Finalizado o Top 10, é hora de dar uma passada em alguns destaques do Top 20. Mas antes, abaixo está o top 20 dos Jogos Olímpicos:

  • 11º Holanda (8 ouros e 19 medalhas)
  • 12º Hungria (8 ouros e 15 medalhas)
  • 13º Brasil (7 ouros e 19 medalhas)
  • 14º Espanha (7 ouros e 17 medalhas)
  • 15º Quênia (6 ouros e 13 medalhas)
  • 16º Jamaica (6 ouros e 11 medalhas)
  • 17º Croácia (5 ouros e 10 medalhas)
  • 18º Cuba (5 ouros e 11 medalhas)
  • 19º Nova Zelândia (4 ouros e 18 medalhas)
  • 20º Canadá (4 ouros e 22 medalhas)

Se no Top 10 tivemos como destaque 5 dos 10 países perdendo ouros em relação a Londres 2012, boa parte dessas medalhas acabaram redistribuídas do 11º ao 20º lugar. Desses 10 países, apenas a Nova Zelândia teve menos ouros do que em Londres, o que é natural após o ponto fora da curva de 6 ouros em Londres 2012.

O ganho somado dos 10 países, já descontando os dois perdidos pela Nova Zelândia, é de impressionantes 19 ouros. Esses ganhos foram capitaneados por Brasil, Espanha e Quênia, que ganharam 4 ouros a mais cada um. Porém, nenhum deles ganhou uma quantidade de medalhas totais tão maior que explique tamanha evolução.

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O caso do Quênia é simples. Quênia e Etiópia dominam as provas de fundo do atletismo (3.000m ou mais) e tradicionalmente os dois países só ganham medalhas nesse nicho. O Quênia teve apenas 2 ouros em Londres porque a Etiópia ganhou 3 ouros. Com a Etiópia levando apenas 1 ouro, esses dois ouros foram para a conta do Quênia, que ainda recuperou o ouro da maratona masculina que havia perdido para Uganda.

Já o caso espanhol foi capitaneado pela canoagem, que levou 3 ouros no Rio 2016 após só conseguir 2 pratas e 1 bronze em Londres. Alias, curiosamente os dois esportes que trouxeram ouro para a Espanha em 2012, vela e taekwondo, sequer trouxeram ouro em 2016. Alias, a vela espanhola sequer medalhou após a última regata emocionante da 49er FX. Espero uma leve diminuição desses 6 ouros para Tóquio 2020.

Obs: para quem não ligou o nome à classe, foi na 49er FX que Martine Grael e Kahena Kunze conquistaram o ouro brasileiro na vela.

20160808_123107Já o caso brasileiro é facilmente explicável: efeito sede. É verdade que no número total de medalhas pouco sentimos o efeito sede. As duas medalhas a mais do que Londres, apesar de ser o nosso recorde olímpico, apenas mostram uma evolução natural que o esporte brasileiro teve após esses anos de maior investimento.

Porém, olhando os números das últimas sedes olímpicas, vê-se que o número de medalhas totais não foi tão afetado pelo efeito-sede. Mesmo os países que numericamente cresceram bastante em total de medalhas, percentualmente não foi uma quantidade tão considerável. No máximo, existe o caso da Austrália que teve um crescimento razoável graças à natação.

A estatística na qual o efeito-sede realmente fez diferença é no número de ouros. A Austrália quase dobrou de 9 para 16, a Grécia aumentou 50% para um recorde de 6, que era inimaginável pelo nível esportivo grego. A China conseguiu absurdas 51, que nem os EUA igualaram desde 1988. Por fim, a Grã-Bretanha pulou de 19 para 29.

20160812_114213Nesse ponto o Brasil não decepcionou. Foram 7 ouros, mais do que o dobro dos 3 que obtivemos em Londres e 2 a mais do que nosso antigo recorde de 5 ouros em Atenas; este último um ponto totalmente fora da curva que, estatisticamente, fora apenas uma compensação pelo também ponto fora da curva de sair zerado de Sydney.

O melhor desses 7 ouros é que foram 7 ouros em 7 esportes diferentes. Mesmo que haja rigidez e se coloque vôlei de quadra e praia no mesmo esporte, foram 6 modalidades diferentes que conquistaram o ouro. Essa é uma diversidade que é muito difícil de ser igualada. Normalmente as potências olímpicas apenas dominam 2 ou 3 esportes e se viram no resto catando uma medalha aqui e outra lá.

Apenas EUA, Grã-Bretanha, China, Russia, Alemanha e França obtiveram medalhas de ouro em um maior número de modalidades do que o Brasil. Estamos em boa companhia?

20160807_112134Sinceramente não acredito que esses 7 ouros se repitam ou sejam superados tão cedo. O que ocorreu aqui na Rio 2016 para o Brasil não é normal: nossas 5 principais modalidades acertaram ao menos um ouro na mesma edição dos Jogos Olímpicos. Temos muita tradição no futebol, no vôlei, no vôlei de praia e na vela; também já somos respeitados como tradicionais no judô. Mas nunca essas 5 modalidades medalharam juntas e dificilmente isso ocorrerá de novo nas próximas edições.

Por isso acho difícil esse recorde de 7 ser batido. A única chance que vejo é o judô brasileiro incorporar o Japão em alguma edição e sozinho angariar 3 ou 4 ouros; aí talvez esse recorde seja igualado ou superado. Mas isso é muito improvável.

Outro fato que mostra o ótimo desempenho do Brasil é que dessa vez tivemos um desempenho quase linear entre as 3 medalhas: foram 7 ouros, 6 pratas e 6 bronzes. Quem conhece nossa história olímpica sabe que sempre tivemos uma tendência a ganhar bem mais bronzes do que pratas e ouros. Por isso ainda havia galhofeiros que nos apelidavam de “Bronzil”.

20160807_182839Alias, aproveitando o gancho do “Bronzil” e trazendo a coluna para a discussão dos países do continente americano, quem levou o “título” de rei do bronze na Rio 2016 foi o Canadá de forma indubitável.

O Canadá conquistou apenas 4 ouros e por isso ficou em 20º no quadro por ouros; mas foram nada menos do que 15 bronzes, o que representa 68% das 22 medalhas conquistadas. A quantidade de bronze foi tão grande que no quadro de total de medalhas o Canadá pula de 20º para o 10º lugar.

Só dentro do continente americano, se pelo quadro tradicional o Canadá ficou em 5º, atrás de Brasil, Cuba e Jamaica; pelo total de medalhas eles catapultam-se para a 2ª posição, só atrás dos inatingíveis Estados Unidos.

O mais interessante é que já é a 2ª vez consecutiva que isso ocorre com o Canadá. Em Londres foram apenas 1 mísero ouro, 5 pratas e 12 bronzes. Porém há uma grande diferença entre os dois resultados.

Se em Londres os bronzes foram pulverizados em 9 esportes, mostrando uma bela versatilidade canadense, algo que também costuma ocorrer com o Brasil; em 2016, 8 dos 15 bronzes foram concentrados na natação e no atletismo, tendo os outros 7 sido obtidos em outros 5 esportes.

20160806_155307Por que isso? O Canadá é próximo dos Estados Unidos e até por isso muitos canadenses se aproveitam do excelente sistema esportivo universitário americano. E onde que dentro dos Jogos Olímpicos esse circuito universitário é mais forte? Exatamente na natação e no atletismo.

Como parece estar surgindo uma boa geração canadense nesses dois esportes, isso explica os oito bronze e promete resultados ainda melhores em Tóquio 2020. Andre de Grassi tem tudo para dominar os 200m com a provável aposentadoria de Bolt e sua ida para a famosa Universidade do Sul da Califórnia. Penny Olesiak, já medalhista de ouro na piscina do Parque Aquático do Rio ainda disputa torneios junior e também deve ir para alguma universidade americana. Resta saber até que ponto eles conseguirão furar o “bloqueio” americano para o ouro nesses dois esportes.

Afinal, os canadenses se aproveitam do circuito universitário americano, mas ele foi montado para projetar os Estados Unidos, não o Canadá. Isso explica porque em 6 desses 8 bronzes no atletismo e natação, um americano ficou na frente do canadense.

Provavelmente o Canadá desalojará Brasil e Cuba do posto de 2ª força das Américas em 2020 e, quiçá em 2024, mesmo investindo bem menos que o Brasil. Para esse ponto, a relação muito próxima entre Canadá e os Estados Unidos faz com que o Canadá possa investir menos para alcançar os mesmos resultados.

20160818_172136A história preocupante do continente é Cuba. Já era sabido que Cuba teria forte queda de rendimento a partir do momento que acabou a ajuda da União Soviética e que o país se abrisse ao capitalismo, mas a queda tem sido extremamente cruel.

Antigamente Cuba, além de ser a maior potência do boxe olímpico e um país tradicional de luta olímpica e judô, era respeitado mundialmente em uma miríade de esportes como atletismo, canoagem, vôlei, tiro, levantamento de peso, entre outros. Hoje, cada vez mais, Cuba está se tornando mais um daqueles países de nicho.

Se em 2004, Cuba ganhou ouros em 4 esportes e ainda medalhou em outros 5; em 2012, Cuba só ganhou ouro no boxe e na luta olímpica. Fora esses dois nichos, apenas uma prata com Idalis Ortiz no judô e um bronze com Yarisley Silva no atletismo.

O judô de Cuba, que antigamente tinha 10 ou 12 atletas de ponta, hoje só tem Idalis Ortiz e Dayaris Mestre como atletas de ponta no judô e não é mais uma escola respeitada como era há 4 ou 8 anos. O atletismo cubano, que por muito tempo teve vários nomes, entre eles o grande Javier Sotomayor, hoje vive só de Yarisley Silva e Denia Caballero.

O vôlei cubano, ao menos enquanto não voltar a aceitar aqueles que jogam no exterior, continuará a ser apenas um coadjuvante, que sequer consegue a classificação no outrora tricampeão olímpico vôlei feminino.

20160819_210215Assim, cada vez mais Cuba se fecha no seu nicho do boxe e o que vier do boxe define a sorte cubana nos Jogos Olímpicos como um todo. A luta olímpica ainda contou com o tri olímpico do invencível Mijain Lopes, que deve ter se despedido dos Jogos Olímpicos, e da jovem promessa Ismael Borerro. Talvez conte ainda com Yarisley e Denia, mas a renovação é cada vez menor e os resultados mundiais fora do boxe cada vez mais minguante. Dependendo de como o Brasil sobreviver à ressaca após ser sede, não restará a Cuba outra opção que não se contentar com o posto de 4ª força do continente.

E a Jamaica, que com 6 ouros ficou a frente de Cuba e Canada novamente? Essa podemos resumir em 4 letras: Bolt. A Jamaica tem uma equipe fantástica de atletismo, onde conquistou 76 de suas 77 medalhas olímpicas na história, mas sem Bolt na equipe dificilmente eles ultrapassarão a marca de 3 ouros na mesma edição e provavelmente ficarão atrás de Brasil, Cuba e Canadá.

Vide o quadro de medalhas dos pan-americanos que não deixam dúvidas sobre o abismo que existe entre esses 3 países e a Jamaica.

A força emergente do continente e que está próxima de se consolidar como a 5ª força do continente é a Colômbia. Ela, que até 2011 só tinha 11 medalhas em toda sua história olímpica, passou a investir forte nos últimos 10 anos e os resultados começaram a aparecer.

Só em 2012 foram 8 medalhas, sendo 3 de prata e apenas 1 de ouro, a 2ª de toda sua história. Agora em 2016, as mesmas 8 medalhas foram conquistadas; sendo 3 de ouro, mais do que todo o resto da história do país nos Jogos Olímpicos.

20160811_182801Com tradição especialmente em ciclismo e levantamento de peso, com o investimento feito o país poderá disputar várias medalhas nesses esportes que são recheadas delas. O levantamento de peso distribui 15 ouros e o ciclismo, 18. Ou seja, há bastante terreno para evoluir. Além desses dois nichos, a Colômbia está tendo bons resultados no atletismo, no boxe e na ginástica artística, além da já veterana Yuri Alvear no judô.

Em Pan Americanos, a Colômbia já saltou de 14 ouros no Rio 2007, para 24 em Guadalajara 2011 e 27 em Toronto 2015. Por mais que ainda esteja um passo abaixo de Brasil, Cuba e Canadá em Pans, a Colômbia aos poucos se consolida na disputa pelo posto de 5ª força com o México e em Jogos Olímpicos, acertando o ciclismo e o levantamento de peso, pode até fazer frente aos 3 primeiros países citados em uma participação muito boa.

Por fim, o outro país destaque do continente foi a Argentina, que igualou seu recorde de 3 ouros de Londres 1948. Porém foi um desempenho excepcional e não há sinais de ter continuidade. Para começar, a Argentina só conquistou 4 medalhas. Ou seja, 75% das medalhas argentinas foram de ouro e isso não é normal para nenhum país, ainda mais que a 4ª medalha ainda foi de prata.

Os 3 ouros foram mais fruto do acaso do que de um trabalho de médio ou longo prazo. A 1ª foi de Paula Pareto no judô, um daqueles casos de cometa que aparecem para nunca mais o país fazer algo no esporte. O 2º foi da vela, na única grande zebra do esporte na Rio 2016. Nunca antes a dupla da Nacra 17 tinha sequer obtido um resultado mundial digno de nota. O 3º ouro, da equipe masculina de hóquei na grama, foi outra zebra enorme. Las leonas do time feminino da Argentina até são respeitadas mundialmente, mas os homens não tem nenhuma tradição mundial. É um time emergente que, empurrado pela louca torcida argentina que compareceu em peso ao Rio de Janeiro, chegou onde ninguém imaginaria.

Para solidificar o que venho dizendo, a Argentina não sai da 7ª ou 8ª posição em Pans desde o Rio 2007.

Amanhã, na última parte desta série a situação da Ucrânia merecerá algumas linhas, se comentará sobre os países de brilho efêmero em 2012 e 2016 e a série será encerrada com a lista de países que conseguiram sua primeira medalha de ouro na Rio 2016.

Imagens: Ouro de Tolo

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