Estamos todos ainda estarrecidos, sob forte impacto do acontecido.

Escrevo essa coluna na madrugada de quarta para quinta. Já escrevi sobre a Chapecoense em meu blog e postei vídeo aqui também sobre o time, queria então falar do outro lado da moeda.

Do Nacional de Medellín.

Faz poucas horas que foi escrita a página mais comovente da história do futebol e não há exagero nenhum nisso que eu digo. A homenagem que o Nacional, sua torcida e toda a Colômbia fizeram a um clube que provavelmente nunca tinham ouvido falar até o confronto da Chape com o Junior Barranquilla nos desconcerta e faz pensar não só no futebol como na vida em geral.

Tenho essa coluna de esportes, mais voltada ao futebol, há quase um ano aqui no blog e muitas histórias foram contadas, histórias diretamente relacionadas a futebol, mas que se confundem com a própria vida. Semana passada escrevi aqui sobre Vasco, Inter e seus dramas esportivos. Pois é, não temos nem noção de quantas pessoas tiveram seu dia a dia afetados por esses dramas, quantos vascaínos não ficaram sem dormir e quantos colorados não estão agora tendo suas vidas alteradas porque seu time de futebol pode cair pra segunda divisão. Dizem e eu mesmo repeti isso algumas vezes que futebol é a coisa mais importante entre as coisas menos importantes e percebi nessa última noite que estava completamente enganado.

O povo colombiano mostrou a todos nós que futebol é importante pra cacete. Que assim como nosso lado pessimista diz que o futebol é um reflexo da sociedade e que tudo de ruim que ocorre nele hoje como o ódio, a intolerância, a homofobia e o racismo são um reflexo de como a sociedade é podemos tentar ver essa simbiose entre futebol e a vida de uma forma positiva.

Já que amamos tanto o futebol e ele é tão importante por quê não podemos agir como os colombianos? Nem é preciso muito para isso, só nos permitirmos ser humanos. Nos desarmarmos de tanto ódio, rancor, mágoa e preconceitos e nos permitirmos ser mais solidários, amar mais. Evidente que não viraremos Jesus Cristo de uma hora para a outra, somos humanos e continuaremos com nossos ódios, mágoas e rancores, mas vamos tentar contrabalançar mais, vamos nos permitir.

Temos muito a aprender com os colombianos. Nós que somos tão soberbos e desgarrados de nossos irmãos de América do Sul tomamos um tapa na cara em forma de afeto e compaixão. Me senti pequenininho vendo as homenagens da torcida do Nacional, de todo povo colombiano pensando em quantas vezes não desprezamos nossos irmãos de América do Sul, quantas vezes não gritamos bicha pro goleiro adversário quando ele bateu tiro de meta, cantamos músicas ironizando mortes de jogadores adversários e torcidas, quantas vezes não deixamos o time adversário dormir soltado fogos na porta de seus hotéis. Fazemos todas essas idiotices, essa selvageria e ainda teimamos em falar de outros povos, outros times da América do Sul lhes tratando como selvagens e trogloditas a cada Libertadores.

O Nacional, de uma cidade que tanto já ironizamos a associando ao tráfico de drogas, nos deu uma lição esportiva e de humanidade. Um grande clube não só dentro de campo, já que venceu tudo esse ano e está prestes a disputar o Mundial contra o poderoso Real Madrid, como fora. Hoje o Nacional é o maior clube do mundo e de maior torcida. Do acidente que matou 71 e deixou 200 milhões de feridos, o amor ao próximo sobreviveu.

Ficamos décadas dizendo que time grande não cai. Tá errado. Time grande nos levanta e o Nacional nos levantou do chão, botou um sorriso em nossos rostos cheios de lágrimas e nos fez ter esperanças em um novo tempo. O Nacional é enorme. A Colômbia é gigante.

Gracias, Colômbia.

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