Uma noite de lágrimas. Do povo de Pilares pela apresentação irreconhecível mas, infelizmente, esperada da Caprichosos. Do povo de Madureira pelo desfile grandioso e digno das tradições do Império Serrano. Mas sobre eu não posso comentar da mesma maneira que os demais. Por ter desfilado, por ter sido o único ao qual assisti na TV, gravado, depois, e por ser imperiano o e estar muito feliz e confiante. Embora eu saiba muito bem que a quarta-feira sempre pode reservar surpresas. E que, de dentro da escola, eu tenha sentido que a evolução foi falha. Só espero que aquela ladainha de que o Império passou com chão mas “pecou na plástica” não se repita. Sem medo de errar digo que alegorias e fantasias merecem nota máxima esse ano. Nenhum carro apagou, nenhum estava mal acabado, as fantasias estavam luxuosas quando precisavam ser e simples quando precisavam ser. Simples, não pobres.

Posso afirmar ainda que nenhuma escola passou perfeita, sem algum quesito em que deva perder pontos.

A começar pela Paraíso do Tuiuti, a melhor das que vi nos dois dias (estou excluindo o Império da avaliação). Os problemas de iluminação prejudicaram menos o abre-alas e mais o segundo carro, que dependia muito da luz para ter o efeito desejado. Uma alegoria que reputo a mais criativa do ano na Série A, com 230 fitas com espelhos simulando as gotas de chuva no sertão. Jack Vasconcelos foi muito feliz no conjunto alegórico e de fantasias. Samba gostoso, bateria cheia de suíngue, comissão de frente legal, incrível fantasia do casal e um enredo muito bem contado.

Logo atrás vem a Unidos de Padre Miguel. Sempre aguardada nos últimos anos, consolidada entre as favoritas mas sem conseguir dar o passo à frente. Fiquei com a sensação de que faltou aquele algo mais que a escola apresentou no ano passado (para mim teria sido a campeã com sobras). A abertura foi menos impactante. As alegorias, todas bem acabadas, eram menos surpreendentes. O enredo, bem humorado, foi muito bem transmitido. O samba funcionou menos do que eu imaginava e a bateria não achei que estava entre as de maior destaque da noite.

Sei que a escola não ficará muito bem colocada pela falta de uma alegoria. Mas gostei bastante da apresentação da Curicica. Belo trabalho do Marcus Ferreira, enredo interessantíssimo, soluções criativas. Uma pena a quebra de uma alegoria. Mas a Curicica recuperou-se com louvor do desfile fraco de 2015.

A Cubango vai ficar à frente da Curicica, sem dúvida. Mas no meu gosto pessoal foi um desfile menos prazeroso de se assistir. Embora com cores leves e uma bateria cheia de bossas, a verde e branca de Niterói sofreu com o desenvolvimento de um enredo confuso e batido. Fiquei na dúvida se o elemento cenográfico da comissão de frente poderia ou não representar uma violação do regulamento do Acesso, que não permite os trambolhões do Especial. Não teve a pegada da Viradouro, a alegria da Porto da Pedra, o requinte da Tuiuti, o bom desenvolvimento da UPM e a emoção do Império. Acho que dificilmente fica entre as quatro primeiras na classificação final.

A Inocentes de Belford Roxo fez uma apresentação de altos e baixos. Contou o enredo de forma correta, embora eu cada vez goste menos desse tipo de homenagem, em que são enfileiradas referências à vida e obra do homenageado sem um fio condutor com algum diferencial. Alegorias também com altos e baixos. Destaque para o terceiro carro, das temáticas afro na obra de Cacá Diégues. Fica na meiúca.

Por último o momento triste da noite. Se o rebaixamento vier, o que acredito que aconteça, será a segunda queda da Caprichosos para a Intendente. A escola parecia ter se reencontrado no ano passado, quando foi uma das surpresas positivas. Andou várias casas para trás no tabuleiro do carnaval. À exceção da bateria e da garra de algumas alas nada se salvou na desastrosa apresentação da azul e branca. A cereja podre do bolo foi estourar o tempo com um contingente visivelmente pequeno, alegorias simplórias e evolução terrível.

Meu palpite é que o título fica entre Império e Tuiuti, com Viradouro por fora. UPM na sequência. Aí, na “meiúca de cima”, Porto da Pedra, Cubango e Império da Tijuca. Já foi metade. Na “meiúca de baixo” Santa Cruz, Inocentes e Renascer. Curicica, uma pena, poderia vir mais acima. Mas acho que fica ali na rabeira com a Alegria. Rocinha e Caprichosos fechando a tabela com Pilares descendo. Vamos ver o que viram os jurados.

Foto: G1