Estamos quase fechando essa viagem pelos cadernos de 2016. Depois de fantasias, nada mais natural que exploremos o quesito que completa a base da plástica de uma escola: Alegorias e Adereços.

Este também é um quesito dividido em dois subquesitos: concepção e realização, cada um variando de 4.5 a 5 pontos.

Módulo 1

Julgador: João Niemeyer

Notas

  • Estácio – 9.9 (concepção 4.9)
  • União da Ilha – 9.9 (realização 4.9)
  • Beija-Flor – 10
  • Grande Rio – 10
  • Mocidade – 9.9 (realização 4.9)
  • Unidos da Tijuca – 10
  • Vila Isabel – 10
  • Salgueiro – 9.9 (realização 4.9)
  • São Clemente – 9.9 (realização 4.9)
  • Portela – 10
  • Imperatriz – 10
  • Mangueira – 10

A se destacar que Niemeyer só deu 10 e 9.9. É verdade que não tivemos desastres no quesito, mas talvez ainda coubesse um 9.8 ou até 9.7, especialmente pela comparação.

20160209_052514Outra nota a se relatar é a da Mangueira. Como o 10 não é justificado, não temos maiores detalhes, mas posso relatar que o carro do teatro acendeu segundos antes de passar no módulo, mas apagou de novo com o carro ainda parado no módulo.

Os cinco décimos tirados foram por problemas pontuais pertinentes e justificados. Diferente do ano passado, quando Niemeyer (arquiteto) acentuou bastante a volumetria do conjunto alegórico, esse ano ele apenas descontou a Estácio por tal motivo nos carros 3 e 4 pois segundo o julgador “esse conjunto não funcionou. Faltou escala, muito acanhado para o tamanho do espetáculo.”

Fora isso não há muito o que se falar deste caderno, nem para o bem nem para o mal.

Módulo 2

Julgador: Madson Oliveira

Notas

  • Estácio – 9.7 (concepção 4.9 e realização 4.8)
  • União da Ilha – 9.8 (realização 4.8)
  • Beija-Flor – 10
  • Grande Rio – 9.9 (realização 4.9)
  • Mocidade – 9.6 (concepção 4.9 e realização 4.7)
  • Unidos da Tijuca – 10
  • Vila Isabel – 9.9 (realização 4.9)
  • Salgueiro – 9.9 (realização 4.9)
  • São Clemente – 9.9 (realização 4.9)
  • Portela – 10
  • Imperatriz – 10
  • Mangueira – 10

Diferentemente do ano passado, Madson não explicou nas considerações finais qual o critério de distribuição das notas.

A justificativa de concepção da Estácio me soou forçada: “porque as fantasias da alegoria 3 tinham fraco impacto visual”.

Já na justificativa da Ilha vemos a importância que as escolas tem que dar ao que elas escrevem no Livro abre-alas. A Ilha acabou perdendo décimo por pura bobeira em falta de informação para o julgador.

20160207_232412Madson tirou ponto de dois componentes na alegoria 3 que estavam em cima das pranchas de surf sem fantasias. Ocorre que, se bem me lembro desta alegoria, os dois componentes eram Rico de Souza e Glenda Kozlowski, duas figuras emblemáticas do surf e do bodyboarding brasileiros. Não deixam de ser celebridades convidados para compor a alegoria que tudo tem a ver com a vida deles. Isso é bem comum no carnaval e os julgadores tem por praxe relevar a vestimenta dos mesmos, já que só pelo fato deles estarem ali já está dentro do enredo.

Só que a Ilha simplesmente não mencionou a existência deles no Livro Abre-alas! O julgador também não tem a obrigação de saber que aqueles eram Rico e Glenda, mesmo a Glenda sendo onipresente nos programas esportivos da Globo. Não dá para culpar o julgador.

De resto, Madson despontuou um sem fim de detalhes, mostrando ao mesmo tempo que estava atento, mas que também ao se preocupar demais com os detalhes, esqueceu do todo.

Suas justificativas foram um sem fim de “teve um saco transparente aparecendo”, “o destaque central estava encobrindo a escultura”, “a sacada trazia componentes com roupas comuns”, “foi impossível visualizar a semi-destaque” entre outros, mas não houve qualquer crítica ou elogio à volumetria, composição artística das alegorias etc.

20160208_020914Modulo 3

Julgador: Walber Ângelo de Freitas

Notas

  • Estácio – 9.7 (concepção 4.9 e realização 4.8)
  • União da Ilha – 9.8 (realização 4.8)
  • Beija-Flor – 10
  • Grande Rio – 9.8 (realização 4.8)
  • Mocidade – 9.8 (realização 4.8)
  • Unidos da Tijuca – 10
  • Vila Isabel – 9.8
  • Salgueiro – 9.8 (concepção 4.9 e realização 4.9)
  • São Clemente – 9.9 (realização 4.9)
  • Portela – 10
  • Imperatriz – 10
  • Mangueira – 10

Para quem não lembra, Walber foi quem esqueceu de escrever a nota da Unidos da Tijuca ano passado, dando um dez que não seria dez para a escola (ele escreveu justificativa) e invertendo posições entre Portela e Unidos da Tijuca. Ainda sim, fora isso, fizera um bom julgamento ano passado.

Esse ano, provavelmente com o intuito de não repetir o lapso do ano passado, Walber também escreveu as notas ao fim das justificativas.

Quanto as justificativas, elas foram mais uma vez pertinentes e precisas de forma geral, com grande atenção aos acabamentos. Mas tem algumas que me chamaram a atenção.

Primeiro, a da São Clemente: “Boas concepções definiram um conjunto alegórico de fácil entendimento. A realização foi comprometida por uma falha no projeto luminotecnico da alegoria 02, que criou uma ruptura explícita na valorização do conjunto alegórico, no contexto do desfile.” Que falha foi essa? Que ruptura explícita ela causou? O que ela prejudicou ao conjunto do desfile? O julgador não responde nenhuma das três perguntas, ficou extremamente genérica a justificativa. Aí é impossível não sentir aquela sensação do “tirei ponto porque quis”.

Quanto à Vila, entre defeitos de acabamento mais explícito, ele encerrou dizendo que “vale registrar que os revestimentos da alegoria 06, Uma Festa Popular, não causaram o impacto visual que a proposta permite, e que se espera para o fechamento do desfile”. O fechamento do desfile precisa ter um “Gran Finale”? Onde isso está escrito? Se é necessário, o julgador acha que a Portela apresentou essa “Gran-finale”? Então salve a nossa majestosa Velha Guarda Show que salvou a alegoria destoante do espetacular conjunto!

Por fim, quero ressaltar a justificativa do Salgueiro. Além do abre-alas apagado e de outras pequenas falhas de execução, Walber descontou a concepção de Lage para as alegorias 3, 4 e 5.  Segundo ele, as três alegorias tiveram a mesma concepção de “caixa” pesada visualmente e com os mesmos fechamentos posteriores, o que denota uma falta de criatividade.

Mais uma vez deixando minha opinião influenciar esta análise, senti o mesmo defeito acima em 2 ou 3 alegorias da Imperatriz, mas o julgador só comentou o Salgueiro. E o Migão, na hora do desfile, reclamou da mesma coisa no carro mangueirense do Teatro Opinião, com alguma razão no meu entendimento.

20160209_045609Modulo 4

Julgadora: Rebeca Kaiser

Notas

  • Estácio – 9.8 (concepção 4.9 e realização 4.9)
  • União da Ilha – 9.7 (concepção 4.9 e realização 4.8)
  • Beija-Flor – 10
  • Grande Rio – 9.9 (realização 4.9)
  • Mocidade – 9.8 (realização 4.8)
  • Unidos da Tijuca – 10
  • Vila Isabel – 10
  • Salgueiro – 9.9 (realização 4.9)
  • São Clemente – 9.9 (realização 4.9)
  • Portela – 10
  • Imperatriz – 9.9 (realização 4.9)
  • Mangueira – 10

Kaiser também justificou bem seus descontos e de forma concisa. Vou aqui passar por algumas justificativas que me chamaram a atenção.

Para começar a Grande Rio. Aqui o interessante que a Grande Rio tirou 9.9 no módulo 1 e 9.8 nos módulos 2 e 3 (que ficam no mesmo lado direito do módulo 04 avenida; só o módulo 1 fica a esquerda), basicamente pelos mesmos motivos: problemas de acabamento na alegoria 02, má realização  do tripé 02 e pelo piso do platô da alegoria 06 estar se soltando.

Já Rebeca ignorou tudo e justificou seu desconto porque a baleia do carro 04 não funcionou bem, ficando enrugada e com estrutura aparente.

Já na Ilha, foram tantos problemas de realização encontrados que a perda de um décimo a mais já estaria justificada. Segundo a julgadora foram 5 erros de realização, longe de serem detalhes. Fios expostos, carro sem luz, volumetria deficiente e cabeças caídas. Bem complicado.

Por fim, ela foi a única a descontar décimo da Imperatriz com a seguinte alegação em realização: “Os carros 4 e 5 apesar de ter uma boa volumetria e materiais bem escolhidos veio com platôs laterais que tapavam a visão de elementos centrais do carro como respectivamente a coroa e o Espirito Santo e oa paineis de LED.” Essa é uma crítica comum dos fãs de carnaval ao estilo “caixote” de Cahê. Interessante notar que Kaiser foi a única a descontar e que, por isso, a nota acabou descartada.

O Salgueiro perdeu o décimo por causa do apagão do abre-alas e a São Clemente perdeu o décimo por causa do apagão do carro 2.

20160208_042254Concluindo o quesito, estranho o fato de nenhum dos julgadores tirar ponto pela falta de pertinência dentro do enredo da escultura do Jorge Perlingeiro na Mocidade (acima).

O Manual é claro ao informar que o julgador deve considerar “a concepção  a adequação das Alegorias e Adereços ao enredo que devem cumprir a função de transmitir as diversas partes do conteúdo do enredo.”

O que o Perlingeiro estava fazendo no enredo da Mocidade, qual a função dele naquele carro? Nenhuma. Logo, isso deveria ser severamente punido, afinal era a principal escultura do carro que chamava muita atenção.

Porem, todos os julgadores descontaram o péssimo acabamento da escultura (que estava um horror completo, especialmente na parte traseira), mas nenhum deles discutiu o papel dele dentro do enredo.

O Livro abre-alas explica que o papel de Perlingeiro é anunciar um país nota 10 em educação e justiça. Porém a alegoria em momento algum tem qualquer elemento alegórico que sequer passe perto de passar tal recado de forma imagética.

De resto um julgamento de alegorias, como sempre, muito rígido a detalhes de execução, despontuando muito mais do que os quesitos de pista, mas ao mesmo tempo sem entrar em maiores debates sobre os conceitos artísticos dos carros.

2 Replies to “Justificando o Injustificável 2016: Alegorias e Adereços”

  1. Nenhum jurado descontou o horroroso carro do milho da tijuca. E ainda reclamam que não gostam de Plotter.

    Acho que o carro apagado da São clemente não deveria ser despontuado, visto que mesmo apagado dava um bom efeito. Já o da Mangueira, todos dizem que o carro estava sobreaquecido e só acendia nos módulos, coisa que é verdade. Sobre o módulo 1, realmente houve o que foi relatado, sorte que o João não quis considerar.

  2. Bom dia!

    Prezado Rafael Raffic:

    Neste quesito eu gosto de comentar, principalmente por ter opiniões muito fortes sobre ele.
    A minha primeira crítica geral é o fato de 75% do júri ser composto de arquitetos. Onde estão os cenógrafos e artistas plásticos? Apenas uma opinião em “defesa” de quem considero estar mais apto a julgar o quesito.

    No mais, falarei (Pouco!) de cada jurado.

    – João Niemeyer
    O sobrinho do grande arquiteto Oscar Niemeyer foi um pouco acanhado no desconto de pontos. Ok, todo o júri foi, mas neste primeiro módulo houve muita benevolência.
    A justificativa para o desconto de pontos das alegorias 3 e 4 é quase ultrajante!

    – Madson Oliveira
    Professor da Escola de Belas Artes (UFRJ), ele optou pelos detalhes quase imperceptíveis a um parecer mais técnico enquanto artista que é. Uma pena! Mesmo assim, achei o julgamento que ele fez da Mocidade bem pertinente. Deveria ter feito o mesmo com as outras Escolas…

    – Walber Ângelo de Freitas
    O também arquiteto, apesar das questões abordadas no texto, mostrou coerência no seu texto. Senti falta de uma despontuação maior.

    – Rebeca Kaiser
    A última arquiteta deste predomínio teve a louvável coragem de descontar pontos da Imperatriz, a qual tem sido relativamente beneficiada por boas notas em um item (A meu ver) quase sofrível desde o início da “era Cahê”.

    No mais, prefiro não me estender sobre cada Escola, pois minha visão é diferente das deles.
    Este aspecto, a visão do júri, é um item delicado e que precisa ser posto em pauta. O entendimento de um desfile pode mudar bastante dependendo de onde se assista ao espetáculo.
    Fica a pergunta: para quem a Escola desfila/prepara seu desfile?

    Não é o caso deste post, então passo por ele!
    No mais, continuarei acompanhando esta série até seu desfecho.

    Atenciosamente
    Fellipe Barroso

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