Estou para escrever sobre este assunto há algum tempo, mas como neste mês de férias – e crianças para cuidar – estou sendo obrigado a escrever o blog com alguma antecedência, havia me faltado tempo.
Ultimamente aqui na Ilha vem ocorrendo um fenômeno recorrente: choveu um pouco mais forte, falta luz. Aqueles que me acompanham no Twitter já devem ter lido mensagens em que reclamo disso.
Na verdade, o consumidor carioca está pagando agora por um processo extremamente mal feito há mais de dez anos atrás, que foi o modelo de privatização da companhia.
À época, a privatização foi feita com o intuito de garantir o máximo de renda presente ao governo – e, dizem as (não tão) más línguas, uma evolução patrimonial bastante rápida de alguns dos principais atores do processo.
Não se pensou em coisas como metas de eficiência ou expansões na rede. Deixou-se estes fatores a cargo da Aneel, que, como todo mundo sabe, está ali para representar as empresas, não o consumidor.
Outro fator é que muitas companhias foram compradas com financiamentos do BNDES, pagos com a própria geração de caixa da empresa privatizada. Além disso, comprada por uma empresa francesa – a EDF – a Light se viu obrigada a estabelecer grandes remessas de lucros para a matriz.
Resumo da salada: não houve o menor investimento em linhas, a manutenção foi deficiente, não ocorreu expansão, terceirização aguda de equipes técnicas, corte de custos “no osso” e deficiências de caixa para o serviço dos empréstimos e das remessas de lucros.
Não houve exigências técnicas, a fiscalização da Aneel é uma piada, e temos este quadro caótico hoje. Na prática, pagamos por decisões políticas equivocadas tomadas há mais de dez anos atrás.
Nós já havíamos sentido os efeitos desta privatização mal feita quando do racionamento, fruto de um modelo errado de venda – só se vendeu a distribuição, e geração e transmissão de energia foram deliberadamente sucateadas pelo governo de então. Em qualquer sistema elétrico é a distribuição que segura os investimentos em geração e em transmissão de linhas, de modo que a indústria precisa ser integrada.
Voltando à Light, ela está em processo de venda para a Cemig. Não deixa de ser irônico ver que a empresa, de certa forma, será reestatizada.
Aqui onde moro desde que estourou um transformador no início do ano passado e “deram um jeitinho” está este inferno. Mas o quadro se repete em outras áreas da cidade. Lamentável.
O Ouro de Tolo tende a ser refratário às privatizações, sendo totalmente contra este modelo de agências reguladoras. O caso da Light é um bom exemplo do fracasso das mesmas, bem como de interesses pessoais e ideológicos se sobrepondo ao interesse da nação e de sua população.

3 Replies to “Privatizações mal feitas, efeitos duradouros – o caso da Light”

  1. O problema não é a privatização em si. O problema crucial está nas agencias reguladoras, que são corruptas e estão nas mãos das proprias empresas concessionárias.

    Colocam o lobo pra tomar conta do galinheiro, dá nisso.

  2. O problema é da privatização, sim. Basta quebrar todo e qualquer monopólio e deixar a Estatal competir. Ela sempre atrairá os trabalhadores mais competentes, por conta da estabilidade.
    Os neoliberais são engraçados: pregam que o mercado se autorregule, a não ser que seja o mercado de trabalho.

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