Todos sabemos que o Carnaval, mutável como é, sofre interferências e contribuições estéticas a todo tempo. Se pegarmos um desfile – não necessariamente antigo – e compararmo-lo a um recente perceberemos diferenças salutares.

Desta feita, neste primeiro artigo da série, destacarei alguns elementos estéticos presentes nos desfiles modernos e nos mais antigos.

Quanto aos quesitos plásticos:

Coisa que era muito comum antigamente e que hoje está em desuso é a escolha de plumas para a composição do figurino do Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira. Devido ao já tradicional uso dos faisões, há uma crença geral entre os sambistas de que o uso de plumas neste segmento “empobrece” a escola, coisa que discordo com veemência.

Lembro de alguns desfiles recentes e de forma bem episódica, especialmente na Estácio de Sá. Apostas muito felizes, aliás. Na minha opinião, os figurinos de 2017 e 2018 são belíssimos. Alguns carnavalescos, como o Alex de Oliveira, apostam numa tentativa de resgate ao uso de plumas na indumentária do casal.

Ainda falando da dupla, o uso de materiais e formatos alternativos também é relativamente recente, pois que o quesito costuma recair em certo tradicionalismo. De passagem, lembro de alguns trajes modernos que seriam impensáveis em outrora: as saias em pincéis de espuma que Paulo Barros usou em 2003 no desfile sobre Portinari na Tuiuti e da estrutura que montava-e-desmontava, quando o carnavalesco assinou o desfile da Estácio em 2006. Outro figurino que gosto e acho bem ousado é o da 1ª PB da Inocentes do desfile deste ano.

Quanto aos carros alegóricos, a primeira coisa que chama a atenção do carnavalesco mais incauto é a quantidade de alegorias. Tornando a usar a Estácio como exemplo, no desfile de 1993 eram 14 os carros alegóricos. Há quem diga que eram 32 na Beija-Flor em 1985.

Chocante quando observamos que hoje em dia são apenas 6 de máximo (aliás, o Migão observa de forma muito interessante essa “diminuição” dos desfiles, comparando a Série A com o antigo Acesso B, numa lógica que pode ser muito bem aplicada ao Especial). Embora este assunto dependa de um estudo mais acurado, dizem que antigamente só era estabelecido o número mínimo de alegorias e não o contrário.

Ainda no campo dos elementos alegóricos, observo que haviam muitas esculturas de espuma – especialmente usadas pelo falecido Professor Oswaldo Jardim. Hoje em dia, esculturas de espuma naquele formato não são a primeira escolha dos carnavalescos – a não ser devido a um pré-requisito estético do próprio profissional – pois em caso de chuva o elemento fica encharcado e pesado, o que pode gerar algum contratempo.

Na questão plumária, especialmente, o que mais chama a atenção atualmente é que as antigas “surras” de plumas são bem raras. Outra coisa que também é menos frequente hoje são as penas de ema torcida, usada mormente em chapéus.

Reza a lenda de que mais de 10 mil penas de ema foram torcidas no desfile campeão da Beija-Flor, de 1978. Devido à crise financeira e por outras escolhas estéticas, o uso de plumas verdadeiras diminuiu consideravelmente.

Em alguns casos, como solução mais barata, as plumas tradicionais são substituídas por “penas” de acetato e faisões sintéticos, que na maior parte das vezes produz efeito bem interessante. Como referência de um bom uso das penas de acetato, usaria o desfile de 2018 da Estácio.

A propósito essa busca por materiais alternativos para substituir as penas naturais nem sempre resulta resultados satisfatórios. Eu mesmo já desfilei numa agremiação que resolveu fazer penas de emborrachado EVA e o resultado foi tétrico. Por esse e por outros motivos a escola desceu, mas isso não vem ao caso.

A meu ver, o volume das fantasias diminuiu um tanto também, inclusive nos destaques de luxo.   

Dentre outras coisas que ficaram no passado, estão as lantejoulas de efeito holográfico (Que adoro), e não são mais utilizadas há muito tempo, talvez por conta de ser de montagem trabalhosa. Creio que a última vez que vi este efeito foi em Tupinicópolis, de 87. De lá para cá, creio não ter mais visto.

Dentre os tecidos, muita coisa mudou. Há muita coisa que eu desconheço pois este é um universo plural e enorme (e vou voltar a falar deles na continuação desta série). Todavia, uma coisa que me chamou a atenção enquanto escrevia este artigo é relativa ao tule, um tecido simples e que ainda é usado, porém perdeu o protagonismo que tinha especialmente nos anos 80, onde reinava especialmente na saia das senhoras baianas.

A primeira imagem que me vem à cabeça quanto ao uso do tule vem das baianas de Mangueira e dos pompons de tule que o Professor Chiquinho Spinoza usava, especialmente quando foi carnavalesco da escola do São Carlos (fartamente rememorada hoje aqui).

E você, leitor? Lembra de mais alguma coisa? Gosta de penas de acetato? Sente saudade dos esplendores sem arame? Comente aqui embaixo. E aguarde o próximo artigo, onde abordaremos as diferenças narrativas de ontem e de hoje.

Um beijo, um abraço, um aperto de mão. Até lá ;)

Agradecimento: Alex de Oliveira

Imagens: Ouro de Tolo