Tudo ia bem. Avenida cheia, não tão cheia ainda como o costume, mas finalmente ganhando cara de carnaval.

Pista cheia de papagaios de pirata. Sinal de que realmente a folia está na porta. Celebridades desfilando, ou ensaiando no caso. Fotógrafos, repórteres, papagaios de pirata: todos se acotovelam por um clique, um momento. A direção da escola se empolga. A escola esta na mídia. Todos querem vê-la.

Ate que ele aparece…

Começa discreto. Só os olhares mais atentos e treinados percebem. Com o tempo vai aumentando, chamando atenção e criando constrangimento, burburinho entre todos. As pessoas se dividem entre aquelas que foram ver as celebridades e só focam nelas e aquelas que gostam realmente de carnaval e só tem olhos para aquilo que cresce. Quando a escola percebe já é tarde e ele vira manchete, dividindo as atenções com as celebridades.

Falo do buraco.

Não. Não é buraco de celulite na bunda da celebridade – como parece interessar à maioria da imprensa, até mesmo a especializada. Não adianta nada ter imprensa de carnaval se ela quase toda repete os erros da grande mídia. Falo do buraco entre as alas.

20130212_011301Isso tudo relatado ocorreu domingo passado com a gloriosa Mocidade Independente de Padre Miguel. Por sorte era apenas um ensaio; não vale nada para a pontuação de carnaval. Mas acende o sinal amarelo quando pensamos que um ensaio é bem mais fácil de conduzir que um desfile com carros alegóricos e que os problemas que criaram o buraco continuarão no desfile.

Para quem não acompanha carnaval, digo que um buraco é uma das piores coisas que podem ocorrer em um desfile. Um carnaval ganho se acaba assim. A própria Mocidade perdeu em 1999 tomando um 7,5 em Evolução por causa disso. Em tempos de boa sonoridade na Sapucaí e assim ser cada vez mais raro sambas atravessarem, os buracos e as quebras de alegorias são os momentos onde tudo pode ruir.

Em alguns momentos buraco rápido é tolerado, como na entrada da bateria no recuo, em outro existe um espaçamento como para o bailado do casal de mestre sala e porta bandeira. Mas não como ocorreu domingo.

O espaçamento (o caso ocorreu na frente do casal) foi de mais de um setor da Sapucaí; foi gigantesco. A ala da frente foi embora sem um diretor de Harmonia aparecer para segurar e asseguro. Dois nomes, sem querer, foram culpados.

Anitta EgoAnitta e Claudia Leitte.

As duas celebridades estavam lá chamando toda a atenção que citei acima. A atenção da imprensa, público e escola foi toda para cima das duas. Dos dois primeiros é natural, mas a escola não pode cair nesse erro ate porque elas estarão no desfile.

Esqueceram o restante da escola, esqueceram que quando tem celebridades (não sei porquê celebridade tem que ensaiar, só atrapalha) deve existir um esquema especial para não atrapalhar o andamento do desfile. Celebridades sempre existiram, sempre deram trabalho e as escolas estão cansadas de saber. Aliás, a maior celebridade tem que ser sempre a escola de samba. A maioria desses artistas que um dia causaram frisson na avenida sumiu e as agremiações permaneceram.

Ou alguém se lembra da Tiazinha na Tradição? A Tradição pode ter caído, mas ainda existe. Tiazinha hoje não seria destaque nem na Nação Insulana. Mentira, teria vaga lá sim.

Mas tudo tem conserto, Mocidade. Como alguns falaram, Harmonia se conserta. Pior é consertar samba que vai mal, como ocorreu em outros ensaios.

É hora de tapar buracos

Twitter – @aloisiovillar

Facebook Aloisio Villar

Imagens: Carnaval Interativo, Ego e Arquivo Ouro de Tolo

One Reply to “O Buraco”

  1. Bom texto. Pena que os responsáveis pelas harmonias das escolas não percebam o quão mal essas “celebridades” causam.

    Investir 5, 6, 7 milhões de reais e perder por décimos e depois reclamar de jurado é fácil e cômodo. Difícil é ter coerência e coibir esses papagaios.

    Acho que cada um tem que saber seu lugar.

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