Faltam seis rodadas para o fim do Campeonato Brasileiro e, se há 15 dias a liderança do Corinthians parecia bem ameaçada, agora a equipe de Fábio Carille parece se aproximar novamente do título, sobretudo se repetir a boa atuação que teve contra o Palmeiras no domingo.

E são nessas últimas rodadas que começam a surgir as listas da seleção do campeonato. Particularmente sempre gostei de fazer as minhas listas e comparar com a de outros sites e programas esportivos. Foi pensando na lista desse ano que me veio uma questão: quem deve ser o craque da competição? Pensando rápido, alguns nomes me vieram à cabeça, mas nenhum deles com convicção. Compartilhei essa dúvida com os meus amigos nas redes sociais e percebi que outras pessoas também tinham essa dúvida.

Eu sei que eleger um craque do fim de uma competição é perigoso.  Exemplos não faltam. Quem não se lembra de Oliver Kahn, eleito o melhor jogador da Copa de 2002 antes de falhar na final? Ou até Messi, que fez uma boa Copa aqui no Brasil de 2014, mas ficou visivelmente constrangido ao receber o prêmio de melhor jogador depois de terminar com o vice-campeonato mundial? Mas em torneios de pontos corridos, acho que esse risco diminui consideravelmente e por isso me atrevi a escrever sobre isso.

Oficialmente, há uma premiação promovida pela CBF desde 2005 para premiar o melhor jogador da competição. Nessas 12 edições, em apenas duas o craque não jogava no time que levantou a taça. Em 2009, Diego Souza do 5° colocado Palmeiras foi eleito o melhor jogador. O Flamengo foi campeão naquele ano.  Já em 2011, o Corinthians terminou em primeiro, mas foi Neymar que levou a premiação de melhor jogador para casa. O Santos terminou em 10° lugar naquele ano.

Seguindo essa tendência, a lógica seria eleger um jogador do líder Corinthians como melhor jogador da competição. A questão é que o diferencial da equipe talvez esteja justamente no jogo coletivo e não em talentos individuais. No primeiro turno alguns jogadores até se destacavam mais que os outros, casos de Rodriguinho, Jô e Guilherme Arana, por exemplo. Mas a queda de desempenho no segundo turno talvez dificulte que algum jogador da equipe de Fábio Carille seja lembrado. Nossa tendência é sempre privilegiar o mais recente, quem fez a diferença na reta final, especialmente na segunda metade do campeonato.

Além da premiação da CBF, há uma outra bem mais tradicional, o Bola de Prata, agora sob responsabilidade da ESPN e da Sportingbet. Todos os jogadores que entram em campo no Brasileiro recebem notas e toda rodada uma seleção é montada com os destaques. Ao final do campeonato, quem tiver as melhores notas recebe um troféu (mínimo de 16 jogos).

Depois do término de trigésima segunda rodada, a seleção deles estava assim: Vanderlei (Santos), Fagner (Corinthians), Pedro Geromel (Grêmio), Balbuena (Corinthians) e Thiago Carleto (Coritiba); Michel (Grêmio), Hernanes (São Paulo), Thiago Neves (Cruzeiro) e Lucas Lima (Santos); Luan (Grêmio) e Jô (Corinthians). Desses 11, quem tem a melhor média e, por enquanto levaria o prêmio Bola de Ouro, seria o goleiro Vanderlei, seguido bem de perto pelo atacante Jô (apenas 0,01 de diferença).

Outra forma para tentar chegar a uma conclusão sobre o craque do campeonato é pensar na própria Seleção Brasileira. Partindo do pressuposto que nela estão (ou deveriam estar) os melhores jogadores nascidos aqui, fui olhar a última lista de Tite. Apenas três atletas disputam o Brasileirão: Cássio (Corinthians), Diego (Flamengo) e Diego Souza (Sport). Na minha opinião, no entanto, os dois últimos caíram bastante de produção nessa reta final e não mereceriam um possível prêmio de melhor jogador. Cássio tem feito um bom Brasileirão, mas é difícil que ele vença em sua própria categoria, a de goleiro.

Vanderlei tem feito partidas brilhantes (alô Tite) e foi o primeiro nome que me veio à cabeça quando pensei no assunto. Muitos amigos também lembraram do arqueiro do Santos (e o Bola de Prata também). Mas tem muita gente que não gosta de premiar um goleiro como melhor de uma competição, embora no prêmio da CBF isso já tenha acontecido duas vezes (Rogério Ceni em 2005 e 2006). Mas naquela época, Rogério Ceni também foi campeão pelo São Paulo e isso certamente pesou.

Se formos pensar em apenas talento individual, talvez o nome de Luan fosse uma boa indicação. É relativamente novo (24 anos), tem explosão, drible, coisas que o torcedor brasileiro gosta. O problema é que Luan ficou muito tempo contundido e o Grêmio entrou muitas vezes com os reservas no Brasileiro. Luan tem apenas 18 jogos disputados com 6 gols. Esses números poderiam ser bem melhores se o Grêmio não estivesse priorizando a Libertadores (e aqui não cabe nenhuma crítica a essa escolha pela competição internacional).

A verdade é que quando comecei a pensar nessa questão no início da semana passada, eu não tinha nenhum indicado, como mostrei nos argumentos até aqui. Acho que mais uma vez o campeonato está nivelado por baixo. Mas desde então tenho feito um esforço para pensar em outros nomes e alternativas. E um nome tem me chamado a atenção. Ele não está entre os líderes do campeonato (muito longe disso), não está na Seleção (embora já tenha feito parte dela) e tem apenas 16 partidas no Brasileirão (o mínimo para ser eleito no Bola de Prata, por exemplo). Estou falando de Hernanes, do São Paulo.

O volante tem 32 anos, mas está jogando muita bola. Já são nove gols e papel fundamental na recuperação do São Paulo. Quando o Profeta chegou ao São Paulo, muitos desconfiavam dele. Estava encostado na China. Se o hoje o Tricolor Paulista pode até sonhar com a Libertadores, muito disso se deve ao talento de Hernanes. Isso sem falar da liderança que ele exerce dentro de campo. Se mantiver esse desempenho nas rodadas que faltam, o Profeta, contrariando todas as lógicas que escrevi aqui, é o meu craque do Brasileiro.

Imagens: CBF e Luciano Belford/Estadão Conteúdo