Pegando carona na coluna da semana passada, na qual citei os enredos críticos de Beija-Flor, Mangueira e Paraíso do Tuiuti, me lembrei da máxima histórica do inesquecível Fernando Pamplona: “Tem que tirar da cabeça aquilo que não se tem do bolso”.

Pois bem, nesse carnaval que se avizinha, o carnaval da subvenção às migalhas, será muito interessante conferir a criatividade de cada carnavalesco na confecção dos desfiles. Há relatos de escolas que estão precisando reaproveitar diversas esculturas de carnavais passados…

Bem, é claro que carnaval é beleza, mas acima de tudo é de muito samba no pé, e tomara que isso prevaleça e aí que entra o Pamplona.

Ele veio à cabeça por vários motivos nos últimos dias. Primeiro, pela frase já citada, mas principalmente porque ele, apesar de oriundo da Escola de Belas Artes, foi um defensor ferrenho do samba bem construído e das tradições das escolas, dos sambistas, das comunidades.

Lembram quando três décadas atrás ele já criticava o que chamava de “marchinha sem-vergonha”? De tanto as escolas escolherem sambas, digamos, funcionais, o gênero empobreceu. Mas graças a Deus tivemos uma retomada e hoje, na maioria das agremiações, o menor problema é o samba.

Então, que se aproveite esse momento de turbulência financeira – para não dizer de falta de simbiose com o povo – e as escolas se unam para retomar o diálogo com o carioca. Recuperar esse contato estreito é fundamental para que as próprias agremiações resgatem seu papel junto à sociedade.

Infelizmente não conheci Fernando Pamplona, mas sempre conversei muito sobre ele com o amigo e colega de SporTV Paulo Stein, grande parceiro do mestre na vida e que formava uma genial dupla nas transmissões da TV Manchete nos anos 80 e 90.

E o que o Paulo me disse diversas vezes é que o Pamplona sempre via o povo como O protagonista do Carnaval, que não suportava ver nos desfiles aquela coisa de formação militar nas alas, e que ficava louco quando a Polícia impedia aquele arrastão da alegria na última escola – pelo menos isso voltou… Na imagem abaixo, a volta da Mangueira pela contramão em 1984 com o povo, fato comemorado por Pamplona na TV.

Amigos, o caminho é irreversível. Ou as escolas de samba se unem novamente ao povo, ou a nossa festa tem grande risco de ficar à margem e virar, como se diz por aí, “uma coisa de nicho”, perdendo irremediavelmente sua força no âmbito nacional.

Diante disso tudo, eu fico imaginando o que diria o Pamplona ao ver o que está acontecendo?

O que ele falaria do corte na subvenção às escolas de samba sob um falso pretexto de se investir na educação?

O que ele diria sobre o cancelamento dos ensaios técnicos, única oportunidade de o povão se juntar à escola do coração na Sapucaí?

O que Fernando Pamplona falaria sobre uma vinheta de 30 segundos na TV na qual nem o intérprete aparece?

Certamente ele espumaria, mas pelo menos ele não está tendo esse desgosto…

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Foto: O Globo

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