Fim de semana passada estava vendo mais uma vez a bela reportagem com Reginaldo Leme e produzida pelo brilhante Fred Sabino sobre a rivalidade Ayrton Senna e Nelson Piquet. Talvez uma das maiores rivalidades dos esportes em todos os tempos.

Você que hoje sofre com F1 e com os Felipes talvez não saiba, mas teve sim um tempo em que o Brasil era dominante na categoria. Tínhamos dois pilotos geniais, geniosos e que costumeiramente brigavam por vitórias – às vezes quase literalmente. Claro que brinquei e que sei que mesmo quem não acompanhou a época conhece de cor e salteado esse dois pilotos, mas só quem viu a época deles pode ter a noção de como eram tempos felizes.

A vida foi cruel com Ayrton Senna. Deu todas as glórias imagináveis profissionais a um jovem rapaz, mas lhe deu um destino trágico ainda nessa juventude. Parece que era uma espécie de preço a se pagar por tanto sucesso e vitórias.

Senna-Piquet-Canadá-1990O tempo foi cruel com Nelson Piquet. A morte trágica do compatriota mais seu jeito de ser acabam diminuindo de forma injusta a importância de Nelson para o esporte brasileiro.

Eram brilhantes, eram carismáticos, arrojados, corajosos, vitoriosos e o mais importante. Brasileiros. Sinceramente não sou capaz de dizer quem era o melhor e ninguém é, apenas por predileções pessoais ou impacto da forma que Senna morreu. Seria capaz de dizer que os dois nunca se enfrentaram de forma igual. Os dois no auge.

Piquet_winner_brasilO auge de Piquet foi até 1987 quando conseguiu seu tricampeonato mundial pela Williams. Antes disso Nelson foi bicampeão pela Brabham, uma equipe apenas média e isso foi um grande feito. Seu tri veio na maior escuderia: poderia ter ganho 1986, mas a guerra interna na equipe mais a traição de um pneu entregaram o título a Alain Prost.

O auge de Senna começou em 1988, junto com a decadência de Nelson. Piquet já estava de saco cheio do circuito, preferiu ganhar dinheiro em vez de títulos em uma Lotus com carro inferior – e já sofrera o grave acidente em Ímola que quase lhe custou a vida e diminuiu sua capacidade de desempenho.

Ayrton chegou a McLaren que naquele ano em parceria com a Honda se transformou na equipe dominante e ali começou seus duelos inesquecíveis com Prost.

Mesmo assim Piquet conseguiu algumas vitórias, como Ayrton conseguiu antes de 1988 mostrando a genialidade dos dois. Senna venceu mais e teve mais poles, mas também teve adversários menos poderosos que Piquet. Ayrton era mais rápido, Nelson mais cerebral. Ayrton mais obcecado com o trabalho, Nelson bon vivant. Senna tirava de um carro tudo o que ele podia, Piquet ajeitava um carro como ninguém.

Ayrton era capaz de vitórias épicas como apenas com a sexta marcha no Brasil, Nelson da maior ultrapassagem da história da F1 sobre o próprio Ayrton na Hungria. Senna botou Prost para fora de uma corrida em 90 e assim foi campeão. Piquet enfiou a porrada em Eliseo Salazar, mesmo esse com capacete, após o chileno lhe tirar de uma corrida.

Piquet e Senna se odiavam. Senna provocou Piquet e esse disse que Senna não gostava de mulher. Nelson e Ayrton se respeitavam. Nelson defendeu Ayrton em uma reunião de pilotos com o poderoso Jean Marie Balestre e Ayrton fez vídeo desejando pronta recuperação a Nelson quando esse se acidentou em Indianápolis.

Nelson Piquet e Ayrton Senna. Orgulhos de um país com tão poucos motivos para orgulho.

Tenho quase certeza que hoje não seriam amigos, mas em todas as entrevistas que dessem juntos iriam rir muito dessa época. O tempo é capaz de nos distanciar de polêmicas e ver as coisas com mais razão. Eles veriam e está na hora de vermos também.

sennaimprensaNão existe nenhuma lei que obrigue a ser fã de um e odiar o outro. Não mexo nessa caixa de vespeiros. Nem há necessidades.

Até porque com eles nossos domingos eram mais felizes.

E quem dava a ferroada éramos nós.

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Facebook – Aloisio Villar

Imagens: Arquivo Ouro de Tolo

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One Reply to “Senna, Piquet e o Vespeiro”

  1. Tenho Senna como meu grande ídolo no esporte, e concordo que essa rivalidade hoje não faz o menor sentido, se a maioria coloca Senna como pelo menos um dos três maiores da história (seja pela avaliação de sua brilhante carreira ou pelo impacto de seu trágico falecimento), isso não diminui em nada a carreira igualmente brilhante do também tricampeão mundial Nélson Piquet.

    Engraçado que assisti sexta-feira o bom documentário “Ayrton: Retratos e Memórias” no Canal Brasil, agora dividido em capítulos, e passou justamente o da rivalidade Senna x Piquet, com todos lamentando que eles nunca tenham se acertado. Realmente, uma pena…

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