Nessa época pouco movimentada para quem gosta de futebol, muitos clubes do país aproveitam os últimos meses do ano para eleger seus novos presidentes. Uma das medidas iniciais desses dirigentes é escolher um treinador para o ano seguinte. A partir da definição desse nome, o trabalho se intensifica. O técnico se reúne com os dirigentes, analisa o elenco que tem e indica as posições mais carentes.

Verdade é que no futebol brasileiro o dirigente até escolhe um treinador para a próxima temporada (ou opta pela manutenção de que já está lá), mas na maioria das vezes ele muda de ideia no meio do percurso e troca de treinador. Uma, duas, sucessivas vezes.

Mas quando o dirigente escolhe antes da longa maratona de jogos começar, imagina-se que essa escolha tenha sido feita com critério e calma. O técnico que começa o ano em um clube deve ser o preferido da diretoria: não foi aquele escolhido às pressas para “dar um gás” na luta desesperada contra o rebaixamento ou para um mandato tampão enquanto o nome ideal não vem. Ou seja, o primeiro técnico do ano diz muito sobre os objetivos de um clube para a temporada seguinte.

Mas se analisarmos a lista de técnicos dos 20 clubes que vão disputar a primeira divisão do que vem (mais o Inter, ou seja, 21 clubes), vamos perceber uma mudança no perfil dos treinadores.

Desses 21 clubes, 14 já anunciaram oficialmente seus treinadores para próxima temporada e optaram por técnicos com 50 anos de idade ou menos.

Flamengo e Botafogo, por exemplo, escolheram manter seus treinadores – que fizeram uma ótima temporada em seus primeiros trabalhos como profissionais. Jair Ventura tem 37 anos e Zé Ricardo, 45.

O São Paulo seguiu estratégia semelhante, mas foi ainda mais ousado: aos 43 anos,  Rogério Ceni vai estrear como treinador na equipe onde foi ídolo.

Esses números mostram que treinadores experientes e renomados como Vanderlei Luxemburgo tem perdido espaço no futebol brasileiro atual. Eu chamo essa categoria de “técnicos com grife”. São aqueles que tem mais bagagem na área (e mais títulos também), mas vem com comissão técnica própria e custam mais caro.

Talvez um fator preponderante para a escolha desses técnicos mais jovens seja justamente esse: o bolso. Às vezes essa economia gerada pode abrir espaço para um gasto maior com um reforço para a equipe por exemplo.

Nessa lista dos 21 que citei, talvez apenas Abel Braga no Fluminense, Paulo Autuori no Atlético-PR e Mano Menezes no Cruzeiro possam ser chamados de “técnicos com grife”.  E apenas três já conquistaram o Campeonato Brasileiro. O mais recente é o próprio Abel em 2012 pelo Flu. Se voltarmos mais um pouquinho no tempo, Autuori em 95 pelo Botafogo e Carpegiani em 82 pelo Flamengo também já sentiram o gostinho de serem campeões brasileiros.

Até o fim de 2017, quase todos esses clubes devem mudar de treinadores e essa lista aqui vai estar naturalmente desatualizada. Mas será que essa tendência dos técnicos jovens vai permanecer? Ou na primeira sequência de derrotas as diretorias vão esquecer o “planejamento” e recorrer aos “técnicos com grife”?

Maria Clara Modesto é jornalista formada pela ECO-UFRJ, carioca e tem 24 anos. Apaixonada por esportes e livros, trabalha como editora no SporTV e nas horas vagas sempre arruma um motivo pra falar de futebol. Passa a assinar coluna neste espaço a partir de hoje.

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