O leitor mais fiel deste blog já deve ter notado que minhas participações tem andado bastante espaçadas. Estou em um ritmo de trabalho no qual tudo o que não diz respeito ao mundo corporativo só recebe atenção quando se torna absolutamente inadiável.

Portanto, peço desculpas aos leitores, mas pelo menos até maio minha participação como colunista neste espaço estará bastante irregular. Mesmo o “Guia Prático da Sapucaí” está com sua edição este ano ameaçada devido ao panorama atual.

Entretanto, na madrugada de domingo e, posteriormente, na noite deste dia, consegui um tempo para assistir a uma nova série no Netflix chamada “Rotten”.

Em seis episódios com pouco menos de uma hora de duração cada um, a recém lançada analisa aspectos da produção e comércio de alimentos mundial – tendo os EUA como ponto focal – chamando a atenção para pontos que, muitas vezes, passam despercebidos às pessoas.

Com o desenrolar dos episódios, contudo, o que se percebe é que as questões alimentares são, na verdade, pano de fundo para demonstrar como o poder das grandes corporações influencia governos, hábitos de consumo e pesquisas científicas. É mais uma série sobre Economia do que propriamente sobre alimentação.

A cada capítulo, as tramas se desenvolvem e as questões são abordadas sempre com o mesmo fio condutor: forças de mercado pouco regulamentadas controlando como marionetes questões não econômicas.

Apesar da narração um tanto quanto monocórdia em Português, prende bastante a atenção, especialmente pelas reviravoltas que ocorrem em sua trama. Assisti – embora fora de ordem – de maneira praticamente direta a esta primeira temporada, tamanho o nível de interesse que me despertou.

Abaixo, um pequeno resumo de cada episódio. Atenção: contém (algum) spoiler:

A falsificação do mel – abrindo a série, o episódio mostra um paradoxo: ao mesmo tempo em que a produção de mel americana cai, o consumo aumenta – e não há falta de produto. O segredo: mel importado da China, misturado com outros adoçantes. O capítulo termina com um episódio de roubo de colmeias na Califórnia.

Alergias alimentares – algo que não se falava havia 20 anos hoje precisa ser considerado por agricultores, donos de restaurantes e de empresas: alergias alimentares. O episódio mostra, especialmente focado no amendoim, todas as influências nas relações econômicas – incluindo um dono de restaurante sendo julgado por homicídio após um cliente morrer de reação alérgica a um prato no restaurante.

Também mostra o poder de entidades de pesquisa e defesa ambiental como representantes de interesses econômicos – que voltariam a ser abordados no último episódio.

Descascando alho – uma guerra comercial envolvendo fabricantes chineses do produto, a principal empresa americana voltada ao produto e fazendeiros locais, com lances e reviravoltas típicas dos melhores thrillers de suspense.

Além da suspeita (deixada no ar) de suborno a autoridades, desvenda o uso de prisioneiros chineses para descascar o produto exportado posteriormente, em trabalho forçado.

Integradores e integrados de frango – as desiguais relações comerciais entre os grandes abatedouros do produto e os granjeiros que criam as aves para estes, chamados integrados. Também aborda a quebra da maior empresa americana e sua compra pela JBS.

Aliás, a Lava-Jato e a investigação sobre a corporação brasileira são apresentados neste episódio com um viés claramente favorável à ação da mesma sobre as grandes empresas nacionais. Esperado, haja visto ser uma série americana – e, conscientemente ou não, empresas estadunidenses foram bastante beneficiadas com o resultado da Lava-Jato.

Vacas leiteiras e leite cru – o penúltimo episódio mostra as dificuldades dos produtores orgânicos de leite e a celeuma causada do consumo do chamado “leite cru”, sem pasteurização. Até que ponto as restrições levantadas são de saúde pública e até que ponto, utilizadas como barreiras à entrada de novos vendedores no mercado?

A privatização do mar pesqueiro – o último e a meu juízo melhor episódio mostra como o mar e a pesca da Nova Inglaterra (região de Boston) foram literalmente privatizados em nome de “preservar a população de peixes”.

É especialmente perturbador ver a ação de uma entidade “ecológica” que na prática é um lobby pró-mercado financiado por grandes empresas. O papel da “porta giratória” envolvendo lobbys e o governo americano também fica claro.

Não tenho a informação neste momento se haverá uma segunda temporada, mas recomendo bastante a série a todos que querem entender não somente as relações entre a Economia e os alimentos como, mesmo, àqueles que buscam entender do que estamos nos alimentando.

Outlet Premium

Não irei escrever um “review” completo, mas no último sábado estive em Duque de Caxias, no Outlet inaugurado à guisa dos exemplares encontrados nos Estados Unidos (imagem acima).

A estrutura é simples mas atende a contento. Deveria haver uma saída direta à Rodovia Washington Luiz, pois à noite o acesso via ruas internas não é exatamente seguro.

Os preços não são os mesmos encontrados em seus inspiradores americanos, mas pesquisando com atenção conseguem se encontrar algumas boas ofertas. Vale a visita.

O site pode ser encontrado aqui.

Imagens: Netflix, Eater.com e Ouro de Tolo

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