

Até prova em contrário, o objetivo iraniano é de enriquecer urânio a fim de gerar energia. Apesar de ser uma das maiores reservas petrolíferas do mundo a capacidade refinadora do país é extremamente limitada, o que o força a diversificar sua matriz energética. O acordo alinhavado prevê o enriquecimento do urânio na Turquia com supervisão internacional, de forma a garantir que o programa do país será, apenas, para fins pacíficos.

Fortemente influenciado por Israel e seus radicais – atualmente ocupantes do poder – o governo americano vem dando sinais de que rejeitará o acordo e imporá sanções econômicas ao Irã.

Não custa lembrar que o atual governo israelense vem empreendendo uma política de “espaço vital” a fim de aumentar o seu domínio sobre os árabes circundantes a seu território geopolítico. Gaza e Cisjordânia, com autonomia limitadíssima, são verdadeiros campos de concentração comandados pelo governo israelense. Só faltam as câmeras de gás – se bem que o método é um pouco mais sofisticado, usa a fome, a carência de serviços médicos e o desemprego (foto).

A estratégia israelense, replicada pelo EUA, é clara: enfraquecer os países da região a fim de aumentar o seu domínio e o seu poder de influência, utilizando-se destes para impor as suas políticas e obter recusros para sua economia. A paz na região é a ‘paz’ israelense.

Lembro também aos leitores que um dos objetivos secundários da invasão ao Iraque foi o de utilizar os rios Tigre e Eufrates para melhorar a situação do abastecimento de água israelita. Diminuiu-se a disponibilidade para os iraquianos a fim de aumentar o suprimento destinado a Israel.

Penso que o Irã possui todo o direito de desenvolver tecnologia nuclear para fins pacíficos. Entretanto, há um claro desequilíbrio na diplomacia  e na geopolítica da região, com a posição judia respaldada incondicionalmente pelo país mais forte – e que não se omite em utilizar o seu poder para fazer valer os interesses do “irmão mais novo”, ainda que isto represente em pesados prejuízos para o restante da região. Consequentemente, uma pesado anti-americanismo reside nesta região, como resultado de tal política – a questão religiosa, a meu ver, é absolutamente secundária.

Pessoalmente nada tenho contra o povo ou a religião judia, mas acredito que para haver uma coexistência em paz o país terá de fazer concessões e desistir da política externa claramente imperialista que adota atualmente. E isto passa pelo direito iraniano de deter tecnologia para fins pacíficos. Também deve-se ressaltar que existe radicalismo político ou religioso em todos os países da região, não somente no Irã.

Aguardemos os desdobramentos do assunto.

One Reply to “Diplomacia americana ou diplomacia israelense ? O caso do Irã”

  1. Pois bem, Israel possui a Bomba. É verdade? E a Arábia Saudita? Possui ogivas? Israel ou Arábia Vão jogar a Bomba? Mas, eles desapareceriam, não é verdade? Jogar no Irã? Nem USA, nem Rússia, nem China, nem Índia permitiriam. E o Irã, jogaria em Israel? Não creio. Há um equilíbrio pelo terror (terror demagógico, claro, mas equilíbrio).

Comments are closed.