Na última semana, fez sucesso no Twitter uma brincadeira chamada “um like = uma informação”, com muitos usuários fazendo suas listas.

Optei por entrar na brincadeira em uma thread que a princípio seria sobre curiosidades das escolas de samba cariocas, mas que dado o alcance também abrangeu histórias de bastidores e algumas histórias pessoais. Esperava uns 50 likes no máximo, acabou em 232…

Publicarei aqui uma versão condensada e com algumas correções da thread, em três posts: o primeiro com histórias de bastidores, o segundo com curiosidades e o terceiro com histórias minhas e/ou pensatas sobre o universo do carnaval. Agradeço ao ex colunista Bruno Malta, que me ajudou na compilação.

Como a turma adora uma fofoca (risos), começamos com algumas histórias de bastidores. Numeradas para manter o espírito original.

1 – Reunião na escola. Duas (famosas) senhoras na casa dos 80 anos começam a discutir – com termos que fariam Dercy Gonçalves ficar corada. De repente uma “partiu para dentro” da outra.

Precisou três homens de cada lado para apartar.

2 – O asfalto na região da Cidade Nova, perto do Sambódromo, derreteu em 2014 com o calor durante o trajeto das alegorias à concentração. O abre alas da Portela ia ficando atolado no asfalto mole.

3 – Já ano passado o abre alas da Portela quebrou no trajeto para a avenida e precisou ser refeito na concentração. A decoração terminou praticamente na hora do início do desfile.

4 – Essa me foi contada pelo colunista Aloisio Villar. Final de samba no Boi da Ilha, tremenda confusão no anúncio do resultado.

Chamam a Polícia e, quando estes entram na quadra, ouvem do compositor derrotado:

– Os ladrões estão no palco, podem prender (se referindo à diretoria).

5 – No ano do Rildo Hora na Estácio de Sá. Um dos carros alegóricos colocou o escapamento para dentro do carro e não fora. O motorista precisou ser socorrido ao final do desfile.

6 – Alegria da Zona Sul, 2007, antigo Acesso B. Um diretor de Harmonia vira para o outro e grita:

“- Canta, porra!”

Recebeu a singela resposta:

“- Canta você!”

7 – Há bons anos atrás parceria atual campeã e grande favorita foi eliminada da disputa ainda na segunda eliminatória.

O motivo? Um dos compositores foi cobrar dívidas de jogo do então presidente. Esse ficou puto e mandou cortar o samba.

8 – Acesso A, 2008. Destaque desce do carro alegórico da União da Ilha e o repórter, todo gentil:

“Qual seu nome, princesa?”

Resposta:

“Meu nome é Wilson”

O vídeo está acima.

9 – Final de samba em escola do Acesso, muitos anos atrás. Samba que era o grande favorito, de gente de fora, passou atropelando.

No samba seguinte, do nada começou a surgir um mar de bandeiras vermelhas na torcida. Essa composição venceu.

A mesma história das bandeiras vermelhas na torcida se repetiria na mesma escola dois anos depois. Com o agravante de que o samba que foi para a avenida era pavoroso.

10 – Outra disputa de samba, esta recente. Um dos compositores encomendou um trabalho a um pai de santo para o samba vencer.

O samba ganhou – e o pai de santo levou um calote…

11 – Uma de mestre de bateria: ritmista vira para o presidente e agradece pelos 50 reais que havia ganho ao final do desfile. O presidente responde:

“Ué, eu mandei dar 100 reais pra vocês.”

O mestre havia embolsado a diferença. Obviamente, foi demitido.

12 – Certo mestre sala mandava fazer vários sapatos “de desfile” em uma loja especializada e cobrava do presidente dizendo que “era o único”. Como o presidente era picareta também, elas por elas.

13 – Ainda sobre presidentes, uma das perdas mais lamentadas do incêndio da Cidade do Samba em 2011 foi a da coleção de uísque do então presidente da União da Ilha.

14 – Ninguém entendeu quando um sambaço, que teria potencial de ser o melhor do grupo, perdeu a disputa para uma composição bem limitada.

A explicação é simples: a parceria vencedora pagava os salários do carro de som.

15 – Eliminatória na Portela. O intérprete Wander Pires chega pra defender seu concorrente e manda mais ou menos assim no microfone (no vídeo acima, entre 1h03 e 1h05):

“Minha história aqui foi muito curta, mas sei que ainda vou voltar. Espero que em breve.”

Climão na quadra. Consta que o intérprete teria feito a mesma coisa na Viradouro.

16 – Em 1978 a Caprichosos de Pilares fez um enredo sobre a Festa da Uva e os produtores prometeram apoio.

Nada chegou até o dia do desfile, quando um caminhão lotado de uvas fresquinhas aportou na quadra da escola. As uvas foram utilizadas nos carros alegóricos.

17 – Já em 1971 a Mangueira veio com um enredo que era uma homenagem disfarçada ao governo militar. Consta que Dona Zica, ao ver os chapéus das baianas com um avião, teria perguntado:

“Se o enredo for sobre sexo nós vamos desfilar com um piru na cabeça?”

18 – Outra do Wander Pires. Arrancada da Porto da Pedra em 2012:

“Aqui tem intérprete!”

A escola caiu.

19 – Presidente do Gato de Bonsucesso, agremiação da Intendente Magalhães, na arrancada do desfile anos atrás:

“Comunidade sem vergonha, não ajudou em nada a escola.”

Caiu também.

20 – Também a Porto da Pedra, no ano do enredo sobre mestres salas e porta bandeiras. Uma das alas trazia galhardetes homenageando mestre salas e porta bandeiras famosos.

Por algum motivo insondável, um deles tinha a estampa do cantor George Michael (foto acima). O próprio carnavalesco só soube disso após o desfile.

Mistérios de ateliê.

21 – Um presidente, certa vez, levou todo o valor do contrato em dinheiro vivo numa bolsa para convencer o carnavalesco a aceitar o convite.

Ainda mandou um segurança com ele e a bolsa em casa “porque o Rio de Janeiro é uma cidade perigosa”.

Aliás o mesmo carnavalesco dessa história já estava demissionário uma semana antes do desfile. Ele e o presidente chegaram ao carnaval não se suportando. A ponto do carnavalesco ter saído de férias 10 dias antes do desfile e só aparecido pra armar a escola.

Mas os dois desfilaram abraçados (risos).

22 – Vamos falar do samba da Tijuca para 1986: era um clássico trash. Seu refrão era, digamos, singelo:

“Tem piranha no almoço /Tem vi(r)ado no jantar/ Pra quem tem fome qualquer prato é caviar”.

A escola caiu.

No ano seguinte, o puxador Nego mandou no grito de guerra: “alô povão, agora é sério” para mostrar que a escola levara à sério o carnaval. Virou a marca pessoal dele.

A escola subiu.

23 – Apuração dos grupos da Intendente Magalhães anos atrás, no Terreirão do Samba. O locutor anuncia assim:

“Vamos ao grupo D. D de dívida, D de dedo duro…”

24 – Portela 2010. Deu tudo errado desde o início.

Foi nesse desfile que na concentração o Harmonia pediu para um casal sair da ponta da ala porque o cara estava completamente bêbado. Bate boca daqui, bate boca dali, a mulher deu um cruzado na cara do diretor de ala.

Ainda assim, os dois desfilaram. Ou melhor, tentaram…

25 – Há uns anos atrás o intérprete, estreando na escola, estava mais preocupado com a esposa naquela muvuca em torno do carro de som no primeiro recuo que com a arrancada da escola.

Resultado: entrou errado na arrancada. Perdeu o emprego.

26 – 2006, Alegria da Zona Sul. Eram cinco sambas na final, incluindo o de um amigo deste escriba. Juntaram quatro – o dele ficou de fora.

A praga foi tão grande que quebraram três dos cinco carros no desfile.

A escola caiu.

27 – Amigo meu desfilava na Harmonia de uma escola da Série A quando, na altura do Setor 8, foi puxado por uma espectadora de um lounge e ganhou um beijo na boca.

28 – Final de samba, repórter pede para um compositor cantar o seu samba, amplamente favorito – e que ganharia.

Ele não sabia a letra.

O mesmo compositor, no ano seguinte, veio com um concorrente totalmente diferente não somente do ano anterior como de sua linha habitual.

Versatilidade é isso aí (risos).

29 – dizem os mais antigos que, quando o falecido presidente Monassa assumiu a Viradouro a ideia original era assumir a Cubango  – mas os então dirigentes não quiseram interferência na gestão.

28 anos depois da estreia da Viradouro, a Cubango é uma das favoritas a subir.

Com isso, fechamos a primeira parte.

Imagens: Arquivo Ouro de Tolo

15 Replies to “Thread de Carnaval: Histórias”

  1. Algumas dessas histórias eu sabia pois o Migão tinha contado no Trinta Atos/Histórias do Sambódromo. Outras eu nem imaginava que aconteceu… rs

  2. “Tem coisa que dá mais medo…”

    Cunha, Milton – 2008

    kkkkkkkk….belas histórias. Nossa e já vi e ouvi tantas coisas por aqui em Sampa em meus anos de diretor de Harmonia. Mas como disse o Migão: isto é parte publicável.

  3. um dos melhores 1 like= 1 curiosidade do twitter. talvez até fure a bolha do mundo das escolas de samba. migão, vim do EA até aqui elogiar esse compilado. um abraço!!!

    1. Obrigado, Julia. Aproveitando, depois que escrevi aquela do intérprete me toquei que dois deles cabem nesta definição.

  4. Bom tema no “Curiosidades…” seria as escolas que trouxe uma “comissão de intérpretes” no carro de som, como a Vila Maria com Quinho,Baby e Fernandinho de 2008 a 2010; e a Salgueiro com Quinho, Serginho do Porto e Leonardo Bessa.

  5. Histórias bem interessantes e engraçadas, principalmente a do “meu nome é Wilson”, um marco nas transmissões do Grupo de Acesso, junto com a já lendária apuração de 2003. Mas confesso que fiquei curioso mesmo em tentar adivinhar quem são os personagens dos números 21 e 25…

    1. Convenhamos, a transmissão melhorou bastante depois que passou para a Globo. Quanto aos personagens, a 21 nem é tão difícil assim… risos

  6. Quem me falou foi um destaque da escola: Uma cidade iria patrocinar o enredo daquele ano, mas após conhecer a estrutura da escola, mudou de ideia e preferiu investir em outra.

      1. São Paulo ué….kkkkkkkk

        Uma aconteceu comigo. Fui ser apoio de uma amiga destaque, me viram e me acharam parecido com índio…resultado: fui parar num carro alegórico numa tribo de indígena! kkkkkkk

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