Todo mundo já viu a declaração do cantor sertanejo Zezé di Camargo para Leda Nagle em seu programa no Youtube. Entre as muitas coisas que disse Zezé, falou que o Brasil não teve uma ditadura militar e sim um “militarismo vigiado”.

Fico feliz em saber que Zezé além de compositor, cantor, é sociólogo e cientista político, já que definiu o que o Brasil viveu durante vinte e um anos e pediu de volta para “colocar o país nos eixos”. Eu só fiquei imaginando o que pensaram Marcelo Rubens Paiva, Hildegard Angel, a família do Herzog e todos aqueles que tiveram perdas durante o regime militar sobre a declaração de Zezé.

É um caso de alienação. Zezé é um cara que nasceu na extrema pobreza, teve que ralar desde cedo, mal estudou e venceu na vida graças ao esforço de seu pai e ao grande talento que possui. Mas ocorreu algo com Zezé que até dá pra entender por um certo tempo, se deslumbrou. É impossível pedir para alguém que saiu da extrema pobreza para o estrelato e riqueza que não se deslumbre por um tempo, é humano.

O problema é que faz quase trinta anos que Zezé alcançou a fama e a riqueza e a impressão que dá é que está cada vez mais deslumbrado e alienado. O ex-pobre quis usufruir tudo de bom que a vida pode dar, se juntou a pessoas com dinheiro e quis ser um deles sem se preocupar nesse período em adquirir conhecimento, cultura, estudar, e quando falo em estudar não é ensino de escola que é importante, mas não é o mais importante, digo estudo de vida.

Zezé não se preocupou com isso e é perigoso um cara alienado, despreparado sobre seu país, opinar sem ter o devido conhecimento de causa porque é um cara que tem voz, é ouvido por milhões e aquilo que ele diz acaba virando verdade.

É um grave problema que ocorre atualmente quando não só no Brasil, mas no mundo inteiro. Passamos por uma onda conservadora e de extrema direita, muito também pelo fracasso da esquerda no mundo. Situações que vinte, trinta anos atrás quando ditas seriam consideradas absurdos hoje são ditas normalmente e sem nenhum pudor.

Falar que não houve ditadura militar no Brasil é grave, mais grave até que querer de volta e dizer que no tempo dos militares existia ordem e não tinha corrupção (falácia até porque é evidente que a corrupção daquele tempo não poderia ser divulgada por uma imprensa censurada), é mais grave porque é mudar a história, é a mesma coisa que ocorre quando vemos grupos falarem que não existiu o holocausto.

As pessoas que presenciaram tudo isso, as testemunhas vivas começam a envelhecer e morrer e a história passa a ser contada por aqueles que dominam o mundo naquele momento e nesse caso é o conservadorismo com a extrema direita.

Não dá pra negar que vivemos um tempo com menos liberdade do que trinta anos atrás. Não existe uma censura oficial, de governo, mas existe uma censura comportamental justo no momento em que as minorias mais lutam para ser ouvidas. É o conservadorismo que permite que Zezé di Camargo fale uma atrocidade dessas, é o conservadorismo que permite ataques a uma exposição ao ponto do Santander voltar atrás e acabar com a mesma.

Eu vi algumas das obras expostas e achei fracas, de mau gosto, mas aí que está, é o meu gosto, a minha opinião e o gosto de ninguém pode se sobrepor a arte. Eu não gostei do exposto e confesso que não me atraio por museus. O que faço então? Não vou. Então está errado querer impor o gosto e assim formar a censura.

É perigoso negar a história porque dessa fora as tragédias que ela passou acabam sendo escondidas e escondidas ganham permissão para voltar. Eu sempre falo que cabe aos escritores e jornalistas não permitirem que isso ocorra. É obrigação dessas duas classes contar a história de seu tempo e não deixar que o tempo seja esquecido.

E, seu Zezé, o dia que você saiu de casa já está bem distante, está mais que na hora de você aprender sobre o mundo.

Seu Francisco devia lhe dar umas palmadas.

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