A segunda noite de desfiles do Grupo de Acesso foi bastante superior à primeira em termos de desfiles, como um todo. Entretanto, o destaque absoluto foi a Unidos de Padre Miguel, tanto quanto à qualidade de seu desfile como pela tragédia que se abateu sobre a porta bandeira.

Inicio dizendo que, apesar dos problemas que devem penalizar a escola no quesito Mestre Sala e Porta Bandeira e Enredo (pela troca de posição da segunda que substituiu a lesionada), não acredito que os descontos no júri serão da magnitude que outros analistas vem apontando. Contando ainda com o descarte de notas, imagino uma perda de sete ou oito décimos no total, o que deixaria perfeitamente a escola na briga.

Até porque a Unidos de Padre Miguel foi muito superior a qualquer outra escola em qualquer aspecto que se possa imaginar. O Império Serrano, agremiação que mais se aproximou, cometeu alguns deslizes que devem render diversas penalizações de um décimo em sua pontuação total.

Minha avaliação é que o título deverá ser de uma das duas. Não acredito que os desfiles burocráticos de Estácio e Viradouro possam ameaçar estas duas citadas. A Porto da Pedra caiu muito do meio para o final do desfile, além de ter tido problemas como alas trocadas, entre outros. Quanto ao rebaixamento, a Curicica é “pule de dez”, com o perdão do trocadilho.

Escola a escola, vamos a um panorama da noite de ontem.

Acadêmicos da Rocinha: a maior surpresa desde 2017 no Grupo de Acesso. Fantasias e alegorias luxuosas, um belo desenvolvimento de enredo, um samba que rendeu bastante e uma bateria com boa passagem pelo menos onde eu estava.

Viriato Ferreira ficou bastante orgulhoso com a homenagem que recebeu, tenham certeza. Não somente passa longe de rebaixamento como ainda acho que conquista uma ótima colocação na apuração. Vale destacar o esquenta com o lindo samba de 1992, o melhor de sua história.

Acadêmicos do Cubango: comentei em tempo real nas redes sociais que a apresentação da escola lembrava bastante os desfiles da Portela nos tempos do nada saudoso presidente Nilo Figueiredo: belo samba, bela bateria, bons quesitos de chão e uma plástica bem ruim. A escola sentiu bastante a perda do patrono.

O esquenta foi o melhor da noite, com “Mineira”, homenagem a Clara Nunes de autoria do homenageado João Nogueira e Paulo Cesar Pinheiro. O belo samba rendeu bastante e a entrada da agremiação foi bastante forte. As baianas vieram caracterizadas de Clara Nunes.

Mas em alegorias e fantasias a Cubango estava bem abaixo de seu padrão habitual. O carro que homenageava a Portela estava bastante aquém dos padrões habituais da escola.

Inocentes de Belford Roxo: uma boa ideia mal desenvolvida. Assim foi o enredo dedicado aos vilões, que se tornou uma salada bastante ampla e com desenvolvimento confuso. O samba, o pior do grupo, também não ajudou.

Por mim disputaria com a Renascer quem abriria o desfile de sábado ano que vem, mas os jurados a vão colocar um pouco mais acima. Em tempo: a gente sabe que reciclar esculturas é normal neste grupo, mas a Inocentes extrapolou neste aspecto: até material do ano em que a escola esteve no Especial desfilou.

Império Serrano: nitidamente com mais recursos financeiros, trazidos por um patrono, a escola soube aproveitar este diferencial e fez um bom desfile, ajudado por um desenvolvimento de enredo bastante claro, um samba que funcionou e um bom canto das alas.

Contudo, teve alguns pequenos problemas: integrantes com chapéus nas mãos, evolução um tanto quanto irregular – chegou a abrir um buraco em frente ao primeiro módulo, e a bateria passou apressadamente em frente ao mesmo – e um dos carros tinha problema em uma das esculturas e a falta de um destaque.

Em minha análise, seria a única escola que poderia capitalizar a tragédia com a Unidos de Padre Miguel.

Unidos de Padre Miguel: fez o melhor desfile deste grupo com folga desde pelo menos “O Dono da Terra”, da Unidos da Tijuca em 1999. E não ficaria mal colocada se passasse no Grupo Especial. Alegorias, fantasias, samba enredo e harmonia nada menos que espetaculares. Uma boa bateria e uma evolução que parou um pouco devido ao problema mas que foi muito boa no restante, com os componentes “quicando” na avenida.

O que se precisa saber é qual será a magnitude dos descontos devido ao problema com a porta bandeira. Vi analistas dizendo até que a escola teria diversas notas mínimas – o que a levaria ao rebaixamento – mas sinceramente acho que até pelo emocional da situação os descontos não deverão ser grandes.

Em um ano onde ninguém esteve perto da perfeição e que a Padre Miguel foi muito superior às outras em diversos quesitos, pode ser suficiente.

Renascer de Jacarepaguá – desfilei pela escola e isso muda a perspectiva, mas os problemas eram visíveis. Fantasias e alegorias muito simples, a última com problemas nos geradores, uma evolução irregular – ora corria, ora parava – e isso já compromete bastante.

Destaques para o samba, embora a meu juízo tenha rendido menos que seu potencial, e para a bateria. Não cai porque a Curicica foi muito ruim, mas deve ficar entre o décimo segundo e o décimo terceiro lugares.

Unidos do Porto da Pedra: a entrada da escola foi de campeã. Samba que não comprometeu, bateria firme e as primeiras alas e os dois primeiros carros muito bonitos.

Mas sabe quando o dinheiro acaba? Isso foi claro neste desfile. Os dois últimos carros e fantasias correspondentes caíram bastante o nível. Além disso, teve inversão de alas no último setor, o que irá comprometer a avaliação.

Finalizo fazendo um apelo: este grupo precisa de mais dinheiro. O valor atual não dá para nada. A Prefeitura precisa olhar com mais carinho para este grupo, tanto em termos de aumentar a subvenção como em proporcionar melhores estruturas de barracões.

Imagens: Ouro de Tolo

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6 Replies to “Apesar de Tudo, é Padre Miguel”

  1. Legal a análise dos desfiles da Série “A”, sou paulistano, assisti o desfile de sábado pela internet, pois queira ver o Império Serrano e a Renascer. Foi uma pena o que aconteceu com a porta-bandeira, um incidente que poderá comprometer o acesso de uma agremiação que poderia ter desfilado, neste ano, no domingo de carnaval, mas confesso que estou torcendo para o retorno do reizinho de Madureira ao grupo Especial, mesmo reconhecendo que o critério para o título deva ser o melhor desfile e não quem tem mais ou menos tradição, entretanto, no ano que vem a concorrência pode ser ainda mais acirrada uma vez que há a possibilidade da Unidos da Tijuca estar na Série A devido aos problemas do seu desfile num carnaval que ficará marcado pelos lamentáveis acidentes de domingo e segunda-feira, torcendo pela melhora de todos os feridos

  2. Se a UPM for campeã apesar do que aconteceu ninguém poderá reclamar da Mangueira bi por causa do buraco, por exemplo. É uma discussão boa. Premia-se o melhor desfile – relevando falhas – ou o jurado deve ser frio, gelado, e só pensar na nota de seu quesito?

  3. Enquanto o “patrono” permanecer na Unidos de Padre Miguel, ela não sobe nem que venha toda pintada de ouro.

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