Nesta quarta feira o Ouro de Tolo tem um texto de autor convidado. O estudante paulista Leonardo Dahi nos traz a visão do novo Maracanã sob o ângulo de quem veio ao Rio de Janeiro especialmente para assistir à partida. Minha visão sobre o mesmo jogo está aqui.

A FIFA e o Novo Maracanã

Desde que o Brasil foi escolhido, lá em 2007, como sede da Copa do Mundo de 2014 (e, consequentemente, da Copa das Confederações de 2013), a FIFA foi alvo de críticas de parte da mídia e da opinião pública. À medida que os estádios ganhavam forma, muito se falou do tal “padrão FIFA”, uma série de exigências – a maioria dispensáveis – feitas pela entidade suíça ao Governo brasileiro na construção ou reforma dos estádios (ou “arenas”) do Mundial.

O maior alvo das reclamações foi o Maracanã. Palco da final, o estádio perdeu quase que totalmente sua forma antiga, que o consagrou como um dos mais emblemáticos do Planeta. Depois de sua inauguração, muito foi dito que o estádio lembrava mais um teatro, que havia acabado, que seria impossível torcer ali. Isso era algo que me assustava um pouco. Ainda não conhecia o Maracanã e me soava amedrontador pensar que nunca o conheceria de fato, que conheceria um estádio diferente. De todo modo, o estádio estava lá e já estava na hora de eu visitá-lo.

Antes de realizar este sonho, porém, foi necessário comprar os ingressos para a Copa das Confederações, para as partidas entre México x Itália, realizada no último domingo, e a decisão do dia 30. Para quem não sabe, quem quis assistir a um jogo da competição que reúne os campeões continentais, o país-sede e o atual campeão mundial, teve que comprar seu ingresso em uma das três fases de venda: a primeira, exclusiva para clientes Visa, na base do “comprou, levou”; a segunda, através de um cadastro em que você seria sorteado ou não (no caso negativo, você receberia o dinheiro de volta); e a terceira, com os ingressos que sobraram, também no “comprou, levou”.

 Maracanã1

Quem teve a sorte de garantir as entradas, precisou retirar os bilhetes em uma das seis cidades-sede. Isso já foi uma grande complicação para muita gente que não mora em uma dessas cidades, inclusive eu. A necessidade de ir até o Rio de Janeiro (ou qualquer outro município que seja sede) fez com que quase todos os torcedores de outros estados ou países buscassem seus bilhetes no final de semana desta partida. Somados aos próprios cariocas que optaram por retirar na última hora, as filas no posto de retirada montadas no Centro da cidade foram gigantescas.

Eu, porém, não enfrentei esse tipo de problema, visto que optei por ir até a Cidade das Artes (que, aliás, é a obra mais sem sentido que eu já vi, visto que é um troço enorme sem absolutamente nada dentro), na Barra da Tijuca (além desses dois pontos, havia o Aeroporto Internacional do Galeão, sendo que apenas na Barra era possível retirar sem agendamento prévio). Lá, tudo foi muito prático, embora houvesse pouca sinalização no local. Havia um número bem grande de voluntários (imagino que esperavam mais gente) e em menos de cinco minutos já estava com os ingressos na mão.

Devido ao fato das ruas próximas ao estádio estarem fechadas, a melhor opção para chegar ao estádio no dia do jogo foi o metrô. Em tempo: é preciso dizer que, ao contrário do que foi anunciado, o preço dos taxis na cidade está bem honesto. Inexperiente, optei por sair muito cedo, pouco depois do meio-dia, sem saber da eficiência do transporte público. Entrei na Estação Cardeal Arcoverde, em Copacabana, onde haviam muitas placas indicando quais trens deveriam ser pegos para chegar aos diversos setores do Maracanã. O que complicou um pouco foi a necessidade de trocar de trem na Estação Botafogo, já que não havia ligação direta até o estádio. A ausência de funcionários era evidente e muitos turistas estrangeiros se mostraram perdidos.

Depois, foi só seguir até a Estação Maracanã, com os vagões ainda vazios. O trem desce praticamente na porta do estádio e após uma caminhada de aproximadamente cinco minutos, já estava na Passarela que dava acesso ao Portão B do estádio. Durante todo este percurso, também havia muitas placas e voluntários para esclarecer qualquer tipo de dúvida. Maracanã2

Houve um pequeno problema na entrada: algumas máquinas que reconheciam os ingressos apresentaram problemas e o meu bilhete só foi reconhecido após algumas tentativas em várias máquinas. A partir daí, foi só subir a rampa e, enfim, conhecer o Maracanã.

A primeira vista que se tem ao subir a rampa de acesso é impactante. A beleza arquitetônica do estádio, somada ao gramado bem tratado e a toda a atmosfera de um torneio FIFA impressionam. A visão que se tem do campo é sensacional – e olha que eu fiquei em um lugar que, em geral, é menos privilegiado (atrás de um dos gols). É necessário destacar os absurdos preços das lanchonetes oficiais, com anomalias do tipo: R$ 12 em um copo de Budweiser (três a mais que um de Brahma), ou oito em um “hot-dog”, que, na verdade, era um pão com salsicha feito antes de chegar ao estádio.

Como cheguei cerca de três horas antes do início da partida, pude observar bem a infraestrutura do local e outra vez fiquei impressionado. Tudo é muito limpo, organizado e trata o torcedor com o respeito que ele merece. Quando a movimentação começou a crescer, contudo, o maior problema da parte interna do novo estádio se tornou evidente: o pouco espaçamento entre as fileiras faz com que os torcedores tenham que se levantar (ou se espremer nas cadeiras) caso um dos que estiverem ao lado precisem passar para ir ao banheiro, ou comer alguma coisa. Falando nisso, as poltronas são muito confortáveis, é necessário registrar.

Poucos minutos antes da bola rolar, meu maior medo foi para o espaço e eu descobri que aquele não era o Maracanã antigo; mas era, sim, aquele estádio que ficou eternizado na história. Foi emocionante ver todo mundo cantando – ou ao menos tentando – os hinos de México e Itália (em especial o segundo) e, principalmente, entoando o tradicional “domingo, eu vou ao Maracanã…” lá pela metade da primeira etapa. Quando a bola rolou, eu percebi que aquela história de “clima de teatro” não existe. Dá para torcer, vibrar, xingar, como sempre se fez. Aliás, é preciso registrar que as torcidas dos dois países são sensacionais, em especial a mexicana, que veio em grande número ao Rio. No meu setor, algumas pessoas se irritaram ao ver alguns torcedores se levantando durante o jogo, o que não deve acontecer em jogos não-FIFA. Maracanã3

Na saída, porém, o maior problema: aquela passarela de acesso citada anteriormente ficou abarrotada de gente querendo pegar o metrô para voltar para casa, ou para seus hotéis. Não marquei no relógio, mas acredito que tenha demorado cerca de 45 minutos para percorrer o trajeto que foi feito em uns dois na ida. Por consequência, os vagões estavam lotados. Tudo isso pode se tornar um grave problema em jogos com maior demanda ou em clássicos, onde pode haver um nada agradável encontro entre as duas torcidas.

Falando em segurança. um adendo: o número de policiais, ao menos na Zona Sul, é absolutamente impressionante. A sensação de segurança é total e a Polícia se encontra por todas as partes.

É claro que muita gente não pode dizer o mesmo, mas, da minha parte, a FIFA e, principalmente, o Novo Maracanã, estão aprovados. Acredito que tudo um dia precise evoluir, mudar, e com o maior estádio do Brasil não foi diferente. Ele continua lá, só que mais limpo, mais bonito, mais confortável. E para quem acha que não é mais o Maracanã, recomendo esperar a primeira final de Campeonato Carioca no novo estádio, ou, como ouvi no metrô na hora da volta, “um Fluminense x Atlético Paranaense em um sábado, nove da noite”, pois “é disso que o Maracanã precisa”.

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Até mais!

Leonardo Dahi

6 Replies to “A FIFA e o Novo Maracanã (por Leonardo Dahi)”

  1. Ótimo texto. Só acho que o Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti deve estar se revirando no túmulo, já que ele nunca foi fã de guerras ou militares.
    Ele foi o 1o Cardeal do Brasil, inaugurando a tradição cardinalícia do arcebispado do Rio de Janeiro.

    1. Confesso que não me lembrava o nome exato da estação, lembrava que era C. Arcoverde, mas não sabia se era Capitão, Coronel ou Cardeal. Agradeço a correção e o elogio.

      1. Post corrigido. Arcoverde voltou a ser Cardeal (rs). Pior que me passou batido na edição do texto

        1. Leonardo, nada que atrapalhe o texto. Como bem disse o Migão no Twitter, você já escreve melhor que muito jornalista “de carreira”.

          Também não é nenhum demérito não saber da história de D. Joaquim Arcoverde. te garanto que 90% dos cariocas também não sabem e só sabem que ele foi cardeal por causa da rua em Copacabana e da Estação de metrô.

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