Muita gente boa (e o Pedro Migão também) gosta de relacionar os fatos que ocorreram em 2016 com as manifestações de 2013. Dizem que ali foi gerado um “ovo de serpente” e que essas manifestações de 2013 fizeram do Brasil um país reacionário e de direita.

Concordo em algumas coisas com essas opiniões, discordo da maior parte.

Para quem não se lembra (é evidente que todos se lembram), em junho de 2013, poucos dias antes da Copa das Confederações, boa parte do povo foi para as ruas em um ato surpreendente já que nosso povo sempre foi conhecido por ser preguiçoso e subserviente quando a questão é lutar por seu país. O máximo que o brasileiro se acostumou em luta patriótica foi lutar contra o sono domingo de manhã para ver Ayrton Senna correr.

Mas, sim, o povo decidiu protestar e foi para as ruas inicialmente lutar contra o aumento das passagens em 20 centavos. A coisa foi ganhando proporção até que milhões se juntaram a causa. Assustaram a mídia e a classe política as imagem do povo “tomando” o congresso e o palácio do planalto. As mesmas correram o mundo.

Assustaram os cartolas do futebol, que chegaram a cogitar tirar a Copa das Confederações daqui. Passou quando os “black blocs” passaram a agir e tornar as manifestações violentas.

Algumas coisas de 2016 realmente começaram em 2013. Graças às manifestações, o povo em geral aprendeu o caminho da rua e que pode ir lá fazer barulho sempre que achar necessário (mesmo que ele não ache, mas alguém o induz a achar), 2013 fez parte da população começar a perceber que as coisas não iam tão bem no país quanto imaginavam. Aqui no Rio mesmo existia quase uma unanimidade em relação aos governos federal, estadual e municipal muito em virtude da euforia da Copa, Olimpíadas e implementação das UPPs.

A última relação que faço entre 2013 e 2016 é o surgimento de movimentos como o “MBL” e seu líder Kim Kataguiry, uma espécie de Diogo Mainardi versão Malhação. Gente que de alguma espécie liderou essas manifestações e ganhou voz.

Aí para mim acabam as relações.

manifestaçãoNão acho que Dilma caiu devido a 2013. O principal motivo é que ela foi reeleita em 2014. Não só ela como vários dos políticos alvos dos protestos em 2013 foram reeleitos. Se 2013 tivesse realmente transformado o povo, nenhum deles voltaria.

Dilma caiu por dois motivos principais. Sua falta de habilidade política e a gravíssima crise financeira que impôs ao país. Daí sim podemos tirar o “ovo da serpente”. O Brasil sempre foi corrupto, desde 1500, quando Pero Vaz de Caminha em sua famosa carta ao rei de Portugal pediu emprego para um sobrinho. Nunca é demais lembrar que Portugal mandou para povoar o país o que tinha de pior lá, então a corrupção como o futebol, carnaval e café são produtos genuinamente nacionais.

Lula sobreviveu a situação pior de corrupção porque o Brasil crescia, Dilma caiu porque o brasileiro vê as acusações de corrupção e na reportagem seguinte vê aumento de desemprego e da inflação. Velhos pesadelos voltam assim como aquele comichão que dá em pessoas de direita sempre que um governo popular comete erros. Foi a junção da fome com a vontade de comer. O golpe só foi dado porque o governo deu brecha para que ele fosse dado.

Não sou cego como boa parte dos petistas. Ninguém derruba governo popular, dificilmente dão golpe em governo bom. Se a Dilma caiu foi por erros dela, não pelas manifestações de 2013.

E essa guinada para a direita que o país deu também não tem nada com as manifestações. O mundo tem dado essa guinada. Só vermos gente como Donald Trump podendo ser eleito presidente dos Estados Unidos e a mudança de governo na Argentina. A verdade é que a esquerda fracassa em relação à classe média, que é quem determina o rumo das coisas. Os ricos não querem que nada mude e os pobres se preocupam mais em ter o que comer do que com ideologia. Quem perde a classe média perde o comando.

Culpar as manifestações é um erro, é querer tirar do povo um direito legítimo, o de protestar quando acha que as coisas estão erradas. Como são legítimas as manifestações de agora contra o governo Michel Temer e foram as contra Dilma ano passado e em março. Protesto é um direito dado pela democracia, tendo ou não razão.

Não importa pelo que se luta.

O que importa é que ela exista.

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One Reply to “2013 e 2016”

  1. Por aí mesmo. Botar a culpa da queda de Dilma nas manifestações de 13 é coisa de petista injuriado. Se o presidente na época fosse do PSDB, os protestos seriam maiores ainda, porque além dos estudantes e anarquistas, os movimentos sociais aliados ao PT se juntariam em peso. O que pode ter ajudado os Carna-Coxinhas, de 2015 e 16, foi o know-how que os Movimentos de 2013 elaboraram, que é organizar e se mobilizar pelas redes sociais. Já ideologicamente, foram inflexões totalmente opostas. Aliás, Dilma e o PT perderam uma grande chance de enfrentar as elites, SE QUISESSEM, indo no apoio dos protestos e realizando as reformas que deveriam ter feito. Em vez disso, se solidarizou com as repressões estaduais e adorou quando houve a desmobilização.

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