Eu não me lembro exatamente o dia, mas tendo a achar que foi 17 de junho de 2013. Um dia antes, tinha ido ao Maracanã ver Itália x México pela Copa das Confederações. Ainda lá no Mário Filho, pensei que todo o processo de compra de ingressos, retirada, acesso ao estádio, experiência de ver um torneio FIFA e a saída dariam um texto bacana.

Mas havia um problema: onde publicar. Apesar de, à época, escrever para dois blogs diferentes, achei que não cabia em nenhum deles e, em um desses tweets que a gente publica e nem sabe porquê, relatei que queria publicar um texto sobre o jogo, mas não tinha onde. E foi aí que recebi uma resposta um tanto quanto inesperada do Pedro Migão, a quem já seguia há uns dois anos e era seguido há alguns meses: “tem espaço no Ouro de Tolo”.

Eu, ainda no Rio de Janeiro, aceitei de bate-pronto, mas fiquei meio surpreso. Eu no Ouro de Tolo? Eu dou conta? Essas perguntas tem uma explicação. Nos aproximadamente dois anos anteriores, foi aqui que eu me diverti com os contos do Aloisio Villar, além de suas colunas sempre muito pontuais. Foi aqui que finalmente entendi o sistema eleitoral americano e pude compreender melhor o sistema de escolha do Papa através de duas séries brilhantes de colunas do Rafael Rafic. Foi aqui que, através dos textos do editor-chefe, conheci histórias do samba e alguns sambas-enredo históricos através da Samba de Terça (que deveria voltar, inclusive), sem falar nos relatos que foram de um jogo decisivo de Campeonato Brasileiro a um Ponte Preta x Brasiliense pela Série B do Brasileirão. Isso para ficar nos três exemplos mais próximos com quem tenho mais contato atualmente.

Criei, portanto, um hábito de ler o blog como lia um jornal. Passei a valorizar as opiniões que lia aqui, mudei meu jeito de pensar algumas vezes e, naturalmente, era estranho pensar que, ainda com um texto, eu faria parte do time. Ainda no Rio de Janeiro e sem meu computador – que ficou, quebrado, em casa – digitei o texto no corpo do email pelo celular e mandei. Dois dias depois foi publicado “A FIFA e o novo Maracanã”, a minha colaboração para a história do blog.

O tempo passou e, lá para o fim de julho, começo de agosto, estávamos conversando no Twitter quando o Migão disse que eu tinha recusado um convite para ser colunista do Ouro de Tolo. Agora o espanto foi dobrado. Ele sequer me perguntou nada, como eu poderia ter recusado? Não só disse isso, como ainda aceitei o convite em seguida. Na mesma noite “assinei contrato” e o editor-chefe, ao saber que sou péssimo para intitular as coisas, criou um nome para minha coluna que achei bastante interessante: Filho Pródigo (muito melhor que o apelido de Migãozinho que ganhei algum tempo depois e o de Emerson Sheik, os quais ainda não entendi até hoje).

Em três meses passei de fã do Ouro de Tolo a colunista do blog, o que era uma responsabilidade bem grande. Os amigos leitores que não me entendam mal, mas nem era a audiência que me fazia ter cuidado com o que e como escrevia, mas sim os companheiros. Por exemplo: para dividir espaço com aquele que, a meu ver, tem um dos melhores textos do Brasil hoje, o historiador Luiz Antônio Simas, eu tinha que fazer algo com o mínimo de decência.

E não pensem que “responsabilidade” quer dizer pressão, ou nervosismo, até porque o ambiente nunca foi desses. Era uma responsabilidade minha de tentar fazer algo bem feito para que eu mesmo não achasse que estava destoando muito do resto. Em 29 de agosto, estreei oficialmente com uma coluna intitulada “Uma Casa sem Bem-Estar”, sobre uma reportagem que mostrava o péssimo tratamento dado a menores infratores em suas prisões especiais.

Nove meses depois de integrar oficialmente o time de colunistas e, na semana em que este espaço comemora seu quinto aniversário (dia 15), posso afirmar: estou em casa. Tenho aqui uma liberdade para escrever que não espero encontrar em lugar nenhum. Acreditem: em 26 (contando com esse) textos, não tive uma linha censurada ou mesmo uma recomendação para que não falasse algo, ainda que em pelo menos metade deles fosse na mão extremamente contrária a do editor; e ainda que alguns desses revoltados virtuais que atacam em bando caiam aqui, o prejudicado maior seja ele.

Porque o Ouro de Tolo é assim, democrático em essência. Tem Histórias Brasileiras, coluna com nome afro e é Made in USA. É médico, jornalista, advogado, nerd e estudante, como eu. Tem espaço para todo mundo. Aqui, pude sair um pouco do vício de escrever apenas sobre futebol e carnaval (ainda que eles tenham dominado minha coluna, reconheço) e me aventurei em outras áreas, como política, segurança, história e até Ayrton Senna.

Falando nisso, a liberdade que os integrantes do Ouro de Tolo têm não são somente em seus próprios textos. O editor não só está aberto a sugestões, como pede a todo momento que tenhamos novas ideias para o blog. Por sugestão do Aloisio Villar, por exemplo, surgiu a Semana Senna. Após algumas ideias aqui e ali, nasceu a “Meu Jogo Inesquecível” ou o debate sobre Carnaval (acertei a campeã, inclusive).

20140308_200349E o que mais me alegra em estar presente no Ouro de Tolo é ver o blog crescendo e isso, mais uma vez, nada tem a ver com audiência, que também está em alta. O quadro de colunistas se renova a cada dia. Assim que cheguei, chegou outro amigo, o Rodrigo Salomão com seu povo no blog e, mais recentemente, outro amigo, o curitibano Gustavo Vaz com suas cartas do freezer.

O que dizer então do Fred Sabino que, além das suas Sabinadas, criou um dos melhores materiais jornalísticos sobre Carnaval de que tive notícia até hoje, a Sambódromo em Trinta Atos? Ele, ao lado do Migão e suas informações sempre privilegiadas (semana passada ele me adiantou a campeã do Grupo C da Intendente Magalhães de 2046, garantiu todo mundo já sabe) fizeram 30 textos brilhantes contando a história da Marquês de Sapucaí ano a ano. Isso não merece parar na internet: tem que ir para as prateleiras.

Enfim, enquanto o Migão permitir, estarei aqui, de 15 em 15 dias, tentando não baixar muito o nível do blog. Ele, aliás, pode ser meio maluco, mas, como todos eles costumam ser (inclusive o tal Raul Seixas, cuja música dá nome a este espaço), teve uma ideia genial lá naquele 2009. Não era mais um blog. Era uma revista eletrônica pela internet. Acho que ninguém tem dúvidas de que deu certo.

E que venham mais cinco anos.

2 Replies to “Filho Pródigo: “Os Cinco Anos””

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