Hoje é terça feira, dia de “Samba de Terça”.

Retomamos a linha da coluna de trazer grandes sambas mas que sejam muito pouco conhecidos. Também retomo hoje a lembrança de sambas com temática africana e de alusão aos orixás.

A Difícil é o Nome é uma escola do bairro de Pilares, um dos chamados “subúrbios da Central”. Tem uma irmã famosa, a Caprichosos de Pilares, objeto de um texto anterior desta série. Aliás, a distância entre as quadras das duas escolas não chega a um quilômetro.

A vermelha e branca de Pilares sempre oscilou entre o terceiro e o quarto grupos do carnaval carioca. Já esteve no hoje Acesso A, segundo grupo, mas seu lugar cativo é transitando entre o último grupo a desfilar na Sapucaí e o primeiro na Intendente Magalhães.

Nosso samba de hoje é “Olubajé, a Festa da Libertação”, apresentado no carnaval de 1994 e reeditado no carnaval de 2006 – quando a escola voltava à Sapucaí depois de um intervalo de quatro desfiles fora do palco principal do carnaval carioca.

O enredo contava a festa do Olubajé, em homenagem ao orixá Obaluayê – considerado o médico dos orixás. Infelizmente não temos disponível a sinopse de 1994, de autoria do hoje renomado carnavalesco Paulo Menezes, mas disponibilizo aqui a sinopse do carnaval de 2006 – uma boa idéia da rica cultura da tradição religiosa afro-brasileira.

“Histórico

Nanã teve três filhos: Obaluayê, Oxumaré e Ossain. Obaluayê, o mais velho, nasceu todo deformado com o corpo coberto de chagas purulentas e com aspecto medonho. Ao ver aquela criança “monstruosa”, Nanã tomou pavor de seu próprio filho e o abandonou a sua própria sorte.
Yemanjá, a mãe do mundo, vendo aquilo, se apoderou da pobre criança, resolveu criá-la e assim o fez … Cuidou Dele, tratou de suas feridas e Obaluayê tornou-se o grande orixá BABÁ YONÃ (pai da quentura).
Por isso Obaluayê é o dono das doenças. Especialmente das febres, doenças de pele, de lepra e todas as grandes pestes.
Obaluayê, por ter vencido todas as doenças, passou a ser considerado o médico dos orixás, chamado de ONIXEGUN (médico), por ter o poder da cura e se tornou também o dono da vida e da morte.
Dizem que Obaluayê se cobre com IKÔ (palha da costa) para que ninguém veja sua feiúra – outros dizem que é para que ninguém veja sua beleza. Mas é muito mais que isso, ele é o dono do mistério da morte, por isso deve ficar oculto. Mas ele também é o dono do ORIN (sol) e, por isso, dono da vida.
O Olubajé
E começa a festa do Olubajé…!
Durante esta festa, que é uma homenagem, iremos pedir a proteção de Obaluayê para que ele nos ajude a encontrar o caminho da libertação.
As YAÔS lavarão o chão para a chegada dos orixás para a festa e as EKEDIS darão auxílio a estes orixás durante sua permanência na festividade. Todos os orixás estarão presentes, exceto Xangô e Logun Edé, que segundo os preceitos não participam do Olubajé.
Cada orixá deixará uma característica sua como presente para o povo, pois a união destas forças nos aliviará o sofrimento.
Ogum nos dará a força e a perseverança;
Oxossi seu conhecimento da fauna;
Ossain seu conhecimento da flora;
Oxumaré nos dará o poder da transformação;
Oxum nos dará a força do amor e a fertilidade;
Iansã a energia;
Iemanjá a fraternidade;
Nanã a solidariedade;
Os Erês a alegria e a espontaneidade e
Oxalá, nosso pai trará a fé, a esperança e a caridade, que unidos a sabedoria e ao conhecimento de Obaluayê serão a contribuição dos deuses para encontrarmos os caminhos para a saúde.
O Olubajé culminará com as oferendas para Obaluayê, pois elas são uma forma de reverenciar ao orixá e junto a elas colocarmos os nossos pedidos de proteção.
O Olubajé para nós não é somente uma festa, mas é também uma forma de oração a Obaluayê, a oração de um povo sofrido que procura novas forças e novas esperanças.
ATOTÔ !
A libertação
E Obaluayê se compadece de seu povo nos dá a direção e o caminho para encontrarmos a saída para todos os males que estamos passando. Como senhor do ORIN (sol) faz com que sua luz nos ilumine e nos mostre a saída para a cura de várias doenças e a forma de combater os males que infectam o mundo.
Mas esta direção depende muito mais de nós, pois é preciso conquistarmos a nossa libertação através de uma consciência maior e para um entendimento de que muitos dos males que nos aflige são causados pelo nosso imobilismo e que unidos em torno do mesmo ideal podemos ter uma vida melhor e padecer menos.
E é a hora da chegada de Oxalá, que chega trazido pelos mestres de Obaluayê, que atendendo seu pedido vem nos dar sua bênção, trazendo a paz e a prosperidade para um novo caminho. Mostrando-nos que só conseguiremos atingir nossos objetivos se cultivarmos a solidariedade, a humildade e o amor ao próximo como princípios básicos da vida, pois sem vida não há saúde e sem saúde não há vida.
Justificativa
Apesar do Brasil atualmente viver o espetáculo do crescimento da economia, com a geração de empregos, buscando uma melhor distribuição de renda, a saúde continua um caos e a desigualdade social permanece, surgindo um sentimento de frustração, decepção e desencanto que nós leva a duvidar da existência de um futuro melhor.
Milhões de brasileiros vivem na indigência. Faltam-lhes: comida, saneamento básico, habitação, educação,… Não bastasse tudo isso, nosso povo ainda padece de várias doenças ( Hanseníase, Doença de Chagas, Malária, Esquitossomose ou Barriga D’água, Tuberculose, Hepatite, etc.), e ultimamente assiste o ressurgimento de doenças antes extintas de nosso território e o aparecimento de outras com características epidêmicas (Cólera, Dengue, AIDS e Febre Amarela). Para completar, assistimos a falência do sistema de atendimento público hospitalar e os serviços médicos privados conveniados com o INSS cobrando pelo que fizeram, não fizeram ou que ainda vão fazer.
Como podemos ter vida sem saúde?
Assim, como toda a nação, estamos perplexos, paralisados e apáticos. Pouco ou nada temos feito além de buscar explicações e culpados para a nossa crise.
O que se pode fazer ?
Neste dia de festa, podemos recorrer a nossa espiritualidade e dedicar um ritual a Obaluayê, o orixá da vida e da saúde, pedindo para que nos ajude a encontrar um caminho e que ele seja mais digno e menos tortuoso; para que os profissionais da saúde conquistem a dignidade e as condições de trabalho devidas para cumprir seus ideais e suas missões; que os nossos governantes reconquistem a credibilidade e cumpram com suas responsabilidades de homens públicos e que, juntos possamos buscar a libertação.
Em um momento em que a crença do homem no próprio homem está se tornando cada dia mais difícil, é hora de mostrarmos que isto ainda é possível, e a crença no Orixá nos levará à crença no homem e a crer que a saúde no Brasil ainda precisa de força, muita força, união e … principalmente fé, esperança e dignidade.
E este, é o carnaval de 2006 que a G.R.E.S. Difícil é o Nome irá apresentar, um tema atual, pois, não nos prendemos apenas em mostrar um preceito afro-religioso, mas temos a preocupação de unir a espiritualidade com o político-social e mostrar um pouco da situação brasileira, pois, cremos que fazer carnaval não é apenas mostrar fantasias, alegorias e contar histórias, pois, carnaval é cultura e acreditamos que passando na Passarela do Samba com um enredo político-social-religioso não estaremos somente fazendo carnaval, mas, também fazendo história através da maior manifestação popular do nosso povo e da nossa cidade.
Boa Sorte para nós e para o Brasil, pois, nós merecemos.
AXÉ
Introdução
O Olubajé é uma das festas do candomblé para homenagear um orixá. E nestes tempos difíceis, onde a saúde no Brasil está tão abandonada, onde temos milhares de pessoas morrendo pelo mal atendimento médico-hospitalar e sem dinheiro para comprar remédios. Neste final de século vemos, também, a aparição de novas e o ressurgimento de antigas doenças, que vão tomando um volume crescente, tornando-se epidemias, que dificilmente são controladas, cabe a nós perguntar: será que estamos recebendo um castigo por todas as atitudes que a humanidade vem tomando ?
Não sabemos.
Mas é hora de, na festa do Olubajé, que é um preceito ao orixá da saúde e da doença, da vida e da morte que é Obaluayê, tentar nos redimir de nossas atitudes e pedir sua benção, para ajudar este povo sofrido a encontrar os caminhos para a libertação de todos os males que nos cercam, e ter certeza que ele nos ajudará.
A libertação
E Obaluayê se compadece de seu povo nos dá a direção e o caminho para encontrarmos a saída para todos os males que estamos passando. Como senhor do ORIN (sol) faz com que sua luz nos ilumine e nos mostre a saída para a cura de várias doenças e a forma de combater os males que infectam o mundo.
Mas esta direção depende muito mais de nós, pois é preciso conquistarmos a nossa libertação através de uma consciência maior e para um entendimento de que muitos dos males que nos aflige são causados pelo nosso imobilismo e que unidos em torno do mesmo ideal podemos ter uma vida melhor e padecer menos.
E é a hora da chegada de Oxalá, que chega trazido pelos mestres de Obaluayê, que atendendo seu pedido vem nos dar sua bênção, trazendo a paz e a prosperidade para um novo caminho. Mostrando-nos que só conseguiremos atingir nossos objetivos se cultivarmos a solidariedade, a humildade e o amor ao próximo como princípios básicos da vida, pois sem vida não há saúde e sem saúde não há vida.

(Fonte: Galeria do Samba)

Em 1994, a escola foi a quarta agremiação a desfilar na noite de terça feira de carnaval, 15 de fevereiro. A apuração traria uma grande alegria à escola, o seu único título em sua história, com 223 pontos. A conquista do Acesso B naquele ano deu à Difícil é o Nome o direito de desfilar no Acesso A no ano seguinte, 1995.

Vale ressalvar que o Acesso B naquele 1994 possuía um viés de Acesso C, devido ao inchaço excessivo do Grupo A. Entretanto, não tira os méritos da escola.

Em 2006, a escola, que voltava ao templo principal do samba com o terceiro lugar no Acesso C do ano anterior, foi a décima escola a adentrar a Passarela do Samba. A vermelha e branca não se intimidou com a reestréia no Acesso B e fez um excelente desfile na madrugada da Quarta Feira de Cinzas, primeiro de março daquele ano.

A escola obteve o sexto lugar, com 238,5 pontos; minha avaliação é de que poderia, e deveria, ficar melhor colocada. Um quarto lugar sairia mais adequado em minha avaliação.

Vamos ao samba e, abaixo, um vídeo do desifle de 2006. Infelizmente, não consegui imagens do desfile original. Aqui você pode ouvitr o samba em sua versão ao vivo de 2006.

Autor(es)
Deni Poeta, Joel José, Paulo Roberto e Jair Sapateiro


“Ouvi dizer que um novo rei viria à Terra
Pra nos livrar
De todo mal que nela gera
Na festa do Olubajé
Irá surgir uma nova era

Condições de vida, paz, prosperidade
Saúde para toda humanidade

Com palha da costa cobrirá (hê, hê, hê, hê)
Tapete de folhas de Oxalá
E as iaôs vão perfumar
Todos os salões para os Orixás
Pro nosso sonho poder se realizar
De presente eu quero paz e amor
Pra doença eu quero a cura
Dos sofrimentos e dor
Pra ciência proteção divina
Das suas mãos a medicina
Para as crianças axé
Esperança eu quero mais calor
Difícil é o Nome
Vem cantando em seu louvor

Arêrê Obaluayê nos traga felicidade
A vida aqui está muito ruim
Nós queremos liberdade

Semana que vem, continuaremos no ano de 1994, com um samba que considero antológico: Unidos de Vila Isabel.

4 Replies to “Samba de Terça – "Olubajé, a festa da Libertação"”

  1. Peço que rezem para que Jesus liberte minha familia,minha casa e trabalho de todas as maldiçoes e e perseguiçoes dos inimigos e dos males. Que possa ter paz ,prosperidade e uniao sempre agora!

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