Não sou muito de assistir futebol internacional, até assisto de vez em quando, mas como se visse um filme. Sem menor participação ou emoção contida nos fatos. Tenho minha simpatia pelo Real Madrid, mas nunca ao ponto de ter meu dia estragado quando perde. Enfim, é quase nulo meu envolvimento com o futebol europeu tão endeusado pela ESPN.

Mas esse ano um campeonato internacional tem me chamado atenção e acredito que de boa parte daqueles que gostam de futebol. O Campeonato Inglês.

A Inglaterra para o futebol está como o dono do motel para seu estabelecimento. Cria toda a situação para os outros se divertirem. Os súditos da rainha criaram o futebol no século XIX e nunca foram bem sucedidos nessa história de fazer mais gols que o adversário numa partida de 90 minutos se transformando em uma espécie de Botafogo da Europa. Ganharam apenas um mundial, em casa e com um gol duvidoso. Nunca foram protagonistas.

Até o começo dos anos 90 seu estilo de jogo era conhecido como o de lançamentos para a área para ver se algum grandalhão fazia o gol. Os campos eram ruins, a torcida, violenta demais, só fazia o futebol inglês virar notícia quando criava alguma confusão. Os famosos e temidos hooligans. Para nós aqui do Brasil o futebol inglês era lembrado pela derrota para a inesquecível seleção brasileira na copa de 70 e a “sapatada” que o Liverpool tomou do Flamengo na final do Mundial de 81.

A coisa começou a mudar nos anos 90 com a criação da “Premier League”. Os ingleses continuam ruins de bola e sem novas conquistas de mundiais, mas muita coisa mudou no âmbito interno. Os hooligans não sumiram, mas começaram a ser combatidos com mais vigor e assim dando uma moralizada nas partidas. Os campos melhoraram muito tornando-se impecáveis e o dinheiro começou a entrar forte. Assim chegaram os craques.

Quem primeiro se aproveitou foi o Manchester United que criou uma dinastia. Com o comando de Sir Alex Ferguson o time deixou de ser mais um da Inglaterra para ser o mais vencedor do país. Com forte dinheiro vindo da Rússia o Chelsea também cresceu seu patamar. Recentemente o Manchester City fez o mesmo.

Esses fatores transformaram o futebol inglês no, talvez, segundo campeonato mais nivelado do mundo. Só deve perder para o brasileiro, mas ganha e muito na qualidade dos times e dos jogadores.

Essa temporada 2015/2016 então vem sendo especial e ela que chama minha atenção.

O Chelsea começou muito mal e aos poucos tenta se encontrar, mas já sem chances de título. O Manchester United tenta encontrar uma identidade desde a saída de Ferguson, briga no máximo por Champions League. Então o City ficou absoluto? Não. Porque o campeonato está mais equilibrado ainda.

Além do Manchester City tem o Arsenal, uma espécie de Internacional inglês, dono eterno da taça do “Agora vai” que tenta agora ir realmente. Mas está difícil. O Inglês, essa temporada, é dominado por duas surpresas. Uma na verdade.

O Tottenham.

O Tottenham é um clube tradicional que venceu duas vezes o campeonato inglês, oito a copa da Inglaterra e se acostumou a ser o primo pobre de Londres. Tem grande rivalidade com o Arsenal e nos últimos anos sempre ficando atrás desse adversário. O Tottenham é o vice líder do momento.

O líder do campeonato eu não chamo de surpresa. Chamo de milagre e nele está toda a graça desse campeonato.

Imaginem um dia no campeonato brasileiro o Náutico chegando na reta final do certame liderando, um campeonato de pontos corridos contra equipes muito mais fortes e ricas. É mais ou menos o que o Leicester faz nesse momento. O clube nunca venceu a primeira divisão, até outro dia estava na segunda, na temporada passada brigou contra o rebaixamento e nesse ano lidera o campeonato com autoridade contra equipes milionárias.

Será campeão? Não sei, mas a humilde equipe do interior da Inglaterra já fez história. Com técnica, extrema garra e amor ao esporte que disputa fez com que todos que gostam de futebol começassem a torcer um pouco por eles. Eu já me pego tentando aos fins de semana ver seus jogos ou descobrir o resultado de suas partidas.

É o pequeno que desafia os gigantes. A história de superação que todos gostamos tanto.

Superação que não só o brioso Leicester, mas todo o futebol inglês passa e que serve de lição e cuidado com o futebol brasileiro. Esses grandes jogos em estádios lotados, campos impecáveis e contando com grandes craques passam todas as semanas em nossas tvs encantando a garotada. Como fazer um menino que assiste um jogão como o recente Arsenal x Tottenham e logo depois tem que ver os reservas do Flamengo x reservas do Bangu a não preferir o futebol lá de fora? Eles souberam se reinventar. Precisamos fazer isso também.

O campeonato para inglês ver pode ser o campeonato das novas gerações de brasileiros.

É a globalização do 7×1.

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5 Replies to “O campeonato para inglês ver”

  1. A questão passa também por uma distribuição mais igualitária das verbas do campeonato. E aquela questão que tudo se encaixa e o escolhido foi o Leicester. É um time que faz da intensidade sua marca registrada. E com toda a justiça vence o campeonato. Podem dizer: Ah, o Chelsea largou mal, os Manchesters cansam de jogar pontos pela janela e o Arsenal… bem, o Arsenal é o Arsenal. Ganha do Leicester duas vezes. E perde do bagunçado Chelsea, o Boring (chato) United, Perde para um ameaçado Swansea em casa. Aí, o Leicester, na sua toada lidera. Com Justiça

  2. Coluna perfeita. Enquanto o brasileiro ainda achar que do jeito que está tá ótimo,os campeonatos no Brasil serão essa porcaria que a gente vê toda quarta e domingo.

  3. Ótimo texto Aloísio. Acho que o a presença de investidores tipo o Roman Abramovich ajuda a explicar o poderio financeiro dos clubes ingleses, mas para mim o principal fator é algo que não existe e não sei um dia existirá no Brasil: A união entre os clubes.

    Lá, os times tiveram, e têm, o pensamento de que todos pensando juntos num campeonato cada vez melhor e mais organizado, todo mundo ganha. E isso passa pelas cotas de tv, com uma distribuição muito mais justa e igualitária, possibilitando a equipes consideradas pequenas ter em seu elenco jogadores de certo renome (o Everton, por exemplo, tem o Mirallas e o Lukaku da seleção belga, além do argentino Funes Mori). Aqui, os clubes podem organizar uma liga, até já fizeram, mas na primeira oportunidade que um dirigente tem de passar a perna no outro para ter vantagem em algo, ele não perde a chance, seja por uma maior cota de tv, por um jogador que interessa ou por uma taça de bolinhas… E nisso ocorre o fenômeno citado no texto, novas gerações passando a acompanhar e torcer pelos times europeus. O torcedor pode querer que o rival se dane, mas o dirigente tem que entender que quanto mais fortes foram seus adversários, melhor o campeonato. Ou alguém tem dúvida que o sucesso de Leicester e Tottenham não fará os clubes mais tradicionais e poderosos se mexerem como nunca para voltar mais fortes na próxima temporada?

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