Meus onze leitores devem ter visto na imprensa que o Flamengo lançou um projeto de uma espécie de “Agência de Viagens” rubro negra.

Entretanto, a história não é bem essa, como foi vendida. Ao contrário, é mais uma prova de que o marketing do clube tem sérios problemas de eficiência, isso para não escrever outra coisa.

Passo a palavra aos amigos Affonso Dantas e Adriana Martins, que participaram do projeto desde o início da idéia:

“Há cerca de três anos, eu apresentei uma série de idéias ao C.R.Flamengo através de um power-point e em duas reunões seguidas: com o Ricardo Hinrichsen e com o José Maria Sobrinho. Uma dessas idéias era a Fla-Tour. Com este nome, inclusive.

Entretanto, a idéia não é “minha”. Primeiramente, porque este tipo de conceito é universal, está “no ar” e depende unicamente das condições propícias para surgir e ser colocado em prática. Ainda assim, depende de que alguém o apresente. E, naquela sala, àquele tempo, este alguém fui eu.

Em segundo lugar, porque naquela ocasião (eu reconhecia isso no mesmo momento em que apresentava) eu abria mão de qualquer autoria. Neste sentido, a idéia realmente é “do Flamengo”, como se diz.

Não obstante, eu pedi a gentileza de poder ser encarregado de desenvolver, ou ajudar a desenvolver, qualquer um daqueles projetos apresentados, caso alguns deles pudessem interrssar ao Flamengo. Digo isso para explicar que o Flamengo não teve interesse e possibilidade imediatos de desenvolver qualquer uma das idéias, mas que aquelas apresentações causaram muito boa impressão nos então VPs de Planejamento e Marketing. Tanto é que, logo depois, eu vim a ser Diretor de Marketing.

Naquele momento, especificamente, a idéia ainda não tinha sido discutida dentro do Flamengo, muito menos no Dep. de Planejamento. Ao longo destes anos, o mesmo conceito foi levado ao Flamengo por outras pessoas. Pelo menos, que eu saiba, pelo Edmar e pela Drica, sem que eu tenha comentado nada com eles. Isso evidencia que este tipo de conceito pode surgir concomitantemente em diversas cabeças, não cabendo crédito de autoria original, senão o reconhecimento ético de que a idéia já havia sido levantada por outras pessoas, e não a negação pública disso.

O projeto, apesar de não ter sido desenvolvido há três anos pelo Flamengo, entrou sim na pauta do Gease.

A Fla-Tur estava, ainda, no projeto de portal de internet que foi desenvolvido a muitas mãos pela então chamada “turma do Planejamento”. Quando eu redigi o conteúdo básico do portal, documento que usamos para tentar captar parceiros comerciais para sua implementação, isso já estava lá. Como conceito, mas já bastante discutido.

Quando a Drica esteve no Gease, logo depois da minha saída, foi pedido a ela que desenvolvesse o projeto Fla-Tour, até então ainda na forma de conceito. A Drica estava tão entusiasmada com o projeto que compartlhou-o com alguns amigos, e isso está documentado.

Não sei exatamente quando a Diretoria tomou conhecimento do projeto “que a Marsans apresenta” agora. Eu tomei conhecimento deste projeto há cerca de oito meses, enviado pela Drica, com algumas vírgulas colocadas exatamente (e coincidentemente, acredito) nos mesmos lugares. Alguns companheiros rubro negros, como Gustavo, Alisson, Migão e Flávo, tiveram conhecimento anterior, de há mais de um ano, de quando a Drica desenvolveu este mesmo projeto, e pediu opiniões a eles. As mesmas coisas que estão no projeto da Marsans, algumas das quais sem tirar nem por.

Portanto, a idéia e o conceito podem ser do Flamengo, porque todos os que os apresentaram antes o fizeram para o Flamengo, e sem cobrar por isso. Mas o projeto, que eu conheço, e que eu reconheci agora como sendo da Marsans, este foi escrito pela Drica.

Que bom que estamos informando disso agora, para que se possa tomar as providências e consertar este equívoco.

Uma outra coisa, esta sobre a qual eu não tenho conhecimento, é a ponte feita pela Golden Goal, apresentando o Flamengo à TAM e à Marsans. Não sei quem teria apresentado esta ou aquela empresa ao Flamengo, mas há algo que me causa estranhamento.

Muito antes de o Flamengo apresentar a TAM como parceira neste projeto (e, depois, não explicar por que micou a parceria), a TAM movia processo judicial contra o Flamengo exatamente por descumprimento de contrato anterior entre ambos. O que é estranho é que alguém com quem o Flamengo já havia estabelecido parceria comercial anterior – tanto que acabara em litígio – tenha sido “apresentado” novamente ao Flamengo por uma empresa de consultoria. Seria algo como alguém me apresentar de novo à minha ex-esposa. Não compreendo como isso possa ocorrer.

Com a Marsans, eu desconheço que o Flamengo tenha tido negócios anteriores. De toda forma, sendo o Flamengo uma entidade tão pública, e a Marsans uma empresa tão conhecida, qual a necessidade que esta aproximação seja feita por terceiros? É uma intermediação de contrato? Se é, por que a Golden Goal não aparece como tal no projeto? E, se assim for, não parece que o Dep. de Marketing tem profissionais exatamente com a missão de ser auto-suficiente e fazer, por si só, os contatos com possíveis parceiros comerciais? Não é esta uma das missões co Marketing rubro-negro, missão aliás assumida nas definições estatutárias do Departamento? O que faz um intermediador comissionado nesta transação?

Este é um negócio que pode causar sérios problemas no Conselho Fiscal.

Resumo Cronológico:

2006 – Surge no ar, e é dada ao Flamengo, a idéia de uma Fla-Tour.
2006 – 2009 – Reiteradas vezes, pessoas sugerem ao Flamengo uma Fla-Tour.
2008 – Drica desenvolve o conceito da Fla-Tour, que passa a ser um projeto.
2008 (?) – O Flamengo apresenta o projeto e diz que a parceira é a TAM Viagens.
2009 – A Marsans apresenta um novo projeto. Segundo declaração de um dirigente rubro-negro, o projeto é do Flamengo, apresentado pela Marsans. Este projeto é igual ao da TAM, que por sua vez é igual ao da Drica. A Marsans apresentou o projeto, mas foi apresentada ao Flamengo pela Golden Goal, que levará uma comissão do negócio.

3 Replies to “A verdadeira história do "Onde Estiver Estarei"”

  1. Empresas sérias não tem por descuido desperdiçar dinheiro. Não é o caso do Flamengo, como vemos aqui.
    Mas existe lógica nisso. Afinal, assim como existe no submundo político, os atravessadores e lobistas sempre aparecem na hora de assinaturas contratuais.
    Pena que os sócios do nosso Maior do Mundo sejam tão omissos.
    Existe um Conselho no Clube, e os sócios têm por obrigação exigir prestação de contas com notas e tudo o mais. Acho que a gente, como torcedor também se omite, quando não faz questão de entrar como associado do clube e cobrar explicações na justiça cível e criminal…
    O Flamengo de quem é, afinal? Dos sócios apenas, ou da torcida?
    Chegou a hora de novos associados aparecerem para dar novos rumos e sangue novo a essa pestilencia que assola a Gávea.
    É difícil pagar 130 mensais, e isso ocorre justamente para não se popularizar o clube. Mas ainda surgirá quem entenda que a melhor maneira de agigantar de verdade o Mengão é popularizá-lo e fazê-lo pertender à sua torcida de uma vez.

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