Estava pronto para falar de outro tema hoje, mas eis que na sexta-feira o Rio de Janeiro ganhou os noticiários por causa de sua guerra urbana.

Para nós cariocas é muito relativo isso. É evidente que sabemos que o que ocorreu foi muito grave e que, infelizmente, voltamos aos anos 90 e primeira metade da década passada, quando as principais notícias sobre o Rio de Janeiro eram acerca de sua violência.

Mas isso que ocorreu na última sexta por essas bandas ocorre já há algum tempo, e eu escrevi diversos artigos falando sobre a volta da violência e fazendo mea culpa por ter acreditado nas UPPs. O problema, melhor dizendo, os problemas foram outros.

O primeiro problema é que chegou ao asfalto, o segundo, em asfalto nobre.

O Rio de Janeiro tem uma geografia peculiar, aqui não tem a parte luxuosa e a parte da periferia, é tudo misturado. Então boa parte das vezes em que a violência atinge a periferia, também atinge o luxo. É assim na Zona Sul da cidade, onde temos a Rocinha localizada em São Conrado, um dos metros quadrados mais caros do país, então fatalmente o que ocorre na Rocinha pode acabar espirrando em São Conrado.

Essa violência que ocorreu na sexta ocorre há muito tempo na Baixada, Zona Norte, Oeste (não sendo a Barra) e é ignorada. Esses lugares não chegam a ser a periferia que falei existir em outras cidades, mas são mais afastadas. Quem mora fora do Rio não tem obrigação nenhuma de se assustar com a violência em Coelho Neto porque o próprio carioca ignora.

Na própria Rocinha já vinha ocorrendo, mas enquanto estava lá no morro tentamos ignorar. Não se ouvia claramente porque não é feio ter preconceito e sim exalar o mesmo, mas de forma codificada era fácil perceber o “Enquanto estiver na favela tudo bem, os favelados que se danem”, “Por mim mandava os tanques lá pra cima e resolvia tudo” ou “Deixa se matarem”.

Mas veio pro asfalto, parceiro, fechou a estrada “Lagoa-Barra” e quando isso ocorre, a coisa muda de figura. Um dia antes o governador Pezão posava feliz com um representante da segurança nacional dizendo que tinham “afinado a viola” e não tinham nada planejado sobre ação conjunta. Bastou ter problema em São Conrado que o exército foi pra Rocinha.

É evidente que acho que tem que combater a violência, que foi grave o que ocorreu e não quero o mal de São Conrado e da Zona Sul. Eu adoro a zona Sul, só acho que todo o estado do Rio de Janeiro merecia a mesma atenção. Várias escolas do Rio não têm aulas por causa da violência, mas bastou ameaçar as aulas da PUC para providências serem tomadas.

Mas, assim como acho importante combater a violência e necessária uma política de enfrentamento, está mais do que provado que isso por si só não dá certo. Adoram atacar alguns políticos de esquerda como Jean Willys, Marcelo Freixo e Chico Alencar dizendo que são defensores de bandidos e por causa deles o Rio está assim. Mas quando um deles teve a chave do estado nas mãos? Teve nas mãos a política de segurança pública?

A política de segurança aqui sempre foi a de enfrentamento, combate, violência, e não deu certo. É a política dos conservadores, dos reaças, de uma direita que nesse aspecto pelo menos não deu certo.

A única vez que foi tentado algo diferente disso foi 35 anos atrás quando Leonel Brizola e Darcy Ribeiro criaram os CIEPs e com ele o projeto de levar educação a todas as camadas da sociedade, educação integral com três refeições ao dia, prática de esportes e o conhecimento de profissões.

CIEPs exterminados pelo hoje ministro de Michel Temer Moreira Franco, que disse que acabaria com a violência em seis meses começando aí com todos os erros que vemos hoje.

Mais uma vez, porque nem todo mundo consegue entender. É evidente que sou a favor do enfrentamento, das prisões, dos combates, tratar bandido como bandido, mas fazer isso sem evitar que novos bandidos surjam não adianta nada. É enxugar gelo como já falei aqui.

Ignorar o que ocorre no restante do Rio de Janeiro e só se preocupar quando chega a um cartão postal, também não. Vivemos em uma cidade partida e essa divisão só ajuda bandidos de todas as espécies como os dois ex-governadores presos.

Os inimigos são outros, não somos nós…

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