Criado por mãe e avó, apenas por mulheres, sem pai por perto apesar de nos conhecermos e algumas vezes conversarmos nunca tivemos grande intimidade. A coisa chega a tal ponto que nem para dar parabéns em aniversário aparecia ou aparece. Acredito que saiba o dia em que nasci, mas duvido muito que saiba minha idade. Meu pai até hoje não conheceu os netos mesmo com eles morando na mesma casa que eu, mesmo eu morando há 42 anos nessa casa.

Como disse fui criado apenas por mãe e avó tendo também amor de tias que viveram em minha casa até se casarem. Da minha avó peguei o amor pela cultura. Minha avó me levava a cinemas, teatros, me dava livros, graças a ela sou escritor hoje, aprecio cultura. De minha mãe herdei a sensibilidade, aprendi a amar. Graças a seu gene me tornei compositor e poeta, graças a ela sei exatamente a importância do amor entre pais e filhos e tento passar isso a meus filhos hoje.

Do meu pai? Nada apesar de admirá-lo por ser um alcoólatra do tipo de fazia vexames na rua, cheguei a ver alguns, e um dia decidiu parar de beber sem ajuda do A.A. nem nada e parou faz 23 anos. Não foi um bom pai para mim, nem ruim, simplesmente não foi meu pai apesar de me falarem que é um bom pai para a menina que criou do segundo casamento. Meu avô nunca vivi com ele, mas era o marido, pai e avô a moda antiga.

O coronel Villar era do tipo que gostava de impor respeito, imputava mais medo que amor a seus filhos, podia ter carinho, amor, mas era incapaz de passar esse sentimento talvez pela vida que teve onde não pôde ser artista, que era seu sonho, e virou militar se tornando um homem frustrado. Como disse, convivi pouco com ele, nunca me deu broncas, gritou comigo, mas mesmo assim tinha medo daquela figura. Cheio de medo, pedi um computador de presente para ele e, de pronto, me deu. Nossa maior proximidade afetiva. Não convivi porque, como a maioria dos homens de sua geração, se enrabichava com outras mulheres e um dia largou minha avó para ficar com uma mulher mais nova.

Minha avó professora criou os quatro filhos sozinha enquanto dava aulas, minha mãe me criou em parceria com a minha avó. Nenhum dos homens foi presente nessas criações.

Por que digo isso?

Porque eu não sou exceção, sou quase uma regra nessa sociedade machista onde o homem tem direito a tudo e a mulher nada. Somos milhões que crescem sem a figura paterna presente e recebemos de mulheres amor e educação. Por isso que não aceito, me desculpem o palavreado, que um “general de três estrelas com o cu na mão” como diria Renato Russo, um cretino diga que um lar com crianças criadas por mãe e avó, sem a figura paterna é um potencial antro de desajustados. Que antro de desajustados seu cretino? Em que sociedade você vive? Vivemos em uma sociedade hipócrita onde homens traem suas esposas mantendo amantes por décadas ou pegando as garotinhas com idade para serem namoradas dos filhos, que batem na mulher, batem nos filhos, transam sem camisinha na rua e contaminam suas esposas. Em que planeta você vive?

Não sou um cara perfeito, mas uma coisa eu sei, não virei desajustado. Tenho meus defeitos, mas tenho caráter, amigos que gostam de mim, namorada bacana que me apoia e sabe quem sou, crio meus filhos muito melhor que meu pai e meu avô criaram e modéstia a parte muito já contribuí para a cultura do meu bairro, minha aldeia e pessoalmente me sinto ofendido com uma declaração dessas e não aceito que um milico filho da puta me estigmatize ou a qualquer um que foi criado por mulheres. Mulheres de fibra, com garra que viram mãe e pai muitas vezes superando dores pessoais. Mulher não abandona sua cria, talvez você não entenda porque não tem capacidade para ser uma.

Preocupante pensar que um ser acéfalo como esse possa se tornar vice-presidente do Brasil, ainda mais em um país em que tantos vices viram presidentes. Eles levantaram de suas tumbas onde estão enterrados desde 1985 e querem nos assombrar como zumbis, mas se for para aturar zumbis dos anos 80 prefiro os do Michael Jackson.

Desajustados não somos, mas somos de briga e se quer briga terá caro general e acredite, somos muito bons de briga.

Aprendemos com as mulheres.

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